"A Vingança do Gato"

Eu era um escritor falido, morava no Parque Dom Pedro Segundo em São Paulo. A situação estava terrível, estava em um cômodo nos fundos de uma casa. A proprietária no começo foi compreensiva quanto a minha falta de pagamento. A partir do terceiro mês, vendo que a situação não mudava e eu nada fazia para modificar, começou a me maltratar. Primeiro, fez desligar o chuveiro. Comecei a tomar banho frio. Depois desligou a água, deixando-me sem banho por dias. Ela não sabia, mas todo dia eu saia com uma pasta debaixo do braço, procurando editoras para poder publicar meus contos. Com o passar dos tempos e a precariedade das roupas, não era mais atendido, precisava de dinheiro para reverter situação. Precisava urgente de calça, camisa, e um paletó ou blusa, pois tudo que eu tinha estava rôta ou rasgada. Se a maldita me emprestasse algum, mas seria mais fácil uma espaçonave vir e me levar para Marte. Preocupado, com fome e sem energia elétrica para ouvir um rádio sequer, minha única distração era ouvir a megera e seu maldito rádio, e conversar com seu maldito gato preto, que sujava e aranhava a minha porta. A coisa estava chegando a tal ponto que tinha ganas de matá-la, bem como seu querido bichano. Se eu pegasse seu dinheiro, sei que ela o tinha, poderia comprar roupas novas e seria melhor recebido, talvez vendendo até minhas histórias, que eram muito boas. No auge do paroxismo, atraí o Gato para meu quarto e quis matá-lo. Quase que a situação se reverte, pois o danado me mordeu e arranhou minha cara, pescoço e uma das mãos. De graça não saiu porque machuquei-o também. Parece que ele desapareceu, pois a ouvi chamando-o insistentemente por horas. Munida de uma faca ela invadiu meu quarto. Dando-me todos os nomes e adjetivos gritava me ameaçando:

- Se você fez alguma coisa com meu gato, eu te esfolo vivo, seu indigente!

Como viu eu todo machucado, pensou que eu tivesse matado o infeliz, e quis me furar. Ela era muito gorda, e eu estava fraco, mas consegui dar uma boa surra nela. Quando perdeu a faca começou a me tratar melhor. Mas quem estava com raiva agora era eu, e num ato de loucura, dei algumas furadas em sua enorme barriga. Sujamos todo o quarto de sangue, mas ela não morreu. Aproveitei para tirar de sua larga cintura uma bolsa com algum dinheiro. Só que era uma quantia pequena, e eu sabia que ela tinha mais. Comecei a castigá-la para saber onde escondia o dinheiro. Ela contou tudo, peguei o dinheiro e a piquei em pedaços. Levei a noite toda, depois joguei seu corpo no rio Tietê que passava próximo de casa. Fiz uma limpeza geral deixando tudo sem o menor vestígio.

Após alguns dias recebi uma visita indesejável, era a polícia. Queriam saber da dona da casa. Após uma sessão de interrogatório, parece que se convenceram e iam embora. Um policial já havia saído e quando o segundo já chegava a porta, O maldito gato preto aparece. Caí em prostração, pois aquele maldito do inferno tinha em sua maldita boca, uma maldita mão, da maldita gorda: a síndica.

Hoje estou numa cela no manicômio judiciário, pois descobriram tudo. Na cela tem uma pequena janela e sabe quem vem me visitar toda noite? O maldito gato preto, que parece rir de minha cara!

Oripemachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 02/11/2011
Reeditado em 13/11/2011
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