Sangue Amaldiçoado
Richard seguia á passos apressados, respiração ofegante, sentia náuseas por ter insistentemente comido aquele maldito prato de comida, mesmo sabendo que aquilo o faria mal. Vagava por aquela rua, pálido, ainda sentindo a dor daquela maldita ferida. Seus olhos ardendo e lacrimejando, enquanto calafrios terríveis tomavam seu corpo e desordenavam seus sentidos.
- Maldição! Por que eu? Por que? – Ele pensava enquanto olhava ao seu redor procurando alguém naquela alameda deserta, alguma pessoa que pudesse o ajudar. Aquele perfume então penetrou em suas narinas. Seus instintos de sobrevivência aguçaram-se quando ele a viu á cerca de trinta metros dele, ela caminhava como cansada depois de um dia de trabalho e estudos. Ele correu encurvado, fraco e cambaleante na direção da jovem loira que o avistou.
A principio ela se assustou pensando em ser um ladrão e começou a correr, mas quando olhou para trás a fim de ter certeza que ele se afastava o viu cair no chão agonizante.
Gabriela era uma estudante de enfermagem, fazia o curso técnico á exatos seis meses e naquele dia em especial seu professor havia falado sobre o dom de salvar vidas.
- “Para mim criar a vida é um dom único, por isso só Deus é capaz de ter controle sobre ele, mas salvar as vidas que ele nos permite, é uma obrigação nossa, um dos dons que ele compartilha conosco, e agora repassa a todos vocês.” Disse o professor enquanto as alunas admiravam seus cabelos grisalhos e seus olhos azulados como o oceano. – Pensando naquilo ela deu meia volta e correu na direção dele com o fichário dependurado no corpo. Chegando até Richard pôde ver que se tratava de um homem de não mais que vinte e três anos. Seus olhos estavam avermelhados, como se estivesse com conjuntivite, seus lábios roxos, e sua pele pálida, quase albina. Ela levou a mão até o pulso dele e logo que seus dedos encostaram-se com a pele de Richard, pôde sentir o choque térmico e se assustar com tamanho frigor.
- Meu Deus! – Ela disse assustada com tamanha frieza do corpo, observando que ele já suava frio e delirava, murmurando palavras sem sentido.
- Não.. não... por favor... quero viver... não posso ter morrido... não posso ser um monstro... me mate... faça-me viver! – Ele repetia aquilo insanamente. Gabriela inexperiente tentava raciocinar. Os olhos de Richard começaram a revirar-se e de repente ele teve uma espécie de ataque epilético, até que houve um suspiro derradeiro.
Gabriela em pânico olhou para todos os lados á procura de alguém. Ela tentava ressuscitá-lo através de massagem cardíaca, mas seu coração havia parado. Em prantos ela continuava insistindo, passou-se um minuto... dois... três e ela sentindo-se responsável pela morte do estranho no chão á sua frente ajoelhou-se pesarosa.
Gabriela de joelhos ao lado dele, descobre duas feridas em seu corpo, próximo ao ombro de Richard. Ela coloca os dedos sobre o que parecia ser uma picada de serpente no pescoço dele. Assusta-se com o grito e o despertar dele que revela suas presas enormes e abre sua boca como um demônio faminto. Ele a segura firme pelos braços enquanto ela se debate querendo se libertar.
- Me solte! Por favor! Me solte! Socorrooooo! – Ela gritava inutilmente enquanto ele afunda suas presas, e começa a sugar todo seu sangue.
- Você deveria ter ido embora, deveria ter fugido daqui, aí eu não teria sentido teu cheiro e despertado. Tentei todos estes dias vencer minha sede, após ser amaldiçoado pela mordida daquele ser imortal. Eu não queria me tornar isto! Mas não se preocupe moça, não farei como ele. Ele disse enquanto ela trêmula sentia seu sangue ser completamente drenado, a dor castigando-a intensamente.
Richard largou-a com desdém, sentindo-se revigorado. O remorso não existia mais, e ele nem estranhava isso. Deixou-a ali sem vida e disposto a saciar sua fome eterna.