Distúrbio 1 – Na Avenida
 
Era uma avenida que deveria atravessar enquanto caminhava. No entanto, algo estava muito errado naquela metrópole apinhada de gente entre os seus infinitos arranha-céus acinzentados. Um terrível acidente deixara uma das vias completamente interditada. Havia muita lataria e corpos, além de pedaços de corpos. Desviei meu olhar. Se tem algo que não gosto de ver é a tragédia dos outros. Queria apenas sair dali rapidamente, ir adiante, cruzar a faixa de pedestres e alcançar o meu destino, seja lá qual fosse ele.




            O estranho é que a via contrária, separada por uma extensa ilha repleta de coqueiros e canteiros de flores, encontrava-se tendo uma circulação normal com seus mar de veículos. As pessoas pareciam indiferentes ao que ocorrera. Não havia amontoado de gente, como é comum nessas situações e ninguém prestava socorro às vítimas. Todos procuravam apenas seguir suas vidas sem dar muita importância para o desastre que acabara de acontecer.
            Semelhante a uma devastadora explosão, um quarteirão inteiro despedaçara-se. Entre os mortos haveriam conhecidos? Passei ao outro lado da via, tentando não olhar para trás. Não seria mais humano voltar e tentar socorrer alguém? Foi o que tentei fazer. Nisso, um braço forte de um alguém que não via – e ali as autoridades eram invisíveis - segurou-me:
            - Não vá, disse ele, ou será mais uma das vítimas.
            Foi enfático. Decidi voltar a caminhar pela calçada oposta deixando para trás aquela cena de horror, seguindo adiante para o meu destino - seja lá qual fosse...
 
 
Comentário do Autor - (A série Distúrbio apresenta textos curtos, insólitos, por que de falta de lógica anda tão cheia a vida que já não se suporta! )