"Sem lenço, Nem documentos."
Bom, meu nome é Clézio. Quando alguém pergunta: "Clézio? Que nome esquisito!", mando "é eu também acho" e não deixo a bola ir para frente. Mas agora tanto faz, meu nome é Eclesiastes Crist us Santana de Oliveira. Não precisa nem falar que meus pais nasceram e morreram com a bíblia na mão. Se eu sabia alguma coisa na vida, era A.T., o V.T. e N.T. , antigo testamento, ou velho testamento, e novo testamento.
Meus pais herdaram pequeno sítio, que literalmente, enfiaram no .. Do padre, que usou e abusou de nossa família.
Para começar, ambos jovens e fanáticos, foram iniciados dentro da igreja a satanismo, ou eram alunos e aprendizes de, pode-se dizer, uma seita fundada pelo safado do padre J., que aliciou jovens dizendo-se capaz de exorcizar pessoas endemoniadas.
Com isto, e com autorização de meu pai, e do pai de algumas moças da época, papou, se locupletou, comeu, na inocência de pessoas de boa fé, as mulheres usadas como prostitutas, não tinham coragem de delatar, o safado que era idolatrado por todos.
Eu cresci, sabendo disto, vi nascer meu irmão, filho do diabo, do padre com minha mãe, que começou a gostar, e assiduamente, praticava o exorcismo, pois meu pai era tão ingênuo, e o sexo para ele era só para procriar, não conhecendo as preliminares, nas quais o padre era professor, como cafetão de bordel, e não como pároco.
Às poucas vezes que tentei intervir, apanhei e fui exorcizado, a chicote, então disse à meu pai:
- Você merece tudo que vai acontecer!
Minha mãe havia mudado, e na nova ordem ela usava uma enorme faixa no pescoço como filha de Maria.
Era como futebol, havia duas facções, uma como meu pai, inocentemente acreditava que estava salvando o mundo e fazia altas doações para a igreja, e a outra era chefiada pelo salafrário e por minha mãe.
Era um bordel tipo Sodoma e Gomorra, não havia nem a preocupação ou decoro. Era o sultão e suas concubinas.
Coloquei minhas coisas dentro de um saco e me preparei para fugir dali.
Meu irmão viu e sorrateiramente avisou minha mãe que deu o alarme.
Pensando em sair às escondidas, caminhei por uma pequena estrada até uma ponte, que transporia, depois era só seguir uns duzentos metros e pegaria a estrada oficial de terra também, mas que me levaria daquele inferno. Quando cheguei à ponte, vi minha mãe e meu irmão.
Estavam parados, me aguardando, acho. Não me preocupei, embora só com dezesseis anos, era muito forte.
Mamãe falou:
- Você vai embora Eclesiastes?
- Vou por quê? A senhora melhor que ninguém deveria saber não é?
- Você tem maldade na cabeça, pensei que seria um substituto do padre J.
Aí eu cortei:
- E a senhora seria minha namorada também?
- Por que não? O exorcismo faz bem para o corpo e a alma.
- O nome que dou a isto não é exorcismo.
- Você só está desorientado, vamos levar você e cuidar, logo estará bom.
Tentei correr para a ponte, não percebi que estava cercado. Só o time numero um. Os putos, os trouxas, deveriam estar dormindo. Fui subjugado, e conduzido à igreja, pensei: "agora vou ver uma missa negra de perto".
Na frente do altar de uma igreja normal, fizeram outro com estátuas despidas em posições pornográficas.
"Isto aqui é satanismo, não resta à menor dúvida".
Fui amarrado ao chão em argolas, em uma prancha que ficava deitado mas inclinado, nem em pé nem deitado de todo.
O safado com uma roupa dourada e turbante na cabeça, com barba postiça comandava as mulheres nuas com máscaras nos olhos, todas jovens. Reconheci minha mãe entre elas.
Uma musica que parecia turca ou indiana não sei, e elas dançavam, se insinuando, esfregando, umas nas outras.
Queimavam incenso de igreja, mas com cheiro diferente. Comecei a sentir calafrios, e suar muito.
Vendo aquelas mulheres, inclusive minha mãe se esfregando em mim, tiraram minha roupa, me bolinando, e eu participei ativamente. Acho que o efeito alucinógeno da droga, é que fazia as moças se entregarem ao sexo, com o padre safado a fumacinha e a musica tinham poder hipnótico. Fui desamarrado e copulei com todas, inclusive com minha mãe.
Não sei por quanto tempo, só sei que a orgia durou horas. Já em casa, falei com minha mãe:
- Eu posso participar quando quiser?
- Sim, já havia preparado tudo para você, quero que você assuma o lugar do padre J.
- E o padre?
- No começo ele foi o mentor, e fez sua parte. Agora ele não consegue, pois aumentaram as pastoras e precisamos de jovens para o cargo de mestre.
- Então meu irmão?
- Não, ele é novo ainda, mas no futuro com certeza irá como você doutrinar nossas pastoras.
- E o papai?
- Para ele e todos os homens da cidade é ministrada uma poção, eles trabalham mais e aceitam todas as ordens.
- Se pararem de tomar a poção voltam ao normal?
- Sim mas ninguém quer. Na cidade não existem brigas, roubos, nem doença, a previsão é que os homens vivam até cem anos.
- Mas o aumento dos pastores e a produção das drogas?
- Não é droga, é elixir. Um para o amor, outro para a paz. Nós temos uma estufa especial, onde os cogumelos são plantados, e só o padre J, e agora eu, sei como preparar. Aceitei o padre todos estes anos porque precisava da fórmula, agora que inclusive já testei e funcionou, ele é descartável.
Minha mãe era maquiavélica. Nos subterrâneos da igreja foram construídos inúmeros tuneis e salas, a maioria desativada. Comecei a seguir o padre pois agora eu era da irmandade. Ele foi para o porão, passou por várias salas escuras, em uma delas tinha uma moça. Ele abriu a porta e falou:
- Não quero obrigá-la a nada, quero que você seja minha espontaneamente.
- Você é velho e feio! Eu nunca faria nada com alguém como você.
- Então não me resta alternativa, vou obrigá-la a tomar o elixir.
Depois, você será minha preferida, só vou matar a ministra principal, que foi boa mas já está com idéias novas.
Quando ouvi aquilo percebi que deveria agir imediatamente. Ele abaixou para acariciar a moça amarrada, e bati com um castiçal em sua cabeça.
Quando acordou já devidamente amarrado e despido; a moça, eu havia afrouxado os nós dos seus pés, porém não podia soltá-la ainda.
- Meu bom padre quero ouvi-lo em confissão.
Antes que ele respondesse, cravei meu punhal em sua coxa pouco abaixo da virilha. Ele gritou um pouco então falei:
- Isto é por esta moça que o senhor estava molestando, você sabe quantas ele já matou?
- Não...
- Acho que mais de cem, mas ele dirá, não é meu bom padre? - Retirei o punhal. Ele falou:
- Tenho muito dinheiro, dou todo para vocês, só me deixem livre. Não conto nada para ninguém, esta chave no meu pescoço, é do quarto atrás do altar, está cheio de dinheiro.
Cravei o punhal na outra perna ele gritou:
- ESTOU FALANDO A VERDADE!
- Eu também. Agora me fale quantas moças você matou?
- Não sei, algumas...
- Você ouviu? Disse que ia fazer de você sua amante certo? Fale de seu laboratório, onde fica e como o descobriu os cogumelos?
- Eu não sou padre, sou químico, botânico, na guerra fiz experiências, e deram certo. Quando perdemos a guerra, fugi e trouxe comigo alguns espécimes que cultivei e aprendi extrair o pó com os quais faço as duas poções.
- Onde está a fórmula?
- Dentro de um cofre no quarto onde você tem a chave. Lá tem um dossiê que eu iria publicar, explicando porque pode mudar o comportamento humano. Tudo isto será averiguado, quer modificar alguma coisa?
- Não tudo é verdade.
- Então agora é a hora de trazer minha mãe.
Ela não acreditou que ele queria descartá-la.
- Por você eu me tornei uma vadia, uma ninfomaníaca, não preciso cheirar nada. Gosto de tudo que faço, assim como gostei de você filho, você me completou. Sou mulher e você é homem. Só isto vamos dominar, a cidade, o estado, talvez o mundo. Teremos escravos trabalhando vinte e quatro horas horas para nós na produção dos cogumelos e com eles teremos milhares de funcionários grátis.
Quero que você reúna todo mundo na igreja, mande os homens trazerem até os leigos todos deverão vir.
Enquanto isto peguei uma enorme quantidade de dinheiro, principalmente dólares, libra, ouro e letra de cambio. A fórmula, após decorá-la, destruí-la, acumulei tudo que era explosivo nos porões abaixo da igreja. Seria coisa linda de se ver. Quando todos entraram e a igreja ficou abarrotada de gente, o padre estava acorrentado, ele queria falar, mas eu cortei sua língua. A grande Sacerdotisa começou a falar do mundo novo, desamarrei a moça, e falei:
- Seus pais, quando souberem te matarão.
- Quer vir comigo?
- Sim, todos vão morrer.
- Que morram.
Liguei o caminhão e sai em marcha lenta e ao chegar à ponte, o mundo veio abaixo. A igreja foi projetada como um foguete. Agora precisávamos começar tudo de novo, ou não. Eu tinha tudo para começar uma nova doutrina a meu modo. Olhei para a moça que estava encostada na porta com medo.
- Calma só estava divagando, não teria coragem, vamos sair daqui.
Com o tempo tentamos consertar um pouco das coisas erradas que eles fizeram. Sem nunca tentar impor a seita a ninguém. Mas o dinheiro ajudou muito a desenvolver projetos de ajuda ao próximo. Acabei casando com aquela moça que me deu a família que nunca tive.