PRECISO MORRER
Ando pelas ruas tangido pelo vento. A tarde, esta casca amarela que cobre o dia começa a enegrecer. O dia é hermafrodito. Paro numa roda de velhos postados numa calçada de bar. Olho-os enquanto se olham uns aos outros banhando as dentaduras com cerveja barata. Pensam, em uníssono, mirando suas próprias caveiras já carcomidas pelo tempo: “daqui, quem irá primeiro”. Bando de idiotas. Querem ser eternos.
Abandono-os. Caminho até a passagem de nível. Sinto a aproximação da locomotiva. Posto-me no meio dos trilhos. Gargalhando recebo a máquina de ferro de braços abertos. Caos. Adoro o caos. Sirenes alvoroçadas de ambulâncias, polícias, alimentam o gosto sádico da multidão. O pessoal do IML junta com dificuldades meus pedaços alagados de rubro. Voei para todos os lados. Sou acondicionado em sacos plásticos. Uns 45 quilos de ossos e carnes a grosso. Não encontraram meu crânio. Observo tudo da esquina. Entediado continuo a minha caminhada. Dirijo-me a morgue no centro da cidade e espero pelo meu cadáver esbandalhado. Divirto-me arreganhando olhos, escancarando maxilares de defuntos que estão em cima das pedras. Depois de quatro horas chega meu corpo. Os serviçais jogam o saco com meus despojos sobre uma mesa e dirigem-se a cantina para tomar um lanche. Como um jogador de xadrez após uma partida, reúno as partes do meu corpo e, exibindo faceirice em vermelho surreal, saio caminhando, colocando máscaras de pavor a quem encontro. Preciso achar a minha cabeça.
PB – Amanhã, à meia-noite, estarei aqui continuando a minha saga à procura da Morte, mas, antes, preciso encontrar a minha cabeça. Espero você.
Ando pelas ruas tangido pelo vento. A tarde, esta casca amarela que cobre o dia começa a enegrecer. O dia é hermafrodito. Paro numa roda de velhos postados numa calçada de bar. Olho-os enquanto se olham uns aos outros banhando as dentaduras com cerveja barata. Pensam, em uníssono, mirando suas próprias caveiras já carcomidas pelo tempo: “daqui, quem irá primeiro”. Bando de idiotas. Querem ser eternos.
Abandono-os. Caminho até a passagem de nível. Sinto a aproximação da locomotiva. Posto-me no meio dos trilhos. Gargalhando recebo a máquina de ferro de braços abertos. Caos. Adoro o caos. Sirenes alvoroçadas de ambulâncias, polícias, alimentam o gosto sádico da multidão. O pessoal do IML junta com dificuldades meus pedaços alagados de rubro. Voei para todos os lados. Sou acondicionado em sacos plásticos. Uns 45 quilos de ossos e carnes a grosso. Não encontraram meu crânio. Observo tudo da esquina. Entediado continuo a minha caminhada. Dirijo-me a morgue no centro da cidade e espero pelo meu cadáver esbandalhado. Divirto-me arreganhando olhos, escancarando maxilares de defuntos que estão em cima das pedras. Depois de quatro horas chega meu corpo. Os serviçais jogam o saco com meus despojos sobre uma mesa e dirigem-se a cantina para tomar um lanche. Como um jogador de xadrez após uma partida, reúno as partes do meu corpo e, exibindo faceirice em vermelho surreal, saio caminhando, colocando máscaras de pavor a quem encontro. Preciso achar a minha cabeça.
PB – Amanhã, à meia-noite, estarei aqui continuando a minha saga à procura da Morte, mas, antes, preciso encontrar a minha cabeça. Espero você.