"Canibal".

Minha família vivia em uma micro fazenda longe de todos. Não conhecíamos nada das coisas da cidade. Só minha mãe parecia saber ler. Embora que, nunca tenha lido algo para nós. Segundo meu pai, todos os homens que moravam perto, eram selvagens, e se nos vissem, com certeza iriam nos caçar. Vivíamos exclusivamente da caça. Meu pai falava, um dia você irá caçar comigo. Sempre trazia sacos cheios de carne. Ele e minha mãe salgavam porque senão estragaria, por causa do calor. Minha irmã era mais nova que eu um pouco. Ela e minha mãe usavam vestidos de saco de estopa, eu e meu pai usávamos um tipo de calção, também de estopa. Meu pai era ótimo arqueiro e sempre trazia carne. Eu estava brincando com minha irmã, a agarrei, abracei, era gostoso e ela também gostou. Minha mãe viu e falou para meu pai. Ele me bateu e falou que nunca poderia brincar com ela, por causa de doença, eu era doente e não sabia, por minha causa ela iria morrer. Quando tomávamos banho no rio ficávamos nus, mas eu não mais brincava com ela, não queria que ela morresse. De noite vi meu pai brincando com minha mãe, acho que eles mentiram para mim. Parece que gostavam de brincar. Fiquei quieto e falei para minha irmã, que poderíamos brincar, só não poderíamos deixá-los ver como no dia que meu pai me bateu. Meu pai não estava conseguindo caçar, e tínhamos que comer pouco. Conversando comigo falou, - Você sabe usar o arco tão bem quanto eu, vamos caçar juntos. Ele me contou que os homens nos caçavam e quando nos pegavam comiam nossa carne. Poderíamos fazer o mesmo com eles. – Se eles fazem com a gente está certo. Ficou muito feliz. E falou vamos caçar juntos. Quando eles caçarem nos esconderemos e depois caçamos eles tá bom? – Tá.

Eu não tinha muita opinião a respeito. Pegamos uns cinco sacos de estopa , os arcos e as flechas. – Você vai gostar. Tinha um homem pescando, ele falou vou te ensinar. Se aproximou com cuidado, e flechou suas costas. Quando ele caiu na água, pulou também arrastando-o para margem. Chamou-me e ajudei a retirar o homem da água. Arrastamo-lo para o mato. Ele com uma faca rapidamente tirou o couro dele e cortou a carne colocando nos sacos.

Vamos sempre deixar um pouco de carne para os animais se alimentarem também. Acho que sim. Saímos rápido dali, ele estava muito feliz. Chegando em casa ajudei a salgar. Meu pai falou. Qualquer dia você irá sozinho. Está bem. E saímos para caçar no rio, na estrada, no mato. Qualquer lugar que os encontrássemos matava e tirava a carne, e levávamos para casa. Começou a me tratar diferente, eu já era mais forte que meu pai. Minha mãe falou, se seu pai morrer, você será o homem da casa, e se eu morrer sua irmã será a mulher da casa. Falei, meu pai brincou com você. Você viu?

-Sim. Como você vai ser o homem da casa, pode brincar comigo, mas seu pai e sua irmã não podem saber. Brincamos e foi muito bom. Eu brincava com minha mãe e com minha irmã.

Meu pai descobriu e quis bater em mim, e eu bati nele. Acho que bati forte e ele ficou doente. Minha mãe me chamou e minha irmã. Quando o homem fica doente a gente tira a carne dele e come. Assim fica alguma coisa dele em nós. Ficamos quietos. Eu e minha irmã fomos banhar no rio, minha mãe falou. -Brinque com ela, eu chamo vocês depois. Ficamos a manhã toda no rio, como ela não chamou, resolvemos voltar para casa. Quando chegamos a casa ela estava salgando carne. O pai de vocês foi embora, ele falou que estava doente, e não conseguia mais caçar. Agora você é o nosso chefe, o homem da casa, eu e sua irmã, faremos tudo que você quiser. Não sentimos a falta dele, pois agora tudo ficou melhor. Éramos, livres para brincar e eu só saia para caçar e comer carne. Quando caçava com meu pai demorava em cortar a carne. Eu mudei o sistema, trazia os corpos, para casa e minha mãe e minha irmã tiravam a carne. Conseguíamos mais carne que meu pai, que largava bastante nos corpos. Não sabia que levando para casa os corpos sem tirar a carne, os outros a sentiriam à falta. Meu pai sabia disso só que não me passou. Atrás de nossa casa havia pelo menos umas vinte ossadas que eu trouxe para casa. De repente um tiro atravessou a cozinha de lado a lado, minha mãe foi olhar e tomou outro morreu na hora. Arranquei algumas tábuas do assoalho e fiz minha irmã passar pelo buraco, indo atrás. Ficamos escondidos embaixo da cozinha. Ouvimos a conversa deles,

- Sempre desconfiei destes loucos desde que fugiram do hospital. Estavam praticando o canibalismo. Horas depois saímos dali. Minha irmã falou e agora? – Temos que ir para longe daqui. Não temos comida, como faremos? Caçarei para você. Agora somos só nos dois.

Quando fomos pegos cinco anos depois foram encontrados mais de cem ossadas de homens mulheres e crianças. Nosso filho se salvou e quantos mais ainda estão por aí...

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 11/11/2011
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