"Cafuzo, O Rei Feiticeiro."
              
Aquele homem a cavalo parou à frente da casa do Sr. Alcebíades.
Bateu palmas e a filha saiu para verificar quem era. Quando viu aquele mulato forte e bonito, sorriu para ele.
Como pediu água, ela entrou e saiu com uma jarra dando-lhe água.
Após tomar agradeceu, ia embora quando a moça num rasgo de coragem falou:
- Moço bonito, qual é o nome de seu cavalo?
- O nome dele é Furacão, porque é muito forte.
E vão desenrolando uma conversa, só não viram que o Sr. Alcebíades estava observando.
Após o cavaleiro ir embora, o pai chegou.
Pegou-a pelo braço e deu-lhe sonora bofetada.
Chamou alguns empregados que estavam ali e saíram em desabalada carreira, após alguns quilômetros alcançaram o cavaleiro.
O Sr. Alcebíades já estalou o chicote nas costas do negro.
Quando caiu no chão ia reagir, os empregados o agarraram e tomou aquela surra que segundo dizem cria até bicho.
Após deu-lhe um conselho:
- Quando passar pela casa de um branco, dê a volta. Por ter falado com minha filha apanhou, e vai apanhar mais ainda se voltar lá negro.
De madrugada, vultos encapuzados pegaram toda família e levaram embora.
No outro dia quando o sol esquentou, amarrados em estacas estavam o Sr. Alcebíades e seus dois filhos. Sua esposa e duas filhas estavam vigiadas, não sofriam nada só aguardavam.

O local.

Neste local havia uma grande cabana à Boma, ou casa real.
Ao lado formando um círculo, várias casas menores, todas iguais.
Os homens usavam lanças de ferro, escudo de couro, um tipo de calção de couro.
Na cinta larga portavam enormes facões.
- Que lugar é esse?
 Perguntou o Sr. Alcebíades.
- Nunca vi.
- Disse o filho mais velho.
 Nem eu.
- Disse o caçula.
A posição era horrível estar de cócoras, até que um negro velho de barbas brancas acompanhado de dois lanceiros falou:
- Neste horário todos se alimentam, mas meu rei quer que vocês primeiro aprendam a humildade, depois comem, já as mulheres podem comer como todos daqui a pouco.
- Porque estamos amarrados, presos?
- Porque meu rei quer, ainda é cedo, logo saberão. Afrouxem os braços dos rapazes, do velho não!
Duas horas depois todos foram conduzidos para uma jaula, dentro da tenda grande.
Na tenda grande, tinham muitos guerreiros, separados pela importância de cada um, com peles e penas. Depois vieram as mulheres e as crianças que ficaram ao lado dos guerreiros.
A tenda estava lotada, todos olhavam os presos, mas ninguém ria, só olhava.
Chegou finalmente a comitiva real.
Todos se levantaram e começaram a cantar e a dançar. Em uma liteira de peles carregada por quatro guerreiros fortes vinha o rei sentado.
Caminhando a seu lado, vinham os anciãos com um escudo, lança e cocar de penas, provavelmente do rei. Incrível dizer, mas o rei não era outro senão o Cafuzo, aquele que pediu água na casa do Sr Alcebíades, aquele que apanhou.
Acho que se tivesse um buraco no chão, O Sr. Alcebíades entrava nele.
Após a tribo cumprimentar, o rei se levantou e todos se ajoelharam.
Desceu de seu trono de peles e caminhou por entre o povo, brincando com uma criança, um velhinho, ou um jovem guerreiro.
Parou ao lado da jaula e mandou tirar todos, menos o Sr. Alcebíades.
Foram colocados a um canto sobre algumas peles, que ali estavam.
Após, vieram vários guerreiros com carne assada nas lanças que eram divididas a todos.
Havia certa ordem, primeiro crianças e velhos, depois os mais jovens.
Por causa da fome, a família do Sr. Alcebíades comeu, e comeu bem.
Depois soltaram  o Sr. Alcebíades das cordas, porém ficou ainda preso na jaula.
De vez enquando, alguém do povo, jogava algum osso com pequeno pedaço de carne para ele, que comia vorazmente.
Quando acabaram de comer, o velho de barba branca falou rápido e mostrou a cela.
O rei falou e o velho começou a falar em português:
- Nosso amado rei passou na casa do homem e pediu água, esta moça lhe deu, e o rei ficou feliz.
Ela até conversou com ele.
Quando saiu de lá, foi perseguido e maltratado, bateram nele.
Todos que até aquele momento ignoravam os presos começaram a maltratá-los.
O rei levantou a mão e todos se calaram.
- Eu entendi que o pai não gostava que tivesse conversado com sua filha.
E estava certo, o pai protege a filha.
Eu não gostei, não gostei de ser seguido e maltratado, por isto trouxe o homem branco para ser tratado da mesma maneira.
A moça levantou e falou para o rei:
- Por favor senhor...
Deixe o ir, não sabia que você era um rei...
- Isto eu perdôo.
O rei tem que estar acima disto.
Eu nunca perdoaria se fosse o mais humilde de meus guerreiros.
Mas você matou minha sede, então peça e será atendida.
- Solte meu pai.
- Soltarei.
Mas primeiro terá um castigo exemplar.
Rufaram os tambores e o Sr.Alcebíades foi colocado ajoelhado no centro e sem camisa.
Parecia que os guerreiros iriam transpassá-lo.
Os tambores foram batendo cada vez mais fortes e pararam.
Todos esperavam o desfecho fatal.
Saiu do meio do povo um menino de quatro ou cinco anos, se aproximou correndo.
Os lanceiros deram-lhe passagem.
Ao chegar á vítima, fez careta e deu-lhe um tapa de leve no rosto.
 Após, saíram todos, menos o rei.
- Você não merece.
Nossas lanças são muito nobres para um sangue tão sujo.
Saiam daqui agora.
Sr. Alcebíades havia sujado as calças.
Havia um corredor humano até a saída da aldeia. Dizem que depois desse dia ele nunca mais foi homem. Seus filhos assumiram o controle e prosperaram.
Ele definhou até morrer totalmente louco.
Ele não sabia mas o menino deu lhe um toque "Voodoo" chamado Mancha Negra ou Marca Negra. Verdade ou mentira?
Na Bahia capital dos encantos e feitiços Afro.
Dizem que é normal e até citam A e B que praticam encantos.
 
OripêMachado.                    
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 14/11/2011
Reeditado em 02/03/2012
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