A cruz e o canino - Capítulo 7: Primeiro vampiro

Vaticano – 1974

O diretor estava parado do lado de fora da área da faixa, e olhava, paralisado, para o prédio do seminário, o qual estava isolado. Antônio parou ao seu lado e perguntou-lhe:

-O que aconteceu aqui?

-A cozinha explodiu. Gás.

-Alguém se feriu?

-Só o cozinheiro, que se queimou um pouco, mas está bem, de certa forma.

-Que bom que ninguém mais se feriu. E por que tantas viaturas e ambulâncias?

-Há suspeita de que a explosão tenha sido provocada propositalmente.

-Você acha que alguém seria capaz de fazê-lo?

-Não acho impossível. Há muita gente que não gosta da Igreja, e há pessoas que a atacam verbalmente, mas há loucos que o fazem fisicamente mesmo.

Ouviu-se um grito, e uma pessoa foi jogafa através de uma janela. O corpo do policial estava caído no chão, por entre os cacos, sem vida. Ele sangrava por várias feridas, cortes do vidro... mordidas, como que de cachorro ou lobo. O diretor olhou para Antônio, que fez que sim com a cabeça e disse:

-Vampiro.

-A polícia não te deixará entrar pela porta. Há uma janela no lado do prédio, escondida atrás de um arbusto, que não está trancada. Vocẽ chegará a um depósito vazio, cuja porta dá para o corredor principal...

-Já entendi. Estou indo. Onde estão os outros?

-Todo mundo está fora, parece que o vampiro sabia quando nenhum caçador estaria presente e esperou esse momento para atacar.

-Vou nessa, até mais.

-Boa sorte, e cuidado...

-Terei.

Antônio abriu a janela do depósito e pulou para dentro. Estava escuro, pois a única janela estava tapada por um arbusto, mas podia-se ver as prateleiras vazias encostadas na paredes, e uma única lâmpada, provavelmente muito fraca, se não queimada, mas Antônio não tinha tempo ou motivo para descobrir o estado da lâmpada, então saiu para o corredor, vazio de pessoas, mas cheio de tralhas, provavelmente deixadas pelas pessoas na evacuação, principalmente papéis espalhados pelo chão.

O cheiro da explosão podia sersentido, conquanto a fumaça fosse rala o suficiente para ser praticamente invisível. O prédio estava em silêncio desde que aquele cadáver foi jogado pela janela, permitindo a perfeita audição dos sons externos. Antônio andava o mais sorrateiramente possível. Se o vampiro não mudou de andar desde que arremessou o policial pela janela, o que era muito provável, então era só subir até o segundo andar que o encontraria.

Antônio pegou a estava e a deixou a postos enquanto subia o lance de escadas. Enfim chegou ao segundo andar e, como imaginou, o vampiro estava lá, sentado, com inúmeros buracos de bala no corpo, ao lado da janela quebrada. Ao seu redor estavam dois cadáveres de policiais, um sangrando muito, e o outro esquartejado. O vampiro se levantou e saiu da penumbra, e Antônio arregalou o olho e suou frio ao ver quem era. O rosto do vampiro estava desfigurado, provavelmente por algum acidente, mas Antônio pôde reconhecer o assaltante do café, que fora atropelado. O vampiro mostrou os dentes num quase sorriso para Antônio, que o fez arrepiar.

-Boa noite. Lembra-se de mim? - perguntou o vampiro.

-Conheci o verdadeiro dono desse corpo, não você, demônio.

-Por que você ainda tenta? Mesmo que me mate, eu poderei entrar em outro corpo no futuro, mas, se eu o matar, vocẽ permanecerá morto.

-Eu tenho Deus comigo, e Ele é mais forte que você.

-Deus é só um espírito, Ele não pode interferir na matéria.

-Deus é O Espírito. E você também não é material, e você sabe muito bem que Deus pode sim intervir na Sua criação.

-Deus poderia se fosse material, se fosse homem.

-Jesus é homem.

-Jesus está morto. Eu o matei.

-Ele está vivo. Ele ressucitou.

-Se você acho que pode comigo, então me mostre, padrezinho.

Mas Antônio não cedeu à tentação e ficou parado, alerta, observando cada movimento do vampiro, quando passos ecoaram no corredor. Meia dúzia de policiais subiram as escadas e apontaram as armas para Antônio.

-Mãos ao alto, não se mexa. - disse o primeiro dos policiais.

-Espere. Você não estava com o diretor do lado de fora agora a pouco? O que faz aqui dentro? - disse um policial, que estava mais atrás.

-O diretor pediu que eu subisse – respondeu Antônio.

-Mentira. Nós já estamos cuidando disso. Você está envolvido nisso. - falou, em voz alta, o policial da frente.

-Depois a gente conversa. - argumentou Antônio. - Agora olhe para sua esquerda.

Os policiais continuaram atentos e apontando as armas para Antônio enquanto o primeiro, com quem ele conversara, olhou para o lado e viu os cadáveres sangrando no chão e a janela quebrada, mas nada do suposto assassino.

-Onde está o seu assassino agora, hein, menino? - disse o policial, e se virou para os restantes. - Vamos, homens, atr... - e percebeu que só havia mais quatro homens além dele. - cadê Giuseppe?

-Aqui. - disse uma voz assustadora, que, definitivamente, não era a de Giuseppe.

Os cinco policiais e o futuro padre se viraram e viram o vampiro com o policial na mão, seguro pelo pescoço. O policial chorava e se debatia, mas era inútil. O vampiro era muito forte.

-Veja, padrezinho, como vocês, humanos, são insignificantes. - disse o vampiro, e esmagou o pescoço de Giuseppe, decaptando-o.

Os policiais abriram fogo, em vão, contra o vampiro, que sentiu cócegas e riu assustadoramente. O vampiro esperou que as armas descarregassem e pulou em cima dos policiais, atacando-os, mas um, o que falara primeiro com Antônio, sobreviveu.

-Se proteja – disse Antônio ao policial. - Fique atrás de mim.

O policial não entendeu como isso o protegeria, mas obedeceu, o que mais poderia fazer? Seus colegas estavam todos mortos.

-Sua vez. - disse o vampiro, olhando para Antônio.

Para aquelas pessoas destreinadas, o vampiro era um oponente invencível, mas, para Antônio, mesmo que esse fosse o primeiro vampiro real que enfrentava, o conhecimento o ajudou a enfrentar o demônio, e o futuro padre não teve maiores dificuldades para fincar a estaca no peito do vampiro em um só golpe.

-Vamos descer e avisar a todos que o vampiro já está morto. - disse Antônio, antes de completar: -e jamais, sob hipótese alguma, diga que foi um vampiro que esteve aqui, para evitar transtornos. Capisce?

O policial fez que sim com a cabeça.

Jacobina
Enviado por Jacobina em 03/10/2011
Código do texto: T3254340
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