O SACI ASSASSINO

Já acordava com preguiça. A casa era toda suja e bagunçada. Uma casa linda, mas o que adiantava? A família não podia receber ninguém por este motivo, todos ( pais, três irmãos, tios ) trabalhavam duro fora. Eram profissionais liberais, microempresários . Então resolveram contratar uma pessoa que cozinhasse e organizasse a casa, duas vezes na semana, porque com ela não podiam contar. Justo, não tinha vocação nenhuma para as atividades do lar. Sua cabeça vivia nas nuvens, criando histórias sobrenaturais e publicando nos sites específicos, além do mais, não era empregada deles.
Imagina você tendo sua vida toda estruturada, com os locais certos para guardar seus pertences, mas quando procurados nunca estão em seus lugares? Isso é de matar qualquer um. E quem sumia com os objetos? Só podia ser ela, a única pessoa a passar mais tempo na residência. E só os encontravam desse jeito: Procurando outros. Segundo lei de Murphy " Se queres encontrar um objeto, procure outro!"
Muitas vezes os parentes perdiam a paciência e ela sempre dizia com deboche - Foi o Saci Pererê, peça a ele! - e saía rindo e saltitando.
Moravam de frente para uma reserva florestal. Como sempre, fazia suas caminhadas para oxigenar os pulmões e o cérebro. Olhando para a natureza, recebia prontamente dela suas inspirações. Numa dessas, parou para beber água numa nascente, quando foi alvejada por um galho pequeno, olhou espantada e não viu nada. Logo depois, recebeu uma chuva de galhos e folhas, pensou que tivessem sido arremessados por macacos, avistou um redemoínho próximo vindo em sua direção, um assobio estridente e uma risada poderosa. Quis correr, com medo, mas detrás de uma árvore surgiu um Saci. Dizendo:
- Que história é essa de dizer que eu sumo com as coisas?
Ficou sem fala para responder e com os olhos arregalados conseguiu balbuciar:
- Você existe?
- É claro que eu existo, uai! Quem você acha que protege as ervas medicinais da floresta? Eu. Sou um mestre na manipulação dessas ervas. Eu luto para proteger esse resto de mata, e vem uma menina dessas me perturbar, dizendo que eu sumo com as coisas da sua casa? Ah, faça-me um favor!
- Nunca mais vou fazer isso, peço desculpas de joelhos.
- Você teve sorte, eu sou assassino dos ímpios que vêm aqui caçar animais e derrubar árvores, mestre da capoeira e recebi de herança este gorro que me dá poder. Não entro mais na casa dos outros para desandar comidas, nem esconder as coisas. Isso foi quando eu era muito jovem e não entendia a minha missão. Bem, como eu sou o único da minha espécie por estas bandas, algo pode acontecer comigo, então quero ensinar tudo a você sobre medicina "alternativa". No final, você irá ganhar um gorro vermelho igual ao meu que chamam na europa de píleo e seja mais responsável, se sumir alguma coisa e vc disser que fui eu, aí sim, eu invado a sua casa e deixo tudo de pernas para o ar!
- Eu li na Internet que existem clubes de criadores de Sacis, é verdade?
- É verdade, mas é tudo mentira!
- Qual o seu nome?
- Nossa, nunca me perguntaram isso. É Romão. Romãozinho.
A partir dali, ela recebia todos os dias a visita do Saci. No final do curso ela ganhou o gorro e um cachimbo com a erva "Da Boa" e ele nunca mais apareceu. Só na Internet. Ele entrava às vezes só para teclar com ela e tinha se mudado para uma Floresta temperada no Monte Hood (Oregon, Estados Unidos), para um intercâmbio.
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COLEGAS, ESCUTEM MEUS ÁUDIOS MUSICAIS! BEIJO

LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 05/10/2011
Reeditado em 24/07/2013
Código do texto: T3259409
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