A cruz e o canino - Capítulo 1: O caçador de vampiros (Reescrito)

Santa Fé - 1980

O homem andava pela ruela com seu sobretudo marrom e seu chapéu. Seus sapatos estavam tão lustrados que reluziriam se não estivessem absortos na escuridão, e uma fumaça saía do cigarro em sua boca. Quem olhasse para essa figura sob a luz, veria um homem de meia-idade, cabelos começando a esbranquiçar, olhos cansados, maus-hábitos (denunciados pelas olheiras), boca fina e nariz comprido num rosto ossudo e anguloso. Ao cansaço se adicionava a tristeza em seu semblante, não tinha cara de muitos amigos.

A figura caminhava pelas sombras, seu olhar congelaria até a alma do mais perigoso, inescrupuloso e indomável psicopata. A rua estava vazia, mas ele olhava para frente como se encarasse alguém, ameaçando-o de morte.

Ao virar a esquina, viu um homem vestido de preto: calça, camisa e sapatos. Não era muito alto, nem muito forte. Mediano. Tinha por volta de trinta anos, e seus cabelos castanhos balançavam com o vento, conquanto fossem curtos. Seus olhos, também castanhos, eram expressivos, brilhantes, e seu olhar traduzia a calma e a serenidade de sua alma. Andava a passos tranquilos em direção ao homem de sobretudo e, quando estava a uma distância suficientemente próxima, sentiu um frio na espinha a olhar aquele se sombrio, que retribuiu o olhar, que mudou de sombrio para maníaco. Os dentes do homem sinistro cresceram, e suas pupilas dilataram.

O vampiro pulou em cima do homem como um leão pula em cima da presa, mas o homem parecia já estar preparado para o ataque, e desviu subita e facilmente. O vampiro caiu no chão e rolou pelo asfalto, mas logo se levantou e tirou o pó da roupa, apenas o tempo suficiente para sua pele se regenerar das feridas da queda. No tempo em que o vampiro fê-lo, o homem tirou uma estaca de madeira do bolso e levantou-a em posição de combate, mas nada fez, senão esperar. O vampiro vacilou ao ver a estaca, mas logo retornou ao ataque, pulando novamente sobre o homem e segurando sua mão. O homem girou sobre o próprio abdome, derrubou o vampiro de costas no chão e ergueu a estaca sobre o seu peito, mas o vampiro, mais forte, o arremessou contra um muro e desapareceu como que dissolvido. O homem se ergueu com dificuldade, por causa da força da pancada, e se colocou novamente em posição de luta, com a estaca erguida na altura do rosto. O silêncio tomou conta da rua, não se ouvia o farfalhar do vento nas folhas das árvores, nem o pio das corujas; o tempo passava mais devagar, quase parava. O homem suava frio e tremia um pouco por causa dofrio da noite, seu coração batia rápido, e seu ouvido estavaatento a qualquer ruído, mas não havia ruído algum.

Muito tempo se passou, sem que acontecesse algo sequer, mas, enquanto isso, o homem invocou o Espírito Santo:

-Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fieis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra...

Pouco depois d terminar a oração, o homem ouviu um leve ruído atrás de si e se virou a tempo de ver o vampiro vindo em sua direção e o atacando. O homem conseguiu se posicionar e fincar a estaca no coração do monstro, que agonizou e, enfim, caiu no chão definitivamente.

O homem rezou pelo morto que cedera seu corpo para o demônio, pegou o cadáver que jazia no chão e o levou para ser enterrado.

O homem era padre, um caçador de vampiros. Já trabalhava com isso há alguns anos e já tinha matado um número considerável de vampiros, mas, sempre que matava um vampiro, tinha que parar e lembrar que são apenas demônios em cadáveres, não há nenhuma humanidade nos vampiros. Uma pessoa deu-se de corpo e alma ao diabo antes de morrer e, quando isso aconteceu, ele levou-lhe a alma, e tomou seu corpo. A alma da pessoa já estava onde devia permanecer, mas o padre rezava por elas assim como os homens rezam pelos mortos.

Os demônios sempre tinham alguma intenção ao tomar um corpo: influenciar as pessoas e levá-las para o mal; ferir ou matar pessoas piedosas, como sacerdotes e religiosos; ou apenas proliferar o Inferno na Terra. É o pecado afastando os homens de Deus, e conduzindo-os para o Diabo, e era dever de um caçador de vampiros acabar com estes demônios, e aproximar a humanidade do reino de Deus. Mas tinha uma coisa que o padre não conseguia deixar de pensar: Por que há tantos vampiros ultimamente?

Jacobina
Enviado por Jacobina em 28/09/2011
Reeditado em 08/01/2012
Código do texto: T3246629
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