"Talismã"

Nunca vi cara com tanta sorte quanto Everaldo.
Ele tinha carro bom, casa grande e boa, um monte de empregados. Alguma coisa tinha de errado. Traficante? Talvez... Ladrão? Quem sabe... Contrabandista? Provável... No bilhar, o homem era o bicho. No carteado, pôquer, era o famoso quebra bancas. Enfim, o homem era demais. E com mulher? Aí não prestava, cada dia com uma melhor que a outra. 
Eu era piolho sabe? Aquele que está enroscado na justiça. Era o famoso pé de chinelo, mal ganhava para pagar a madeira para os homens. Então rodava sempre. Entre uma cadeia e uma surra por uma bicicleta roubada, cabeça de malandro não tem sossego.
Virava, virava, e lembrava “Everaldo”. Ele descobriu a mina e vai ter que dividir comigo ou não me chamo "Papagaio" (dizem que falo demais). 
Me propus a fazer uma campana. Percebi que ele tinha um chaveiro com um tipo de pedra preta e incrustado de ouro em forma de pingente. Na mesa de carteado, toda hora para tomar a decisão, ele parece que falava com o pingente, a pedra preta. No bilhar era a mesma coisa e o curioso, tinha uma moça na rua, ele olhou para ela e nada aconteceu. Aí ele pegou o pingente, ela praticamente se jogou à seus pés. Pensei: "Matei a charada! É o pingente, ou melhor, o “amuleto” ou “Talismã”.".Quanto mais eu olhava, mais tinha certeza. O desgraçado usa aquele negócio. Preciso só ver como funciona. Se for só estar com ele, ou tem mais alguma coisa para fazer. 
Ele estacionou em uma praça e caminhou sem rumo. De repente entrou em um beco e sumiu. Fiquei desesperado quando vi que não adiantava mais. Voltei para o carro, ele tinha que voltar. Ao me aproximar do veículo, vi-o sentado ao volante.
- Oi, tudo bem? Percebo que você está cuidando de mim, é real?
- Não, é só coincidência.
- Tá bom, o que acha de tomar uma cerveja lá em casa?
Era a minha oportunidade. Aceitei no ato.
Quando chegamos à sua casa vi um pessoal estranho. Falavam em língua que eu não entendia. 
- São estrangeiros, de maior confiança, entende?
- Entendo lógico.
- Vamos para a biblioteca, tenho um vinho muito bom, uísque também se você quiser.
- Ta bom vamos lá.
Na biblioteca sentamos em uma mesa de carvalho, só aquela mesa deveria valer uma fortuna. Percebi que ele colocou o talismã de lado. Comentei:
- Linda jóia.
- Me acompanha há muito tempo, desde o começo.
- Parece que ela te dá sorte?
- Você percebeu? Sem ela eu não seria ninguém. 
- Ela é à bateria? Parece que tem uma luzinha dentro..
- Sim.. É movida à energia.
Enquanto conversávamos, seus empregados foram entrando e se postando ao lado da mesa.
- Aproveitando, e falando sobre o Talismã.. Ele é movido à energia humana.Tenho que abastecê-lo de tempos em tempos. Não preciso nem procurar, as doações vem a mim, como é o seu caso.
Tentei correr, porém foi em vão. Mãos fortes me agarraram e enquanto o safado se deliciava com um uísque doze anos, eu era despedaçado pelos zumbis que colocavam meus órgãos para a pedra se alimentar sugando meus fluídos vitais. Antes de perder a consciência vi que me transformava em zumbi. 


No salão de festas, Everaldo era observado.
- Como será que este safado tem tanta sorte?
- Espere um pouco... descobri. É aquele Talismã.
...e a história continua.
Oripê Machado.






Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 15/11/2011
Reeditado em 15/11/2011
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