Distúrbio 2 – O Gerente
 
            Trabalhava em uma loja de departamentos que vendia de tudo um pouco. Pequenas prateleiras brancas, repletas de produtos, ladeavam-se ao infinito. Tudo branco, com exceção dos rótulos coloridos. Porém, havia um problema com o gerente. Não sabiam ao certo o que me informar, apenas que ele, aparentemente, enlouquecera. Através de um interfone dava ordens contraditórias aos seus funcionários.
            Ao passo que mandava um de nós arrumar uma prateleira com determinados artigos, dava a outro uma ordem para desarrumar a mesma prateleira.
            - Ninguém entende o gerente.
            - Dessa forma vamos perder clientes.

            Era quase hora de abrir e o estabelecimento encontrava-se em pandemônio. As funções se misturavam e não sabíamos quem seria caixa, vendedor, expositor...
            - Alguém precisa fazer alguma coisa? – Era o comentário geral. Tenso, pois faltavam poucos minutos para a multidão invadir o estabelecimento pegando a todos nós desnorteados, tomei o interfone que era a nossa única comunicação. Disse tudo o que queria ao gerente. Esbravejei. Falei o que me angustiava e engasgava por vários dias. Os meus colegas, olhos saltados, tensos, ouviam tudo ansiosos. Falei por vários minutos até não ter mais o que dizer. Esperava, agora, que ele retrucasse, que me desse uma ordem, que me despedisse, enfim, mas alguma coisa ele deveria dizer.
            Com o interfone na mão, havia apenas um aterrador silêncio. Aguardei por vários minutos até que a sirene de abertura soou. Ficamos todos estarrecidos, inertes, olhando para aquelas portas de uma opacidade branca exibindo centenas de silhuetas que, em segundos, se abririam enquanto a multidão nos esmagaria com sua voracidade diante da nossa apatia. Uma funcionária apontou o dedo, trêmula, para o meu crachá. Naquele momento tive quase um colapso - em letras luminescentes lia-se, sem sombra de dúvida:
            - Gerente!
 
Comentário do Autor - (A série Distúrbio apresenta textos curtos, insólitos, por que de falta de lógica anda tão cheia a vida que já não se suporta!)