A cruz e o canino - Capítulo 12: A busca
Santa Fé - 1981
-Bom dia, meninos. - disse Pedro, ao entrar na escola. Antônio estava de guarda e Adriano estava tirando um cochilo. Os dois tinham olheiras horrendas.
-Bom dia. Você poderia ter vindo ontem. A gente passou a noite em claro. - disse Antônio, brincalhão e sonolento.
-Estava no Vaticano, resolvendo uns assuntos de uns casos com o papa.
-Está bem, - interrompeu Adriano, acordando. - mas agora temos coisas para fazer.
-Você pode ir para casa, Adriano. Descanse, afinal o seminário não funcionará hoje. - sugeriu Pedro.
-Obrigado. - disse o reitor, saindo de cena.
-Venha comigo. - disse Pedro para Antônio. - O que foi que aconteceu exatamente?
-Ouço barulhos estranhos aqui quase todas as noites, e anteontem, quando estava saindo da escola, uma estante da biblioteca tombou. Eu pensei que fosse algum vândalo e chamei o reitor. Ele veio, e um vampiro apareceu. Estávamos até agora esperando você chegar.
-Acho difícil isto ser uma infestação local, por causa do vampiro. Você sabe quem ele era?
-Sim. Era um aluno, chamado Rafael.
-Você notou alguma atividade estranha por parte de algum aluno ou professor?
-Na verdade não. Mas, sem querer julgar ninguém, há um aluno muito estranho aqui chamado Eustácio.
-E você acha que ele pode ter alguma coisa a ver?
-Não sei.
-De onde vinham os barulhos?
-Do final do corredor, das últimas salas.
Os padres procuraram em uma sala de aula cuja porta se localizava no final do corredor, mas nada acharam senão cadeiras e a mesa do professor. Havia um depósito em frente à sala, e os dois entraram nele.
-Tem que ser aqui, é um lugar que ninguém vem. - disse Antônio.
-Talvez não seja.
-Mas não é na sala, e o barulho veio desse lado.
-Então vamos procurar.
-Havia algumas caixas, a maioria com livros velhos, comidos pelas traça, as outras com objetos quebrados, como relógios, mas nada que colaborasse com sua intestigação.
-Vamos, Antônio.
-Não. Nós vamos achar o que está causando isso, pois é muito sério.
-Mas não vamos achar isso aqui.
-Como você sabe? Nós não tiramos todas as caixas.
-Então procure aí, eu vou a outro lugar.
-Aonde?
-Não sei, mas tenho que começar por algum lugar. Boa noite.
-Valeu.
Pedro saiu do depósito e andava no corredor quando ouviu um barulho vindo da sala. Correu até o depósito e puxou Antônio consigo.
-O barulho veio daqui.
-Mas já procuramos em tudo.
-Tudo não. - e pegou no quadro negro. - Me ajude aqui.
Antônio puxou o outro lado do quadro, que logo caiu no chão, revelando uma passagem para um corredor escuro.
-Pedro acendeuum vela e Antônio fez o mesmo. Os dois entraram pela passagem e, uma vez no corredor, procuraram o interruptor, uma corrente pendurada no teto perto do buraco da passagem.
Na ponta do corredor, haia um altar com uma cruz, mas não era um cruz de Cristo, e sim uma cruz estilizada, de suas pontas saíam garras e, no centro, um olho como que olhasse aquela cruz.
Antônio foi em direção ao altar ensanguentado, seguido por Pedro. Nenhum dos dois disse coisa aguma, e o único ruído que se podia ouvir era o do vento assobiando pelas frestas, mas logo o silêncio foi quebrado por um grito. Os dois se viraram e viram um vampiro caindo no chão com uma espada cravada no peito e, atrás dele, Eustácio.
Pedro agradeceu o rapaz e começou a orar prla alma que já estava no outro mundo há muito tempo. Antônio o acompanhou na oração, mas jamais tirando os olhos do rapaz.
-Por que você está aqui? - perguntou Antônio, quando terminou a oração.
-Eu estava estudando aqui na sala anteontem quando o vampiro apareceu, e, na hora que o vi ao longe, corri para minha casa e peguei a espada.
-Mas simples espadas não deveriam funcionar contra vampiros.
-Essa não é uma simples espada.
-Como assim?
-É uma espada benta, como tudo em minha casa. Meu tio é padre e abençoa tudo que entra em nossa casa.
-Vá embora, isto não é brincadeira. - interviu Pedro.
-Não posso, não tenho para onde voltar. Meus pais morreram e agora moro com meu tio, que está viajando.
-Mas você tem casa, volte para lá.
-Não posso.
-Menino, - bradou Antônio, já impaciente. - volte para casa. Vampiros são demônios. Naõ são brincadeira.
-Eu sei! Um deles matou meus pais.
Um silêncio mórbido tomou conta do lugar. Os dois padres ficaram um tempo parados, sem dizer nada, se encarando, até que Pedro virou para o jovem e disse:
-Venha.