A cruz e o canino - Capítulo 15: Ao ataque!

Santa Fé – 1982

A escola estava escura, apenas as luzes da biblioteca estavam acesas. Antônio lia um livro em uma mesa na biblioteca, como gostava de fazer. Não houve mais incidente algum depois do quarto secreto, e a rotina já se reestabelecia com a reativação do prédio do seminário. Antônio estava concentrado em sua leitura sobre História da Igreja quando ouviu um barulho no corredor. Pegou sua estaca e ficou atrás da porta, esperando, e, quando o vulto passou, Antônio pulou sobre ele.

-Morra, demônio maldito! - berrou o padre, sobre o vulto, levantando a estaca.

-Sou eu! Pedro! Abaixe isso, Antônio!

-Ah! Perdão. - disse Antônio, enquanto se levantava e ajudava o amigo a levantar.

-Eu trago notícias para você e é assim que sou recebido? - riu Pedro.

-Desculpa. Você me assustou. Mas então, o que foi? Descobriu alguma coisa?

-Não é bem isso.

-Então é o que?

-É o bispo...

-O que tem o bispo?

-Ele foi atacado por um vampiro. Está no hospital.

-Ele está bem?

-Ele não corre riscos, mas tem que ficar de cama por uns dias.

-E qual é a história oficial? Falaram de vampiros?

-Não. Ele escorregou no banheiro e caiu.

-Vamos visitá-lo.

-Vamos amanhã, já está tarde, ele deve estar dormindo.

-Tem razão. O vampiro era alguém conhecido?

-De rosto não, mas eu descobri que era o tio de Eustácio. Acho que foi o cara que fugiu naquele dia no cemitério. Agora vá para casa dormir, você está cansado. Amanhã cedo passo lá para visitar-mos ele.

-Boa noite, vou só pegar minhas coisas ali dentro antes de ir.

-Boa noite.

-Com licença, o senhor tem visitas. - disse uma enfermeira ao bispo.

-Bom dia, - cumprimentou Antônio, ao entrar. - a bênção, bispo.

-Deus te abençoe, filho.

-Vocẽ está bem?

-Estou sim.

-Pedro me contou o que houve. Como foi?

-Eu estava em casa ontem, e a campainha tocou. Abri a porta, mas niguém estava lá, apenas um bilhete, na qual estava escrito “Sua hora chegou”. Achei estranho, mas não liguei. Quando me virei, vislumbrei um vampiro à minha frente. Corri em direção à pia de água bente, mas o vampiro foi mais rápido e me atacou. Ele caiu ao chão por cima de mim e eu pude sentir seu bafo gélido em minha face, numa mistura de mau cheiro e perdição. Gritei ao tentar empurrá-lo, mas meu corpo não respondia. Estava imobilizado sob a força descomunal do demônio. Ele me encarou com aqueles olhos diabólicos e eu fiz a única coisa que podia, comecei a rezar um Pai Nosso. O vampiro riu da minha cara, mas eu continuei rezando. Ele ia se aproximando, com aquele expressão macabra característica dos seres das trevas, e, quando estávamos nariz com nariz, Pedro saiu do quarto e foi até a sala, onde matou o vampiro. Foi uma luta árdua, o vampiro era muito forte, mas Pedro lutou bravamente. Ao ouvir meu grito ele correu em direção ao vampiro e o jogou para longe. O vampiro rolou no chão, e Pedro pegou a pia e jogou nele, que urrou, mas era forte e logo se levantou. Ele correu na direção de Pedro, que desviou no último momento e deu uma rasteira nele, que, por sua vez, caiu no chão novamente. Pedro arrancou um estaca de madeira da perna da mesa e a abençoou. O vampiro tentou correr, mas teve o peito transpassado pela estaca, e caiu no chão. Pedro chamou uma ambulância, pois eu não conseguia me mover e, depois que me trouxeram para o hospital, ele foi cuidar do corpo do vampiro, com os devidos rituais, e depois foi atrás de você, a pedido meu.

-Mas você está bem?

-Estou bem, mas quebrei uma vértebra quando caí no chão, e não voltarei a andar, mas isso não é o fim da vida.

-Meus pêsames.

-Não se preocupe com isso, não é culpa sua. Vá descobrir o porquê de tantos vampiros e desse comportamento anormal. Eu acho que a pessoa por trás do meu ataque é a mesma do incidente da escola.

-Não me surpreenderia se assim fosse.

-O bilhete está em casa, em algum lugar da sala. Quero que você o leia.

-Está bem. Já vou então.

Antônio saiu da sala e falou para Pedro, que esperava no corredor;

-Vamos para casa. Você sabe onde está o bilhete?

-Coloquei-o em cima da mesa da sala. Estava no chão, o bispo deixou cair quando foi atacado. Vamos lá.

A sala estava bagunçada por causa da luta, as cadeiras for a de lugar e, sobre a mesa, cujo vidro se quebrara, jazia um bilhete. Antônio o pegou e leu:

Sua hora chegou.

Ass.: A. C.

-Quem é A. C.? - perguntou Antônio.

-Seu nome não é Antônio de Castro?

-Sim.

-Será que alguém está de gozação com seu nome?

-Não sei. - disse Antônio, e se lembrou da capa do livro que tinha a passagem sobre draculismo. - Espere, o nome do reitor é Adriano Costa.

Jacobina
Enviado por Jacobina em 09/10/2011
Código do texto: T3265857
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.