A cruz e o canino - Capítulo 17: A decisão decisiva
Santa Fé – 1982
A escola estava vazia, e as portas, abertas. Os dois padres e o seminarista entraram cautelosos, mas nada aconteceu, então eles adentraram o corredor.
O silêncio foi quebrado por quatro vampiros que saíram de uma sala, e pararam, olhando o grupo dos três humanos.
-Eu cuido deles. Vão logo atrás de Adriano. - disse Eustácio, com a espada em punho.
-Você não pode ficar sozinho. - disse Antônio.
Pedro olhou para Antônio e sacou uma estaca.
-Eu fico com ele.
Antônio arregalou o olho.
-Desde quando você...?
-Eu só vim preparado. Aprendi com um aluno meu.
Antônio sorriu e correu para subir as escadas, mas, na metade do caminho, Pedro o interrompeu com um chamado:
-Você vai ficar bem, Antônio?
-Eu que sou o caçador de vampiros aqui. Eu que tenho que me preocupar com o bem-estar de vocês. - e subiu.
Quando Pedro se virou para os vampiros, um já jazia decapitado ao chão e Eustácio chutava outro, logo em seguida posicionando a espada para um próximo ataque. O padre agachou e calmamente enfiou a estaca no peito do vampiro. “Por via das dúvidas...”
-Você não vai me ajudar? - gritou Eustácio, entre um golpe e outro.
-Você não está mostrando precisar de ajuda. Vou ficar aqui, estarei à disposição.
-Muito obrigado... acho.
-Uma dica, acerte-os no coração.
Eustácio aproveitou a dica e o golpe seguinte foi certeiro no coração do demônio.
-Viu isso? Tenho jeito para esse negócio, não? - disse o menino, se virando para o padre.
-Cuidado com a cabeça!
Mas o vampiro era demasiado rápido e acertou em cheio a cabeça do menino, que girou e caiu no chão.
-Deixe comigo agora. - disse Pedro, atacando o vampiro que golpeara Eustácio na cabeça.
O vampiro caiu, e Pedro enfiou a estaca em seu coração. Agora é um contra um. O quarto vampiro urrou e correu para cima de Pedro, que facilmente desviou, mas logo percebeu que ele não era o alvo.
-Eustácio!
O menino olhou para cima a tempo de ver o vampiro o erguer no ar e o jogar para longe, e ele caiu sobre o braço, desacordado, após acertar uma parede. Pedro caiu em cima do monstro, que, com um único golpe, fê-lo soltar a estaca, que parou longe. O padre não se abalou com a falta da estaca e deu um soco na face do vampiro, para se livrar de seus braços. Nada aconteceu, o vampiro não soltou o padre, que suspirou, entendiado, e calmamente pegou um vidrinho com água benta no bolso e destampou-o.
-Eu tentei ser bonzinho, mas não deu. - e jogou o conteúdo do frasco pela garganta do bicho, cuja boca estava aberta. O vampiro começou a agonizar, e Pedro pegou a espada de Eustácio, mas errou a mira do golpe e decepou o braço do vampiro.
-Foi mal, - disse, mais em respeito ao corpo do finado que pelo demônio, mas acertou o golpe seguinte, e o vampiro caiu no chão.
Pedro correu até o menino, o braço dele estava quebrado.
-Esse menino só dá trabalho, - pensou alto. - mas se você o visse agora, Antônio, ficaria orgulhoso de seu aluno. - e saiu para pegar bandagens para prender o braço quebrado de Eustácio.
O padre correu o máximo que pôde, receoso de que algo acontecesse ao menino enquanto ele estava longe, e logo voltou com as bandagens e atou o braço dele, enfim aquele curso de primeiros-socorros serviu para algo.
Antônio chegou ao segundo andar e viu uma luza saindo de uma sala. Adriano estava repetindo o ritual que Antônio vira algumas horas atrás, e entrou na sala, dizendo:
-Onde você arranjou tanta gente para sacrificar?
-Estavam nos outros quartos secretos.
-E como ninguém desconfiou que tanta gente sumiu?
-Nem todos são seminaristas, não sou idiota.
-Não é? - disse Antônio, com a seringa de Adriano na mão.
-Quando!?
-Você realmente não é um vampiro, é lerdo demais.
-Adriano colerizou e foi para cima de Antônio com uma faca na mão. O padre bateu no pulso com a arma, torceu o braço e derrubou Adriano, imobilizando-o no chão.
-Me diga o motivo.
-Vampiros são imortais, são perfeitos.
-São demônios.
-São superiores.
-Não são naturais.
-Júlia!
A mulher entrou na sala e deu um chute na boca do estômago de Antônio, que caiu no chão com a mão na barriga, gemendo de dor.
Adriano levantou e alongou o braço machucado, pegou a faca e estendeu-a para Antônio.
-Você vai morrer e eu irei dominar o mundo com meus vampiros, o meu deus é mais forte que o seu. Você morrerá e eu viverei. Eu escolho quem vive e quem morre, eu posso ressucitar os mortos, matar os vivos. Quais são suas últimas palavras?
-Cuidado com a cabeça.
Adriano olhou com uma cara de dúvida para Antônio e levou um golpe de espada na cabeça, e só caiu vivo no chão porque a espada estava na bainha. Júlia, que estava sobre Antônio, o beijou, e ele sentiu suas forças indo embora, como no sonho. Tinha Júlia novamente em seus braços, mas aquela não era Júlia, então Antônio se soltou da mulher e a imobilizou, mas, ao erguer a estaca, ela olhou para ele e disse, chorosa:
-Você vai me matar? Você teve a chance de viver comigo para sempre e vai me matar? Você não me ama. Nunca me amou.
-Morra, demônio! Eu amo Júlia, mas você não é ela. - e cravou a estaca no peitou do vampiro.
-Não! - gritou Adriano, enquanto Júlia gritava de dor.
O reitor conseguiu se soltar dos braços de Pedro, pegou o revólver na mesa e atirou nos próprios miolos, cambaleou até a janela, de onde caiu. Uma bando de moscas pegou o cadáver e o devorou numa velocidade inacreditável, deixando apenas roupas no chão.
Pedro olhou para Antônio e viu marcas de mordida em sua boca, e disse:
-O negócio foi bom, hein?