Treblinka.

Na colônia São José tinha aproximadamente de setenta a oitenta famílias. Dentre eles, mineiros, paranaenses, cearenses, e dez ou onze famílias de imigrantes europeus, talvez alemães. Na maioria eram homens e mulheres grandes. Sem exceção, eram todos trabalhadores. Difícil dizer qual a família era mais. Dentre os homens de diversas raças sobressaia “Treblinka”. O nome era Otto, com algum sobrenome impronunciável. Pela dificuldade da pronúncia e por gostar de chacota deram-lhe o apelido de Treblinka. Talvez até ignorando o significado do nome. Ficava chateado, mas temeroso de represálias por parte dos colegas, suportava com estoicismo. Este colosso de quase dois metros de altura e mais de cem quilos atraía a atenção de várias moças da comunidade principalmente de uma. Ana era o nome que ficou, pois assim como Otto, seu sobrenome também era impronunciável. Não era tão ingênua como Treblinka, já dera alguns rasantes, tanto que tinha uma filha de nove ou dez anos. Trabalhava na roça como um homem qualquer, enquanto sua filha cuidava de sua pequena casa. Conheceu Treblinka numa festa do padroeiro do lugar. Dançaram, sendo que ela o arrastou para o salão. Namoraram sendo dela toda a iniciativa, pois Treblinka nunca desrespeitaria nenhum ser humano, principalmente uma mulher. Depois disso começaram a morar juntos. Sutilmente, ele a tirou do trabalho da lavoura, deixando-a aos cuidados da casa com a filha. A família viveu feliz por mais de dois anos, quando um mal-súbito se abateu sobre Ana que em pouquíssimo tempo com febre altíssima veio a falecer. A filha de Ana, de Treblinka de coração também se chamava Ana como a mãe e assumiu a casa embora de extrema magreza e tenra idade. Era muito trabalhadeira deixando a casa uma maravilha. Todos os dias por volta de dez horas, levava para o padrasto o almoço que era feito com muito carinho. Enquanto ele almoçava, ela aguardava pacientemente. Após com as vasilhas voltava para casa, onde terminava seus afazeres domésticos.

Nunca se vira casa tão pequenina e tão linda. Por todos os lados se viam canteiros de flores e verduras que a jovem tratava com extremo cuidado. Passados algum tempo assumiu a filha melhor que qualquer pai verdadeiro.

Mas Treblinka estava triste. Sua filha há certo tempo falava muito em um rapaz.

Nada de errado, o rapaz era trabalhador e seu sonho era arrumar um bom casamento para a filha. Chamou-a para uma conversa séria. Ela confessou que às vezes conversava com João e ele sempre a elogiava. Mas ela sempre dizia não, pois não queria dar desgosto ao pai. Porém ele insistia e pediu para conversar com ele solicitando sua mão em namoro. Após pensar um pouco, a cedeu. Não podia cercear o namoro, pois todos têm que casar um dia. E este era seu sonho de pai, levá-la ao altar. Após este dia era comum ver os pombinhos passeando de mãos dadas. Seus colegas de trabalho começaram a fazer gracinhas e ele embora contrariado, não ligou para isto. Um dia após entregar o almoço, sua filha retornando à casa parou às margens de um riacho para molhar os pés. Alguns lenhadores jovens, porém de má índole, procurando o que fazer, viram a moça no rio. Eram quatro ao todo e acintosamente, provocaram a mocinha. Ela tentou correr, mas foi cercada e subjugada se sujeitando a doloroso e bárbaro tratamento daquela corja. Embora a distância fosse longa, Treblinka parece que ouviu os gritos da filha e desesperado, com um machado em riste correu para lá. Infelizmente a moça estava muito machucada. Os bandidos tentaram reagir, mas foram decapitados pela fúria do gigante e seu machado. No outro dia, Treblinka era conduzido à prisão, enquanto o enterro de sua filha e de seus algozes era feita na pequena colônia. Após alguns meses elucidado o caso, foi libertado. Mas o gigante Treblinka, estava morto também. Virou um indigente bêbado procurando sempre a filha que nunca mais voltará. Encontraram-no morto, havia se enforcado em uma àrvore do quintal. Toda a casa foi saqueada, como a mobília, tudo que podia ser carregado foi levado por vândalos, ou falsos amigos. Treblinka com certeza não ligou, deve ter se encontrado com a esposa e a filha em algum canto do universo.

Esta triste história é fictícia, o intuito é reforçar cuidado que se deve ter com a família e usufruir o máximo possível de nosso dia de hoje, pois o amanhã é uma incógnita.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 05/11/2011
Reeditado em 12/01/2012
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