Dama de Copas: Mais Surpresas
Chegando ao bar pude sentir que a maioria dos ali presentes eram humanos aproveitando a noite. Alguns bebendo com os amigos, outros em um clima mais de romance, mais todos seguindo suas vidas normalmente. Como se aquele fosse realmente mais um dia e eles tivessem toda a eternidade para viver e serem felizes.
Era nesses momentos que eu me lembrava com mais intensidade dos meus anos como humana, me lembrava dos passeios pelos parques londrinos, acompanhada de amigas, e de conhecidos, dias de verão passados no campo, aonde quando criança adorava explorar o bosque que havia na propriedade de meu pai, me lembrava com nostalgia do pomar que havia na estufa, o cheiro inebriante de laranjas e limões que inundavam o ambiente, sem contar com flores exóticas que minha mãe cultivava, me lembrava de como era bom sair a passear durante o sol da manhã e do espetáculo que era quando os raios solares brilhavam no gramado ainda molhado pelo orvalho.
Ainda absorta nessa lembranças, senti que um rapaz se aproximava de mim, com algum interesse. Sempre gostei desse jogo de conquista e sedução, e agora podia apreciar um pouco esse jogo como uma distração de tudo o que estava acontecendo.
- Boa noite!
- Boa noite!
Me virei e vi um rapaz alto, moreno, olhos castanhos, uma presença forte e marcante. Já havia percebido que varias garotas olhavam com interesse para ele.
- Está esperando alguém?
- Não, estou apenas espairecendo um pouco.
- Posso fazer-lhe companhia então?
- Claro, adoraria!
Ele sentou-se ao meu lado na mesa e chamando o garçom pediu duas taças de vinho.
- Desculpe-me, não me apresentei, me chamo Marco.
- Prazer Marco, me chama Danielle.
- Bonito nome, mais acho que o nome faz jus à beleza de quem o leva.
- Obrigada.
Ri comigo mesma ao perceber o quanto ele estava tentando realmente me conquistar. Não podia deixá-lo pensar que ele não tinha nenhuma chance, então sutilmente deixei que uma onda de satisfação atingisse ele, só o suficiente pra ele achar que estava sendo bem sucedido.
- Mas o que você faz aqui sozinha nessa noite Danielle?
- Estou apenas me distraindo um pouco, tentando organizar meus pensamentos.
- Mais porque uma moça tão linda como você precisaria organizar seus pensamentos?
- Apenas tentando entender os mistérios que nos cercam.
- Uma estudiosa então?
- Digamos que sim. Gosto de ver como as pessoas realmente reagem as situações.
- Interessante, mais porque apenas observar, quando pode participar dessas emoções?
Pude ver por traz das suas palavras as suas verdadeiras intenções, até levaria esse jogo mais adiante, mais nesse momento percebi que alguém no bar me procurava e era uma criatura da noite. Não poderia ter aquele jovem ao meu lado, seria perigoso para ele. Não gostaria de ser responsável por sua morte ou por qualquer dano que aquela outra criatura pudesse lhe fazer.
Vi que uma garota que estava a algumas mesas de distância estava olhando com algum interesse pra ele, então consegui manipulá-lo para prestar atenção na garota e assim ele estaria salvo, pelo menos por hoje, após isso respondi sua pergunta
- Eu prefiro muito mais observar, sou melhor nisso. E agora mesmo percebi que a garota da outra mesa não parou de prestar atenção em você desde o momento em que você se sentou aqui.
- Bom, devo confessar que também tinha olhado para ela.
- Então, porque não vai conversar com ela, acredito que será muito melhor.
- Se você me der licença.
- Claro Marco. E não se esqueça, nem sempre temos segundas chances na vida.
Ele saiu da mesa, e se dirigiu à garota, pude sentir que ela estava se sentindo privilegiada pela presença dele. Humanos, tão fácil de influenciá-los, e realmente parecia que os dois seriam boa companhia um para o outro.
Então me foquei novamente na criatura que me procurava, o avistei no mesmo momento que escutei seus pensamentos. Evra, tínhamos nos encontrado.
- Danielle, que surpresa encontrar você.
- Realmente, Evra?
- Vejo que não está muito contente com a minha presença.
- Não particularmente.
- Posso me sentar?
- Claro, porque não?
- Vejo que seu humor não está dos melhores hoje.
- O que você esperava Evra?
- Talvez uma recepção um pouco melhor para um amigo.
- Estou pensando seriamente nessa definição, levando em conta suas atitudes recentes.
- Está se referindo ao seu consorte? Ou a minha visita em sua casa?
- Às duas coisas Evra. Agora me diga, porque você veio agora, depois de todos esse anos?
- Já falei, apenas queria rever velhas amizades.
- Evra...
- Tudo bem, não foi somente por isso, vim também porque ouvi que Sammael e Christine estavam na cidade.
- Agora sim chegamos a algum lugar. Seu interesse específico é em quem?
- Sammael, claro, mais como sei que ele está junto com Christine resolvi te procurar.
- Claro e no caminho não se importou em destruir nada mais.
- Por favor Danielle, não fiz nada, apenas contei a Lorde Damien que você e Christine eram amiga.
- E qual seu interesse nisso Evra?
- Interesse nenhum, apenas sabia que se Lorde Damien continuasse ao seu lado você nunca me ajudaria a chegar até Christine.
- Um jogo de interesse.
- Sim, apenas isso.
- E que tal um acordo, te falo aonde Christine está e você segue seu caminho e faça o que quiser e não me incomoda mais.
- Não prefiro um outro acordo, saímos daqui para caçar como nos velhos tempos, conversamos e então você me fala tudo o que sabe de Christine.
Bom realmente eu estava precisando caçar, e com Evra junto seria mais fácil, eu ainda estava um pouco fraca pelo esforço dos conjuros de proteção, poderia me transformar facilmente em presa de outras criaturas.
- Tudo bem Evra, aceito seu acordo. Mas não se glorie muito com isso. É apenas um acordo temporário.
- Claro milady, podemos?
Me levantei aceitando o braço de Evra, ele não havia perdido os costumes de cavalheiro, e isso sempre me divertia nele. Evra havia sido quase como um irmão pra mim no tempo em que passamos juntos, aprendi muito com ele, sentia falta de sua presença.
Saímos do bar e fomos caminhando pela cidade, decidimos ir para a parte da cidade aonde haviam mais criaturas, resolvemos nos fingir de turistas perdidos, indefessos e frágeis, aquele jogo era divertido, conseguíamos disfarçar muito bem nossa presença de outras criaturas e elas eram levadas a acreditar que realmente eramos humanos. Logo no primeiro ataque, pegamos quatro criaturas, eram jovens ainda, praticamente inexperientes, foram fáceis de matar. Descobri que eram mais mandados de Sammael, mais eram somente guardiões, não estavam preparados para uma luta. Queimamos aqueles corpos e saímos novamente, agora me sentia muito melhor, estava recuperando minhas forças e com isso ficava mais forte minha percepção dos que estavam ao meu redor. Consegui pegar um pensamento aleatório de Evra, lembrando-se de uma noite em que Lorde de Copas e ele haviam saído para caçar algumas criaturas para poder fazermos nosso vinho, e vi como as lembranças se tingiram de saudades.
- Também sente falta desse tempo?
- Sinto, é como se não fosse possível que ele tivesse tido o destino que teve.
- Também demorei a me acostumar com a falta dele.
- Mais vejo que não superou totalmente, já que ainda continua morando na mesma casa
- Acho que essa é uma forma de continuar viva a lembrança dele.
- É, acho que é bom ter algo pra recordar, de quem amamos.
- Que tal agora uma investida de captura? Meu vinho já acabou!
- Então precisamos encontrar criaturas especiais.
Nos concentramos e pudemos sentir que haviam cinco criaturas perto de nós, fizemos nosso teatro novamente e conseguimos pegar aquelas criaturas, direcionei um conjuro que as deixaria semi-conscientes e assim conseguiríamos levá-los até minha casa, não estávamos longe e assim que chegamos, os levamos para o porão e fizemos vários cortes em seus braços, deixando o sangue cair em um recipiente que mais tarde misturaríamos o vinho e terminaríamos de prepará-lo. Foi um processo rápido até todo o sangue daquelas criaturas ter terminado, recolhemos os recipientes com o sangue e queimamos seus corpos, limpamos tudo e começamos o processo de mistura, envolvia um pequeno conjuro para que fosse retirado as lembranças e emoções daquelas criaturas mas antes provamos um pouco do sangue e descobrimos que aqueles eram enviados de Christine e que estavam vindo a minha procura, bom, eles haviam me encontrado. Terminamos rapidamente o processo todo, com a ajuda de Evra havia sido bem mais rápido e menos cansativo, engarrafamos todo o vinho, a adega ficou bem abastecida.
Saímos do porão e fomos para a sala, aonde abrimos a última garrafa que Lorde de Copas havia feito, conversamos por algum tempo, então Evra levantou-se.
- Preciso ir agora Danielle.
- Não prefere ficar, descansar e partir amanhã?
- Não, tenho outros planos em mente, acho que aceito a sua oferta sobre a localização de Christine.
- Bom, se é isso mesmo que você quer.
- Sim, eu já adiei demais esse confronto com Sammael.
- Muito bem.
Passei a localização de onde Christine estava e o alertei de que ela poderia estar bem zangada levando em conta minha última visita. Evra pôs-se a rir, de minha vingança pela metade, ele sempre me achara compassiva demais com meus adversários.
- Bom Danielle, preciso ir mesmo, tenho que resolver essa pendencia com Sammael.
- Tudo bem, não vou te segurar mais.
- Obrigado por me dar a oportunidade de ver que amigos sempre existem.
- De nada, eu também agradeço a ajuda. Mas leve ao menos uma das garrafas de vinho.
- Uma outra hora eu volto e pego uma, não se esqueça de guardar uma pra mim.
- Claro que não vou marcar uma com o seu nome, e ela ficara esperando por você.
- Obrigada Danielle e adeus.
- Até logo Evra.
Evra saiu, e foi a procura de Christine, foi muito bom encontrá-lo, e poder relembrar dos bons momentos que tivemos juntos. Evra podia ser um pouco intempestivo, mas era um bom amigo, e também um excelente guerreiro, e agora ele estava a caminho de conseguir tudo o que persegui boa parte de sua vida, a vingança contra Sammael por ele haver matado sua família. Fiquei ali esperando poder ve-lo em breve, ele seria um ótimo aliado naquela guerra sem sentido.