"O Tronco".

Acho que pessoa pior que Dona Cibele, só se mandasse fazer. Devia estar por volta de quarenta anos e era bonita. Descendente de portugueses e espanhóis devia ter sido uma jovem muito bonita. Era casada com o coronel Eliezer, que já beirava os sessenta anos. Foi um casamento de conveniência, ela de família rica, porém falida. O pai praticamente a vendeu em troca de promissórias em poder do coronel. Cibele foi castrada desde a puberdade, primeiro porque só poderia se interessar por alguém após o término dos estudos, depois só com alguém de seu nível social. O tempo passou e ela ficou. Já com vinte e oito anos, surgiu a negociata e o coronel se apaixonou por ela. Embora fosse o que ele queria em termos de beleza, não correspondia em nada às aspirações da moça. O coronel era baixinho, barrigudinho, e tinha algum problema na perna, pois coxeava.
Raras vezes foram vistos juntos. Já no começo do casamento, trabalhava na casa um escravo moreno e muito bonito. D. Cibele viu nele o paliativo para sua falta de sorte, porém o homem era fiel ao coronel. Não aceitou o convite até diretos de D. Cibele.
Quando ele pediu autorização ao coronel para se ajuntar com outra escrava, D. Cibele ficou louca de ódio. Sentindo-se rejeitada, chicoteou o jovem e sua namorada. Fez um pandemônio, colocando os dois no “tronco”. O coronel percebeu o que acontecia, pois já desconfiava das atenções que ela dispensava ao escravo. A idéia dela era castigá-lo, mas conservá-lo por perto, com certeza conseguiria dobrar a sua vontade.
O coronel vendeu o casal. D. Cibele, que era nervosa, ficou louca de vez. Para azar  de todos seus empregados,  a perna do coronel piorou, não podia mais andar. Ela assumiu o comando total da fazenda e os lucros aumentaram, ela era boa administradora.
Que ela fazia o coronel sofrer horrores era verdade, quanto à sua morte ninguém podia provar, mas desconfiavam. Sem o coronel que às vezes pedia moderação por parte dela, virou uma megera. Bastava ver alguém bem que já fazia tudo para prejudicar. Os grilhões e o tronco eram usados continuamente. Na região já havia escravos livres, mas ninguém tentava falar ao menos a respeito. Ela comprava sempre escravos, pois devido aos maus tratos perdiam muitos. Quando o administrador não castigava à sua maneira, era colocado no tronco também. Quando saíam do castigo morriam de infecção e febre.




“O Levante”
 
Ela com sua maldade não percebeu que estava sozinha no meio dos negros. No meio da noite acordou. Os negros invadiram seu quarto e a levaram ao tronco. Ela não tinha medo, só raiva. Xingava e prometia vingança a todos. Quando no tronco, viu que não eram seus empregados. Começou a lembrar, eram sim, mas estavam mortos. Realmente pareciam zumbis com as chagas abertas e escorrendo pus. Aí bateu o medo, porque reconheceu todas suas vítimas. Quando alguém parou por ali e soltou os escravos presos viu o pátio e D. Cibele com expressão de horror. Estava marcada com ferro e cortada de chicote. Curiosamente havia sinal de cadeira de rodas, como se o coronel também tivesse participado do castigo da megera. Este local foi abandonado, pois ninguém conseguia dormir, até gritos de horror, palavrões, e outros.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 24/11/2011
Reeditado em 09/12/2011
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