"Loucura"

“Loucura”

Todos os caminhos, por incrível que pareça, só me conduzem para o fosso.

As pessoas de minha confiança, a quem tudo faço e tudo dei para ver feliz, me olham de maneira diferente.

Parece que cometi um crime hediondo, ou que fiz algo terrível que não me lembro.

Tudo que faço é questionado, ou se não, parece que fazem com medo.

Medo de quê? Estou preso a religião, preconceitos, amizade, moral, amor filial.

Se têm tanto medo de uma reação, porque sou provocado a cada minuto?

Minha cabeça dói, sinto tonturas, existe uma solução, fácil e rápida.

Mas quero esperar mais um pouco, talvez as coisas mudem.

Quero que percebam que não quero, mas posso ser mau.

Não gostaria que conhecessem este meu lado do qual me envergonho.

Pois foi neste lado que me especializei. Fazer qualquer coisa a estranhos, nada me causa, nem me custa.

Preciso me fortalecer, vencer os medos, e estas vozes que ouço, porque falam tão rápido, não entendo, a cabeça dói.

Dão-me ordens, debocham de mim, dizem que sou fraco, que não tenho coragem de tomar uma atitude.

Se eu dirijo o carro com as janelas abertas a dor é menor, acho que passei um radar, com esta velocidade vai dar o que falar.

Pelo menos verão que tenho um bom carro.

Acho que estão me seguindo, quem será? Se fosse amigo não me seguiria. Quem segue quer dar um flagrante, mas de que?

Estou parecendo um santo. Esta é muito boa. Eu, um santo... Vou tomar mais água... Que dor de cabeça!

Parece que tem alguém me espiando, só estou assistindo TV, pensam que estou vendo alguma coisa feia?

Vou desligar e vou dormir. Não consigo. Vou tomar água, maldita cabeça que dói. Querem que eu vá ao médico. Por quê? Para que ele me ateste insanidade? Não vou mesmo.

Estou no banheiro há duas horas ninguém chamou, eu sabia... Que estão com medo.

Quebrei todas minhas armas, mas eles não sabem, têm uma guardada, vai ser para a minha saída.

Acho que vai ser agora. Porcaria! Estava aqui... Ah! Achei! E as balas? No saquinho plástico, dentro da caixinha d’água. Tudo bem, agora as últimas palavras. Ué, será que estou com medo? Se eu tivesse um jeito... Ah! Batem na porta, coloco na boca e...

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 10/11/2011
Reeditado em 13/11/2011
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