O cabelereiro do Diabo

Ele havia chegado na cidade á poucos dias, viu o salão e pensou: - É aqui mesmo! Aquele cabeleireiro tem cara de otário! Não gostei dele!

Já eram 07:00 hs da noite...

- Boa noite amigo! – Disse Raul o cabeleireiro.

- Sei que está fechando, mas poderia cortar meu cabelo por favor? – Perguntou Fábio.

- Acho melhor o senhor voltar amanhã. Não trabalho depois do expediente e já passou um minuto.

- Prefiro que seja hoje! Fabio disse sentando-se na cadeira com seu jeito arrogante.

- Tudo bem, mas será meu ultimo, portanto vou fechar a porta e baixar as persianas, antes que entrem outros clientes. O que vai querer? – Raul perguntou rispidamente.

- Tudo bem, surfista por favor! – Ele disse parecendo evitar olhar para Raul que delicadamente preparava-se para iniciar o corte, uma de suas mãos massageando o cabelo do rapaz enquanto a outra pressionava o spray jogando água para umedecê-lo.

- Mas seu cabelo é muito bem cuidado! – Elogiou Raul olhando-o pelo espelho discretamente, mas Fábio pôde vê-lo espiar.

- Por acaso perdeu algo aqui seu boiola! Corte logo meu cabelo seu merdinha! – Gritou Fabio.

Naquele momento Raul engoliu seco, um nó atravessou sua garganta como um dado quicando e descendo forçosamente pela sua goela.

- Me desculpe senhor! Não me leve a mal. Disse Raul tentando ao mesmo tempo se controlar, ele já havia cortado o bastante aquele dia.

Mas como se rebaixar na maioria das vezes apenas da força ao seu adversário, Fabio aproveitou-se da fraqueza dele e continuou.

- Que merda! Por que é que todo cabeleireiro tem que ser bicha! Vai tomar no cú mesmo! Ele disse se levantando. De repente sentiu uma mão pousar sobre seu ombro.

- Fique quieto aí seu idiota! Raul o falou com o tom da voz completamente mudado. Fabio lutou para sair dali quando sentiu a lâmina entrar em sua carne na altura do ombro e afundar no seu dorso.

- Aaaaa! Que isso? - Sem tirar a tesoura Raul fez força abrindo-a com os dedos polegar e médio de sua mão direita enquanto mantinha firme o cliente na cadeira com sua outra mão. Fabio se desvencilhou dele e sentiu a tesoura ser arrancada de sua carne abrindo a ferida ainda mais e caiu no chão sangrando como um porco.

- O que você fez? – Ele perguntou apavorado.

- Você veio aqui para um corte de cabelo, não foi? Disse Raul caminhando na direção de Fábio que gaguejava sem forças para levantar seu braço direito enquanto a mão esquerda estancava o sangue que brotava como uma nascente em sua ferida.

Raul pegou sua navalha e avançou na direção dele. Fabio correu sangrando e apavorado até a porta e tentou abri-la para fugir dali, mas não conseguiu, ela tinha uma trava de segurança. Raul o segurou pelos cabelos e o puxou para trás jogando-o no chão e atacou com sua navalha na horizontal cortando a garganta de Fabio. O sangue jorrou enquanto Fabio se contorcia num ultimo sopro de vida. Depois disso separou sua cabeça e terminou o corte de cabelo calmamente. Abriu a porta do banheiro onde havia uma placa...

“BANHEIRO EM MANUTENÇÃO”

...Retirou os dois corpos lá de dentro. Um era de um cliente que havia chegado mais cedo, havia feito um corte moicano nele, sua cabeça também havia sido separada de seu corpo. O outro corpo pertencia a Marcos Paulo, o dono do salão, que o havia recebido na tarde anterior. Ele era careca, tinha uma barba que desenhava o contorno de seu rosto. Como ele não tinha cabelo Raul o escalpelou, o couro da cabeça de Marcos havias sido arrancado deixando a mostra a parte superior de seu crânio. Raul olhou uma ultima vez para as três cabeças que ele pregara na parede pelas orelhas e sorriu. Os corpos ele deixou sentados um ao lado do outro sobre as cadeiras. Dirigiu-se até a porta e ateou fogo. As chamas se espalharam rapidamente graças ao álcool que ele havia esparramado, e o salão logo estava em chamas.

- Fim de expediente é mesmo uma merda! Tem sempre um atrasado que chega de mau humor e me tira do sério. Mas enfim, gostei da cidade. Disse ele vagando pela rua.

No guichê da rodoviária a atendente o pergunta...

- Passagem para onde Senhor?

- Não importa o lugar, moça. Na minha profissão, seja para onde quer que eu vá, ao ver meu trabalho, meus clientes perdem a cabeça!

- Sua profissão é? - Ela perguntou curiosa.

- Cabeleireiro. Aliás seu cabelo é muito bem cuidado. - Ele disse.

A moça sorriu e achou o senhor a sua frente uma pessoa engraçada e charmosa.

- Quem sabe eu não perca a cabeça também! - Ela o falou com uma voz sedutora.

Ele sorriu e o engraçado é que ele não gostou nada dela.

Fim.

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 27/09/2011
Reeditado em 29/09/2011
Código do texto: T3244765
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