A cruz e o canino - Capítulo 13: O quarto secreto.
Santa Fé – 1981
No fim do corredor havia uma escada que descia para o subsolo, onde havia um cômodo, no qual estavam corpos deitados em macas. Antônio contou 3, mas Pedro viu mais um, sentado no canto do aposento, sangrando. Antônio verificou a pulsação dos que estavam na macas, todos estavam vivos e quentes, mas não muito. O homem da parede estava morto e jazia com o ventre aberto, revelando-lhe as tripas, e no rosto uma expressão de agonia que ainda não cessara por causa do rigor mortis, e a temperatura mostrava que estava morto há não muito tempo. Pendurado em uma parede, aquela mesma cruz demoníaca do altar ensanguentado, encarando todos com seu olho de cobra. Cada um dos homens pegou uma pessoa que estava deitada, e subiram as escadas. Quando saíram da passagem, viram o reitor, que esperava na sala, com um revólver na mão.
-Vocês disseram que eu fosse embora, mas logo os vizinhos me ligaram e me falaram que ouviram uns barulhos estranhos vindos deste prédio, e eu vim ver o que era. Estava ligando para a polícia quando ouvi o barulho de vocês nesta sala.
-Pois ligue, achamos essas três pessoas lá embiaxo e ainda um cadáver jogado num canto. Acredito que quem fez isso tenha uma forte relação com o Diabo, por causa do tipo de decoração. - disse Eustácio
-Cale-se, menino. - reclamou Antônio. - Reitor, pegue este aqui comigo e levem os três para um hospital. Vou pegar o corpo do vampiro enquanto a polícia chega.
Pedro, Adriano e Eustácio foram até o carro do reitor, um Dodge Dart.
-O que está acontecendo aqui? - perguntou Adriano.
-Você bem sabe que há vampiros aqui. E eu acredito que nós achamos o ninho deles. - respondeu o padre exorcista.
-Então tudo acabou, certo?
-Duvido. Acho que há mais gente por trás disso, nós vimos um altar e uma cruz diabólicos, provavelmente quem está por trás disso é de algum rito satânico.
-Você acha mesmo que isso não foi só um incidente?
-Havia um quarto secreto atrás de uma sala de aula, alunos virando vampiros e envolvimento com cultos satânicos. Acho que esse não foi um incidente isolado. Isso faz parte de algo maior.
-Não creio que possa haver algo assim dentro do seminário.
-Pode haver algo assim em qualquer lugar.
Eles chegaram ao carro e posicionaram os corpos desacordados nos assentos, e Adriano falou para Pedro:
-Levem vocês dois, eu vou voltar e ficar com Antônio.
-Acho melhor eu ficar com Antônio, - disse Pedro. - e o carro é seu.
-Eu chamei a polícia e eu sou o reitor daqui. É melhor eu ficar.
Pedro ligou o carro e saiu para o hospital.
O reitor voltou para a sala, mas nem sinal de Antônio nem do cadáver. Ele gritou pelo padre, que logo apareceu, com um volume enorme em mãos.
-Desculpa a demora, - disse Antônio. - eu fui guardar o cadáver do vampiro e aproveitei e peguei um livro na biblioteca. Olhe isso.
O padre pôs o livro na mesa do professor e abriu numa página marcada.
-Draculismo. Seita satânica surgida na Idade Média, que achava que os vampiros eram seres superiores. Recebeu esse nome pela primeira vez em 1910, treze anos depois de publicado o livro de Bram Stoker. Um dos seus símbolos...
-É a cruz com o olho de cobra. Eu sei. Eu escrevi esse livro.
Antonio fechou o livro, e viu a capa: “Satanismo da antiguidade aos dias modernos. Adriano Costa.”
A polícia bateu à porta, mais para avisar sua chegada do que para pedir licença, e entrou no prédio. Antônio contou tudo que tinha acontecido, menos a parte do vampiro, e a polícia recolheu o cadáver para perícia.
Pedro dirigia o Dodge com Estácio a seu lado e as três pessoas atrás, desacordadas até agora. Um zelador e dois alunos, os três vestiam túnicas pretas.
-Como seus pais morreram?
-Meu tio era de uma gangue satânica, mas essa gangue se extinguiu, porque todos os integrantes viraram vampiros num culto em um cemitério. Parece que os outros membros foram mortos por um caçador de vampiros, mas meu tio conseguiu fugir do cemitério antes de morrer, mas logo faleceu. Sofreu um ataque cardíaco cardíaco em casa e, quando meus pais foram socorrê-lo, ele já tinha virado um vampiro e matou-os e depois fugiu. Eu não estava em casa no dia, e fiquei sabendo do que aconteceu depois, por meio de outro tio, o que é padre. O vampiro ainda está foragido, até onde eu sei, então eu entrei no seminário. Quero me tornar um caçador de vampiros no futuro.
-Você sabia que Antônio é um caçador de vampiros?
-Sério!? Ele é tão sem-graça.
-Você que pensa. Ele é muito valente. E o que você queria? Um bombadão com um revólver com balas de prata e um colar de alho?
-Não! Balas de prata matam lobisomens
Pedro olhou para Eustácio com um cara de censura e reprovação.
-Tou brincando. É, olhando por esse lado, faz sentido. E você, é o que?
-Padre.
-Padre o que?
-Padre padre.
-Só padre.
-Todos os padres são padres e só padres. Mas eu sou um exorcista, se é isso que você quer saber.
-Qual a diferença entre um possesso e um vampiro?
-Um possesso está vivo, e um vampiro, morto. Um possesso se exorciza, e um vampiro se “mata”, por assim dizer. Aliás, se você quer ser caçador, por que não está no Vaticano?
-Estou esperando completar 18 anos para ir estudar lá.
-Se precisar de qualquer coisa, pode falar comigo ou com Antônio, que nós falaremos diretamente com o bispo.
-Obrigado.
-Por nada. Chegamos, corra para dentro do hospital e avise a situação.
Eustácio saiu do carro correndo, e logo reapareceu, seguido de enffermeiros com macas, que pegaram os três adormecidos e os levaram para dentro do edfício. Pedro e Eustácio ficaram no carro, e o primeiro suspirou aliviado, enquanto colocava a mão no bolso.
-Chocolate, quer? - perguntou o padre, tirando um barra do bolso.
-Não, obrigado... Não acha que devemos voltar?
-Não esquente, eles estão bem lá, e a polícia já deve ter chegado. Vou descansar um pouco, faça o mesmo. - e deitou a cabeça no banco do carro, agora reclinado, e começou a rezar o terço.
Antônio pegou o corpo do vampiro e o levou para a catedral, para que fosse reconhecido e enterrado. Não lhe aprazia carregar um cadáver consigo, e não conseguia para de pensar no que estaria acontecendo no prédio da escola. Ele tinha certeza de que era algum tipo de ritual satânico, mas não fazia ideia de quem estava por trás disso e o porquê.