"Valdirene e o Lobisomem."

Dona Valdirene morava com o marido Adamastor numa colônia da fazenda Riviera. Já ouvira falar em assombração mas não acreditava e o marido também não. Uma senhora que passava pela estrada pediu água. Após servi-la ofereceu também um prato de comida que a outra aceitou. Agradecida, a andarilha falou:

- Você está exposta aqui sozinha, não sabe o perigo que corre? - Por educação não falou que não acreditava, então a outra começou a falar. - Você tem filho pequeno, vi roupas no varal.

- Sim tenho, um filho de três anos por quê?

- Lobisomem filha, o cão maldito. Geralmente ele fica por dois ou três anos parado. De repente, começa tudo outra vez. Na lua cheia, ele corre por estes lugares a procura de vítimas, geralmente criança e mulher. Você tem alho?

- Sim, tenho. Coloque na janela e no batente das portas, ele detesta alho e só se tiver com muita fome. Mas o alho e rezas são o que o faz fugir.

Como não tinha nada a perder, mesmo não acreditando Dona Valdirene colocou o alho nos locais ditos pela andarilha. Quando o marido chegou falou para ele da visita e do alho. Ele ficou muito nervoso e obrigou-a a tirar imediatamente, dizendo ser besteira. Preocupada começou a prestar atenção ao marido, que agia estranhamente, principalmente na lua cheia. De manhã foi apanhar lenha, para fazer o fogo do almoço. Sentiu um forte cheiro e viu urubus, que voavam sobre um local próximo. A curiosidade a conduziu a uma ravina onde encontrou a andarilha morta com o pescoço rasgado por talvez um animal, um lobo ou cachorro do mato. Como tinha que levar o filho na cidade para tomar vacina, não avisou o marido para não preocupá-lo. Colocou uma coberta de lã vermelha enrolada na criança pois fazia frio. Caminhou até a cidadezinha, ao posto de saúde. Voltando para casa já ao escurecer, ao passar por uma porteira, ouviu uivos e grunhidos de animal furioso. Com medo subiu na porteira e em seguida foi atacada por enorme cachorro. Era horrível e provavelmente seria o lobisomem. Sua cara estava em fogo e seus olhos pareciam duas brasas. Nada tinha para se defender então bateu nele com o cobertor. Lembrou do alho e conseguiu jogar alguns dentes sobre ele que com raiva se retirou. Correu para casa e chegou à porta quando já anoitecia.

Seu marido dormia em uma rede na varanda. Com pena, pois estava esfriando, pegou uma manta pra ele. Quando se aproximou viu trapos e fios de lã vermelha em sua boca e unhas. Sua face tinha ainda traços caninos. Correu para a sala e pegou uma espingarda que pertencia ao próprio marido. Quando retornou à rede o marido já estava normal. Tentou dissuadi-la dizendo que tal fato não mais se repetiria. Como ela não baixou a arma, ele se irritou e começou a se transformar novamente. Antes que ele virasse lobo, arrancou sua cabeça com dois tiros de doze.

Não foi incriminada, pois ele ao morrer ainda estava com garras, no lugar de pés e mãos. O fato foi encoberto pela polícia, pois ninguém tinha uma explicação para o fato.

Oripêmachado

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 02/11/2011
Reeditado em 13/11/2011
Código do texto: T3313516
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