"Josias Cabelo de Fogo, O Terror da Zona Sul."
Quando aquela família de nordestinos chegou à zona sul, mais precisamente, Cidade Adhemar, as coisas eram bem diferentes.
Vila Missionária.
O Pai de Josias, Seu Sebastião, já veio do norte doente, ninguém sabia que doença era.Fraqueza diziam todos.
Dona Silvana, era o pai e mãe da casa, costureira muito boa, conquistou logo a freguesia, e conseguia sustentar Seu Sebastião, que nada fazia e Josias, que muito jovem ainda só estudava.
Para complicar um pouco as coisas Seu Sebastião, além de doente danou a beber.
O bêbado é uma coisa esquisita, sempre consegue beber, quando não ganha, consegue um fiado.
Seu Sebastião fez seu primeiro fiado no bar do Plínio Sujinho, receptador e traficante.
Dona Silvana refugiou-se na igreja, pois era evangélica fanática.
Josias, ainda com doze anos, nada sabia das malandragens e via o pai batendo na mãe, para pegar o dinheiro e saldar suas dívidas.
Só que dívidas de drogas para bandido, nunca se paga, se ameniza.
Chegou a hora que a máquina de costura foi embora, levada pelos meninos do Plínio Sujinho, só que antes de irem embora deram um sal na velha, já que o marido não usava mesmo.
Josias já era conhecido como “Cabelo de Fogo”, acho que puxou por algum ancestral lá atrás.
Quando chegou da escola, não ouviu nada, pois a mãe só chorava, mas ele já sabia de tudo sobre o pai, e deduziu o resto.
Calmamente, deu-lhe um banho, vestiu-a e depois levou-a à casa de uma irmã de religião.
Explicou mais ou menos a situação e disse a possibilidade dos bandidos voltarem.
A evangélica solícita abrigou D. Silvana, que parecia desmemoriada.
Aqui Josias perde o primeiro nome vira só “Cabelo de Fogo” e depois “Pinga Fogo”.
Voltou para casa, seu pai dormia, enrolou-o em cobertores que embebeu em álcool e ateou fogo.
Fez uma ligação anônima a policia “Hoje foi o pai, amanhã vai à mãe e o filho, para pagar a dívida assumida.
Nada a fazer e o filho deveria estar morto também.
Exatamente um mês depois, Plínio está em sua chácara, em Itapecerica da Serra.
Achou curioso que os cães estavam quietos, geralmente fazem uma algazarra danada na hora de comer.
Com um enorme balde de pescoço de frango, com arroz, vai até o canil.
Seus cães não existem mais, estão todos picados, como se um açougueiro cortasse sua carne para vender.
As cabeças estavam uma ao lado da outra de maneira uniforme, do maior para o menor.
Desesperado corre para casa pegar suas armas, não encontra nada, todas as armas da casa sumiram.
Corre para o quintal pedir ajuda ao caseiro.
Também não dá embebidos em álcool, e enrolados em cobertores, o caseiro, e a esposa ardiam em chamas.
Correu para a garagem, pegou o carro e saiu em desabalada carreira.
Por trás da cortina da sala, um rapaz de talvez uns doze anos, comia um sanduiche de mortadela e dava um sorriso de satisfação.
Manchete de Jornal.
Traficante Plínio Sujinho apronta outra vez.
Desta vez, foi seu caseiro, pois desconfiou que o mesmo o roubasse.
Com requintes de perversidade, matou ele e a esposa, coincidência, o crime parece o mesmo que ele cometeu a um mês em tal senhor Sebastião e repetiam a mesma história do pai de Pinga Fogo.
No Jardim Miriam.
Mineirinho, concorrente de Plínio, recebe mercadoria.
Está todo mundo desfiando, enrolando e o segurança estrala o olho.
O punhal entrou abaixo de sua orelha, quase o degola.
Silenciosamente, as portas são fechadas e escoradas com vigotas de madeira.
- E aí moçada de dentro, o Plínio pediu este trampo, então La vai.
Todos atiraram na porta, janelas, mas não havia mais ninguém, só fumaça.
Os “molotov” no telhado de madeira, não demorou a acabar tudo.
Antes foram feitas ligações, todos Sabiam, que o Plínio, estava entrando na área de Mineirinho.
O mundo para Plínio Sujinho ficou pequeno.
Desceu do carro rapidamente, com duas malas pesadas, pegou um taxi e falou.
- Aeroporto, depressa que tem caixinha.
Enquanto o carro rodava a toda velocidade, começou a perceber algo esquisito.
Havia correias na cabeça do motorista, estava sentindo um cheiro adocicado há certo tempo.
Quis pegar o revolver às suas costas, mas seu braço estava paralisado.
Por trás da máscara um sorriso angelical de criança.
- Olá, tudo bem?
Até que enfim, estava demorando em acertarmos nossas contas.
-Nestas malas tem milhões, basta você me soltar.
- Você faria isto?
Quando viu aqueles olhos inocentes, percebeu que seu tempo havia acabado.
Vai ser rápido?
Nem isto posso te dar, por alguns copos de pinga, você matou: meu pai, minha mãe, e eu.
Mesmo morrendo você estará em dívida, mas farei tudo para compensar isto.
Ninguém confia mais em você, depois de trabalhá-lo, se sobreviver, não vai ter mais namorada, também para que? Vou deixá-lo mais leve, Plínio chorou, Pingo riu.
Na estrada velha de Santos, ele entrou em uma casa comum, colocou o carro nos fundos e foi para frente.
Havia cinco ou seis rapazes de dezessete a vinte e cinco anos.
Vão embora, folguem por uma semana, daqui a oito dias, me encontrem no bar do Peva, às oito da noite.
Neste envelope tem uma grana, dividam, depois a gente se fala, temos muito que fazer.
Pegaram dois carros que estavam estacionados ao lado da casa e saíram pelo portão.
Ele aguardou pacientemente quase duas horas, depois subiu no taxi e saiu outra vez, sem acender as luzes.
A uns duzentos metros na rua de cima, entrou em outra casa que parecia abandonada.
Colocou o carro nos fundos dentro de um galpão.
Carregou as duas malas, e colocou sobre uma mesa de mármore.
Tirou o dinheiro e contou separando em vários pacotes, achou várias “escutas” que quebrou.
Tirou Plínio, que ainda estava paralisado, e colocou-o em uma mesa cirúrgica, amarrou-o com as cintas de couro, colocou as malas no carro juntamente com as escutas, e saiu com o taxi dali e rodou por vários bairros, até ver o posto rodoviário.
Encostou o carro ligou o pisca alerta, e saiu em direção contraria.
Havia uma moto pequena, com capacete, que colocou e retornou ao local para trabalhar Plínio.
Após perder as unhas dos pés, das mãos, os dentes, Plínio praticamente mapeou toda criminalidade por ele conhecida, endereços, nomes “modus operandis”.
Pinga Fogo era incansável, parece que havia se preparado para isto, pois quando o outro desmaiava, imediatamente o reabilitava, com uma injeção de alguma droga qualquer.
Embora não fosse um homem bonito, era vaidoso, mas naquela hora, se comparado a um Gari, Plínio perdia.
No segundo dia Pinga Fogo, viu movimento na área, reconheceu alguns de seus comandados, juntamente com outros.
Policiais ou da quadrilha não importa, fora caguetado.
Já começava a maquinar a vingança.
Após fazer a extração dos dentes, houve uma complicação e Plínio morreu.
Limpou todo o local tirando os vestígios, cortou Plínio em pedaços, que foi jogando nas águas da represa.
Com enorme mochila nas costas, e a pequena moto foi para o centro de São Paulo.
Dizendo-se estudante, pagou alguns dias, e pediu para a proprietária guardar suas malas.
A mochila continha presentes, que ele havia trazido para parentes, que ele visitaria no dia seguinte.
Guardou tudo em caixas do correio, ficando apenas com pequena quantia.
Dormiu algumas horas, saiu, foi à praça e voltou pedindo para falar com a síndica.
D. Rosa era uma viúva de sessenta anos, com filhos casados, que moravam no Rio de Janeiro.
Era uma portuguesa de bigodes, dessa que parece que chupou limão.
Ela falou.
-Você pagou adiantado, o que quer?
-Eu queria agradecer sua gentileza em me acolher em sua casa.
Me desculpe, mas a senhora me emociona, perdi minha mãe, ela parecia com a senhora.
Mas não vou perturbá-la, só queria lhe entregar estas flores.
D. Rosa nunca havia ganhado flores de ninguém, aquele menino, aquela criança, com aqueles olhinhos verdes inocentes, que nunca viu o pecado.
-Vem cá meu filho, se abraçaram, ele com lágrimas de crocodilo, ela com lágrimas de mãe, abriu, seu empedernido coração, e ele entrou de sola.
-Eu trouxe um dinheirinho do interior, a senhora poderia guardar para mim?
-Lógico, filho, lógico.
Se ela soubesse que tinha adotado o filho das trevas, Josias o “Pinga Fogo”
Ele saía de manhã, para procurar emprego, com um lanche feito pela mamãe, cabelo penteado, na brilhantina, antes de chegar à esquina, olhava para ela e jogava um beijo.
D. Rosa havia rejuvenescido vinte anos.
Virando a esquina, pois, ainda era um estereotipo, mas seus pensamentos eram morte, vingança, roubo, ia sempre a sua casa, lá em uma parte secreta, estava sua especialidade, armas brancas, veneno, pólvora, detonadores, escutas, era um verdadeiro escritório de espionagem.
Dos sete parceiros, quatro conseguiram escapar, pois foram mortos por outros ladrões e um pela polícia, faltavam dois, e um deles, era o, mais traíra, pois, gozava de sua confiança.
Havia assumido o bar do Plínio e comandava todo o vapor da zona sul, o outro foi para Santos parece que mudou de vida, com o dinheiro da alcagüetagem, comprou um barzinho e estava se saindo bem.
O dia todo choveu, começou a recolher as cadeiras, iria embora para casa pegar a mulher e fazer compras de casa e do bar.
Fechado o bar, todo por dentro, depois saía pelos fundos.
A luz do corredor estava apagada, sempre ficava acesa por causa das caixas que sempre poderiam causar um acidente.
Teve um arrepio na nuca, um sentimento estranho, deve ser por causa da chuva e foi procurar a chave de luz.
Quando acendeu, perdeu a fala, sentado em uma caixa, havia um anjo.
Cabelos loiros, não vermelhos, olhos verdes, expressão suave, parecia ter descido de uma nuvem.
-Olha cara eu posso explicar tudo.
- Eu sei, você não tem cabeça para montar um esquema, só embarcou na parada né?
-Eu até pedi, falei que você era legal, mas eles não quiseram.
-Viu? Foi o que te sobrou.
Agora me conta tudo, como começou, veja você está do meu lado não?
-Claro meu, Claro.
E entregou todo o ouro, que Josias já sabia ninguém precisava contar nada, ele tinha raiva era disso, todos eram muito previsíveis.
Ficou de lado olhando as garrafas, tinha uma com o rótulo saindo, começou a brincar passando o dedo.
-A infeliz cabeça pensante tinha certeza que seria sacrificado, viu ser a sua chance, tentou sacar sua pistola da cinta.
A lâmina parece que saiu do nada, cravando em sua mão imobilizando.
Poderia simplesmente ter matado, mas você não sofreria, e aquelas mãos lindas de criança bateram sem piedade.
Quando o outro acordou, estava amarrado na adega frouxamente.
No teto um frasco, de algo parecendo água, estava pendurado por fina tira e preso em uma caixa na qual ele estava amarrado.
Só que isto ele não via, sem se mexer examinou o ambiente, nada se ouvia.
Porque não terminou o serviço, porque não me amarrou?
Acho que algo o assustou, deve estar por aí.
Tarde demais percebeu que seu ex-chefe era infalível.
O nitro levou o barzinho e quatro casas de cada lado.
Batidas à porta.
- D. Rosa, por favor, entra posso ajudá-la em alguma coisa?
Estive estudando.
- Josias você estuda demais, trouxe este caldo verde para você.
-A senhora não é uma mãe para mim, a senhora é um anjo, posso te dar um beijo?
-Ah meu filho deixa para lá, assim você encabula esta velha.
-Então Dona velha, vou ser um cientista e inventar uma fórmula para deixá-la novinha.
-Então vou ficar experiente como você.
Ele tomou o caldo, agradeceu, beijou-a de novo no rosto e levou-a até a porta.
-A sua benção mamãe.
- Deus te abençoe meu filho. Agarrou-o quase sufocando em seus seios fortes e afastou-se chorando.
Ele fechou a porta e foi dormir não se percebia nele nenhuma emoção.
Ainda falta, um e começou a pesar e calcular algo em uma balança eletrônica.
Um caminhão Pipa encostou-se à porta do bar.
Todos se ligaram, o motorista falou, tenho entrega descarrego onde?
Neste ínterim, o caminhão e toda a frente do bar, inclusive o pessoal da mesa se desintegrou.
Quem estava na escada caiu porque ela ruiu, Zé Carlos, correu, olhou para o corredor, ao ver a confusão, voltou, trancou a porta com chave, depois passou uma tranca de ferro, quando foi sentar, em sua cadeira estava Pinga Fogo.
Teve uma convulsão, Como! Por onde? Não pode.
- Calma José Carlos parece que não somos mais amigos?
Ofereça-me uma soda.
-Lógico vou pegar.
Olha, eu não tive nada com isto, quem te traiu foi.
-José Carlos você ter me traído já me irritou, você querer me enganar, ou achar que sou idiota, me deixa super irritado, não faça isto.
Pegue papel e caneta, escreva todos os contatos, fornecedores, policiais, passadores, aviões, rotas.
Se você me convencer, que passou mais do que eu sei, que posso usar você vive, caso contrário morre.
Não é raiva, não é amor, é negócio, para mim, só negócio, preciso de gente para trabalhar.
Talvez mantenha você, no seu posto, ou substitua, não matei todos, os melhores do time foram poupados, menos os que me quiseram passar, entendeu? Escreva eu pego a soda, e não encoste no botão, nem na gaveta, a arma está descarregada.
Zé Carlos começou a escrever, mas os soluços entrecortavam, ele estremecia, parece que ia desmaiar, Josias eu não quero morrer, casei há dois meses, estou começando agora, eu juro que faço tudo que você quiser, eu entrego todo mundo mesmo, vou escrever tudo, você vai ver me deixa vivo, tenho uma grana preta, passo tudo para você.
Olhe, tá meu cartão com conta numerada, toma pra você, colocou sobre a mesa.
No rosto de Pinga Fogo, não havia expressão, nem de raiva nem de bondade.
Quando terminou, falou então estou perdoado?
Eu fui convidado, para zerar sua mãe, e não fui.
Quase que você consegue, mas tocou num assunto mal resolvido sabe?
Só o fato de saber disso já o condena.
Zé Carlos começou a chorar convulsivamente, enquanto Pinga Fogo, com luvas cirúrgicas guardou o cartão, colocou em uma enorme mochila grande quantidade de cédulas de dinheiro.
Antes de escalar a janela colocou um artefato sobre a mesa.
A síndica foi acordá-lo
- Filho a polícia está aí, dizem que você fez coisas terríveis, lógico, não são verdadeiras.
Vou pedir para meu advogado acompanhá-lo, não terá problemas, certo?
-Não se preocupe, mas, por favor, antes de sair, posso pedir uma coisa?
Lógico filho, peça.
-Dá-me, mais um abraço e um beijo daqueles?
Os policiais viraram as costas, um comentou.
- Se este menino deve alguma coisa, como meu chapéu.
D. Rosa se debulhava em lágrimas.
Na delegacia, com a companhia de um representante do Juizado de menores, O delegado pediu para ele se identificar.
De uma pastinha de couro, Josias tirou todos os documentos solicitados.
Você estudou no S. Francisco?
- Sim Senhor.
-Meu filho também estudou lá.
-Qual era o nome dele Senhor?
-Ricardo Amaral Peixoto.
-Ah ele era do terceiro e eu do segundo ano.
-Mas era ótimo aluno, Formou-se em Filosofia, e você?
-Também mas só um ano depois, era bolsista, ele era dos normais, que pagavam.
-Consegui à duras penas, mas consegui.
-Ele está na Europa, mas quando falar comigo direi de você.
-Ele se lembrará, participei de um debate com ele, acho que empatamos.
-Fale para ele do Pinga Fogo, ele se lembrará.
-Desculpe Doutor, eu desviei o rumo das coisas.
-Bom Josias, nada de concreto, é que existe suspeita que você esteja envolvido com drogas, jogo, homicídio.
-Sim Doutor, e...
-Acho que você não entendeu.
-Dr. Houve em minha família, um problema com bebidas, meu pai se envolveu, morreu por isto, minha mãe morreu por ser sua esposa, não havia se envolvido, era só esposa.
Eu não morri, por causa da bondade de pessoas que cuidaram de mim.
*Com seu QI excepcional, muito acima do normal, viu a foto do filho do Dr. Em destaque,
Na turma de Filosofia do terceiro ano.
Sei que o senhor tudo esclarecerá, e poderei ir embora.
Não é bem assim, você não tem tutor, terá que ficar sob responsabilidade do juizado.
A psicóloga, Dra. Carmem, cuidará de você, enquanto investigamos.
A Dra Carmem ficou pasma, ela não conseguiu aplicar os testes, pois Josias, a testava e estava conseguindo induzi-la.
-Se eu pudesse ficar aqui, você é tão boa para mim, minha tia Ignês, me tratava igual, porque a pessoa tem que ir embora tão cedo?
-Ela morreu?
- Sim, enquanto falava, aqueles olhos verdes, inocentes, escanhoavam a sala médica, para pegar seu point. Parou numa foto.
- Importa-se se eu pegar?
- Não.
-Era seu filho?
- Sim.
-Pelo rosto ele tem a covinha igual a sua, a mesma curvatura de sobrancelhas.
-Parecia ser muito inteligente, e especial estou certo?
A doutora deu um soluço.
- Nós havíamos comprado uma casa nova, falei para o Marcelo,
Por causa da piscina.
-O Gustavo, (Tavinho), não respeita nada, vai ter problemas, mas meu marido falou.
- Nós nunca vamos ter nada, por sua causa, você é louca.
E veja o que aconteceu, estávamos almoçando, ele brincando no chão da sala.
- Posso pegar suas mãos? Eu também perdi a minha mãe.
- Sim, então ele correu, pulou na piscina, quando o jardineiro o tirou era tarde demais.
Perdi meu filho, meu casamento, perdi tudo.
- Sei que sou jovem demais, dezessete anos, e o que eu pedir para a senhora pode parecer qualquer coisa, mas eu juro, é do fundo de minha alma.
Posso abraçá-la? A doutora olhou bem para ele, com aquele cabelo de fogo, olhos verdes, rosto imberbe,
- Disse por quê?
-Desde a hora que te vi, na frente do delegado, deu-me uma vontade louca, a senhora não parece com minha mãe, é morena, a senhora loura.
Seu jeito de falar gostaria de abraçá-la, beijá-la de contar tudo, que está acontecendo comigo, da saudade, que eu sinto por você.
-Ela o agarrou, beijou seus cabelos, seus olhos, seu queixo, abraçou-o tão forte que quase o magoou.
-Ele falava mãe, mãe, mãe, e chorava, ela também.
A doutora foi chamada à delegacia.
-O caso é mais grave do que pensávamos.
Ele conseguiu eliminar todas as provas do local, sua mente é privilegiada.
Só esqueceu um pequeno detalhe, a câmera da loja da frente é para a rua e para o beco.
Filmaram quando ele estacionava a moto, explodindo o caminhão e escalando as janelas.
Com o zoom da câmera fica claro que é ele.
Porém é menor e nada podemos fazer quanto a isto.
Temos várias senhoras, que vieram se prontificar para pagar a fiança e não são mocinhas, são avozinhas e adoram o rapaz.
O Juiz corregedor está em contato com o curador de menores, porque ele é terrível, não precisa de armas, mas se resolver usar sabe de quase todas e as que não sabe, num simples bater de olhos, já domina completamente.
Físico e mente prodigiosos.
A única saída é o professor Sakarov.
Seis meses depois numa confraternização, pois o assistente Josias, super herói de toda clinica, fazia dezoito anos.
Todos queriam abraçá-lo e beijá-lo, parecia realmente que estava muito feliz.
Surpresa maior, quando várias senhoras, entre elas D. Rosa e D. Carmem e outras que não gravei o nome, mas, todas tão amorosas, que difícil dizer qual era a mãe verdadeira.
Cada uma deu um presente, que ele agradeceu, e a beijou todas.
Só pediu que nas próximas visitas, viesse umas de cada vez, senão seu coração não aguentava.
Paralelo a isto, deu a cada uma um envelope com vultosa quantia.
-Gostaria de comprar algo, só que neste ponto me dá um branco e não consigo.
Depois entregou ao Dr. Sakarov, também um envelope com enorme quantia, para ajudar na manutenção e compra de aparelhos novos para os internos.
Curiosamente, Josias após os dezoito anos, envelheceu e foi perdendo os movimentos até que, onze meses após, veio a falecer, feliz no meio de seus doentes.
Todo seu dinheiro, grande quantia, só não sei precisar quanto, pois faltaria com a verdade, foi distribuído pelas suas mães, às instituições de caridade.
Isto não desfaz suas maldades, mas o desvio de conduta tem levado tanta gente a ações anti-sociais, e não são corrigidos.
Pelo menos neste caso foi tentado.
OripêMachado.