"O Castigo de Bide"

No centro da senzala, homens ficaram com os olhos lacrimejantes, mulheres choravam em silencio. A patroa vai dar um castigo exemplar. O negrinho, Bide foi pego roubando comida do latão de lixo. Sua mãe que era cozinheira da casa grande se prontificou a ir para o tronco no lugar dele. Nada adiantou a malvada patroa tinha ódio da felicidade dos negros. Ela não conseguiu ter um filho e esta negrada parecia formiga, tinha um filho atrás do outro. O negrinho Bide, (Alcebíades) era bonito, se fosse um pouquinho mais claro, poderia ser meu filho, se fosse um pouquinho mais velho poderia ser meu amante. O velho major, marido da patroa, quando casou já não eram estas coisas e com o tempo piorou. A única vez que foi feliz foi quando o major teve que ir à Paris para se tratar. Enquanto estava na clínica se tratando, ela com mais uma amiga foram conhecer o famoso Pátio dos Milagres. Enquanto tomavam um café na praça, foi abordada por um impertinente jovem que a ofendeu com galanteios e até cantada. Num ato de bravura ela falou, - Não pode uma mulher honesta visitar esta cidade? Já me hospedei no Hotel Montalban para não ser importunada, estou com o marido doente. Fico sozinha a noite toda e ainda tenho que agüentar insinuações maldosas sobre minha pessoa? O rapaz baixou a cabeça, se desculpando e foi embora. A amiga falou – Mal educado, mas bonitão. Nem percebi, fiquei indignada, vou para o hotel. No hotel depois daquele banho de perfume e aquelas roupas que nunca usara, foi dormir. Mal havia tirado uma pestana. Foi agarrada por um vulto que não soube descrever. Este bandido aproveitou sua fraqueza de mulher, subjugou-a e colocou seus instintos animalescos para fora. Durante toda a noite fez com ela coisas horríveis dignas de um bordel de Paris. Ela não se rebaixaria a prestar queixa, embora indignada, não queria que o populacho do Brasil, soubesse e distorcesse, o que foi um ataque, por uma aventura. Graças a Deus dessa agressão não ficaram conseqüências, pois poderia até ter se engravidado, pois o malandro a usou várias vezes. Quando falava dessa agressão às vezes saia um suspiro como se, lógico que fosse outra, mas não ela. Se tivesse tido um filho teria a idade deste safado do Bide. Quanto mais pensava, mais batia na mão dele. Sua mão direita ficou em carne viva pelas vergastadas, depois suas costas, que ficaram pior que a mão. O castigo só não continuou porque o major saiu do escritório e falou... chega! Recolha o negro , o cure e solte. Ele é um homem livre. Devido ao excesso, Bide primeiro perdeu a mão e depois de sofrer muito morreu. A noite os negros cantavam e a mãe do Bide chorando começou a costurar um boneco. Os outros negros falaram – Você vai fazer isto? Sim vou, senão meu coração não vai parar de sangrar. O major gozava de boa saúde, mas a esposa começou a ter problemas, gostava de comer bem, e para não ter problema de consciência, vendeu a mãe de Bide. Mas tomando sua refeição matinal, na ponta da mesa viu Bide. Todo de branco, e sem a mão. Correu para o quarto, e pediu a refeição lá. Bide não apareceu, mas dentro do pão, começaram a sair vermes. Ela não podia comer mais, tudo para ela cheirava mal. Ou tinha bichos vermes até. Ela era uma mulher bonita, forte foi perdendo o viço, a pele amarelou e perdeu peso. Bide sempre por perto a incentivando. Chegou uma hora que ela queria até morrer, colocaram-na em uma clinica de repouso, até que se apoderando de um facão decepou a mão . Bide veio pela última vez. Nunca lhe desejei isto, no passado eu fui seu filho e te amo. Mas somos comandados e você mereceu isto. Ela pediu perdão. Ele a perdoou e morreu feliz. Em algum lugar do universo, um casal mãe e filho, ele de branco e ela de preto, os dois sem as mãos caminham juntos.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 12/11/2011
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