A cruz e o canino - Capítulo 16: Traição

Santa Fé – 1982

Antônio passou a vigiar o reitor e a observar seus hábitos. Via quando ele chegava, observava-o na hora do almoço e via-o indo embora. Adriano nunca fazia nada suspeito, era extremamente pontual e seguia uma rotina rigorosa. Ele era tão metódico que chegava a parecer que era tudo planejado para esconder algo, suas atitudes eram demasiado perfeitas. Adriano sabia que estava sendo vigiado, e, por isoo, agia impecavelmente para não levantar suspeitas, e era isso o que o tornava um forte suspeito, pensou Antônio.

-Pedro, eu estou começando mesmo a achar que foi Adriano.

-Por que, Antônio? Descobriu alguma coisa?

-Não, mas ele está agindo muito supeitamente.

-Ele fez o que de estranho?

-Nada. Esse é o ponto. Ele está normal de mais, e isso é anormal até para ele.

-Isso não é suficiente para acusar alguém, mas temos que ficar de olho nele, de qualquer forma. Cuidado com o que você faz.

-Relaxe. Eu sei o que estou fazendo.

-Espero...

Antônio estava na biblioteca lendo e ouviu um barulho. Seguiu-o e chegou à porta de uma sala, a qual estava entreaberta, e uma fumaça saía por ela. O padre olhou pela fresta na porta e viu um homem encapuzado, em frente a um altar igual àquele do quarto secreto, com várias velas acesas, e, a seu lado, várias pessoas deitadas. O homem recitou algumas palavras emum língua estranha, cuja sonoridade se assemelhava a árabe ou hebraico, e, depois que se calou, o homem pegou uma seringa e coletou o próprio sangue, que misturou com algum tipo de soro e injetou-o nas pessoas, que, depois de sofrerem convulsões severas, levantaram-se. Eram vampiras.

O padre colocou a mão no bolso, mas não estava com sua estaca, então continuou apenas a observar aquele show bizarro. Os vampiros andaram em sua direção à porta, e Antônio disparou para a entrada do prédio, mas esta estava trancada.

Quando os vampiros o alcançaram, Antônio pensou que seria o seu fim, mas eles nada lhe fizeram, senão segurá-lo. Antes de desmaiar por causa de uma pancada na cabeça, Antônio vira o homem encapuzado se aproximando e se permitindo ver-lhe o rosto. Era Adriano.

-Ora, ora. Olhe quem temos aqui.

E Antônio apagou.

-Bom dia. Você dormiu um bocadinho, mas não se preocupe, hoje não haverá aulas aqui, não tem ninguém para te salvar.

Antônio estava tonto, ainda não havia acordado direito, mas pôde ver o reitor e, ao seu lado, Eustácio.

-Maldito! Eu sabia! - bravejou Antônio, olhando para o aluno, que ficou calado.

-O menino estava do seu lado, - disse Adriano. - e é um aliado fiel. É culpa sua tê-lo dispensado, e ele me é muito útil. É uma pena.

Eustácio olhou para Antônio com uma expressão triste, culpada, e Antônio retribuiu com um olhar de reprovação.

-Você estava certo quanto ao draculismo, Antônio, - começou Adriano. - mas errou em ter confiado tanto em mim. Naquele dia eu voltei com medo de você descobrir mais coisas, mas percebi que você não é assim tão sagaz. Você é um ótimo professor, que pena que morrerá. Mas não se preocupe, você será muito útil no meu exército de vampiros.

-Por quê?

-Você sabe. Você leu no meu livro. Porque os vampiros são superiores.

-E por que você não?

-Não sou idiota. Não vou cometer os erros dos meus antecessores. Eu nasci humano e morrerei humano. É lamentável, mas é a vida.

-Você...?

-Antônio, vamos com calma. Deixe-me te explicar tudo primeiro. Eu fiz um pacto com Baal-Zebub, e controlo todos os vampiros que crio. E como criou? Você viu. Eu misturo o meu sangue com sangue de vampiro e injeto em alguém. Consegui o sangue com o vampiro que mandei de presente para o bispo, mas não se preocupe, eu usei um pouco de magia negra, e olha o que eu consegui fazer...

Uma vampira entrou na sala. Era magra e muito pálida, mas muito bela. Antônio não precisou de mais que um instante para reconhecer os cabelos escuros e os olhos azuis de Júlia.

-Eu a trouxe de volta, eu mando na ida e na morte. Eu tenho o poder! Nem Deus pode comigo, porque eu tenho Satanás! Eu sou invencível!

Antônio saiba que aquela não era Júlia, era um demônio em seu corpo, mas seu coração bateu forte ao ver o cadáver da mulher.

-Quando eu te tranformar em vampiro, você terá toda a eternidade ao lado de Júlia... Ah, é! Esqueci-me de dois pequenos poréns: agora ela é minha, e você não será mais você depois que virar um vampiro. Agora eu tenho mais o que fazer, vou deixar Eustácio cuidar de você. Vamos, Júlia!

O homem, novamente encapuzado, deixou a sala juntamente com a vampira. Eustácio pegou uma faca e levantou-a contra Antônio.

-Por que você fez isso? - perguntou Antônio.

-Eu tenho que fazer a coisa certa.

O menino deu o golpe com a faca, e Antônio fechou os olhos. A faca pegou em suas amarras, uma por uma, e o padre logo se viu livre.

-Achou mesmo que eu ia ficar do lado desses demônio? - debochou Eustácio.

-Para ser sincero, sim.

-Vamos, agora não temos tempo para isso.

-Desde quando você manda em mim?

Eustácio olhou sério para o padre e disse:

-Eu salvei sua vida, padre, você não é melhor que ninguém, nem mais nem menos mortal. Mais humildade aí.

Antônio sentiu raiva, o menino tinha razão.

Antônio ligou o carro com o meninio no banco do carona e correu para a catedral. Pedro estava assistindo a um missa do bispo, como adorava fazer, e Antônio falou para ele, quando entrou na igreja:

-Vamos, rápido.

-Espere, estou assistindo à missa.

-Assista depois, isso é mais importante. - disse Antônio impaciente.

-O que pode ser mais importante que uma missa?

-Adriano está por trás de tudo, e ele está reunindo um exército de vampiros. Precisamos de você para detê-lo.

-Está bem, mas você me devendo uma missa.