NÃO ABRA ESTA PORTA!!!

         

          Humildemente, Luana reconhecia que o jantar estava delicioso. Após descansar os talhares no prato, apoiou os cotovelos na mesa e uniu as mãos como numa prece. Pedro estava muito silencioso aquela noite.
-Mamãe nos visitará semana que vem... - Disse ela enquanto observava-o terminar a sua refeição. Ele não respondeu.
          Era nisso que vinha pensando todo o dia. Parecia fútil, mas não havia espaço para acomodar mais alguém em sua casa. Estavam casados há cinco meses, mas ela vivera antes 6 anos naquele mesmo lugar e já não possuia os dois quartos vagos que agora eram ocupados pelos pertences do esposo.
          Silenciosamente, ele limpou a boca numa toalha e saiu da mesa, sua barba ruiva estava um pouco úmida, ela percebeu. Não gostava de vê-lo suando, sabia que era uma reação física ao seu estado de ansiedade.
          Pedro era um homem forte, seu corpo másculo era recoberto de pêlos ruivos que ela não se cansava de observar. Sentia uma atração sexual que poucas vezes antes experenciara. Levantando-se da mesa, guardou o seu prato na pia e subiu para o quarto. Pedro já estava deitado, nú, com o seu membro exposto aos seus olhos claros.
          Aproximou-se dele, deitou-se ao seu lado e deixou-se entregue à sua fome colossal. Entretanto, não podia deixar de pensar. Por mais que se envolvesse nos seus braços, nos seus cheiros... O quarto! Sim. Tinha ainda de falar com ele, entretanto, dera para reagir agressivamente aos seus questionamentos. Na mesa, mais cedo, magoava-a ainda que ele não lhe tivesse respondido.
-Querido, não há espaço para que eu acomode a mamãe... E se...
-Não abra aquela porta! - Grunhiu-lhe ele. Sua boca avermelhada e corpulenta movendo-se em consonância com a barba cor de fogo.
          Um aperto atingiu o seu coração. Ele nem sequer a olhara. Virara o seu corpo imenso para o lado, deixando-a entregue a toda sorte de pensamentos. O que guardaria lá, que desejava tanto resguardar? Quando se mudaram, ela estava na casa de sua mãe, e desde então jamais tivera acesso aquele comôdo, que ficava no andar de baixo próximo a área de serviço. Era um quartinho pequeno, escuro, que antes ela usava para guardar velharias.
          No outro dia, embora não tenha descansado o suficiente, esperou que Pedro fosse trabalhar e rondou toda a casa à procura da chave do quartinho. Não a encontrou. Invadia-lhe a frustração e mais intensamente: O medo! Não o conhecia tão bem que pudesse afastar aquele sentimento. Afinal, estudaram juntos na faculdade, mas qualquer passado que ele tivera antes disso lhe era desconhecido.
          Não havia tempo a perder! Não poderia dividir o teto com alguém que temia, alguém que escondia-lhe segredos. Correria risco de vida? Foi até a dispensa e pegou um machadinho, caminhou até o corredor escuro, onde ficava o quarto, e ficou de frente para a sua porta. Levantou-o para cima e...
-NÃO ABRA ESTA PORTA!!! - Gritou-lhe Pedro com sua voz estridente, de trovão.
          Era tarde agora, seu corpo frágil já havia tomado impulso e o machadinho impactou-se violentamente contra o trinco da porta, destruindo-o suficientemente para que esta fosse aberta.
Com os cabelos desgrenhados, a pele branca avermelhada, e os seios parcialmente revelados pelo movimento que lhe levantara o vestido, ficou a observá-lo. Estava oculto pelo sombra, seu corpo era uma massa escura que a subjulgava.
          Furioso, ele aproximou-se dela. Seus braços foram depositados violentamente ao redor do seu pescoço, enquanto ela tentava desvencilhar-se e tomar novamente o controle da arma que carregava na mão.  Pedro rugia medonhamente, empenhando toda a sua força na tentativa de desacordá-la ou quem sabe até levar aquele golpe às vias de fato. Estava tão próxima da verdade e agora, tudo o que podia saber era que aquela luz esbranquiçada que lhe atingia os olhos tornava-se a cada momento mais púrpura.
-Não deixarei que saiba, não deixarei... Foi você quem pediu, foi você... - Dizia ele entre dentes, o suor caindo-lhe a cântaros da face ruborizada.
          Vencida, a pobre moça deixou-se cair no chão. Batendo, contudo, o braço na porta durante a queda. Lentamente, ela foi se revelando. Estava escuro no quartinho, mas ela pôde ver. Penduradas na parede, haviam 5 cabeças... Sim, agora entendia! Meu barba vermelha, pensou ela tristemente...

      Mas fora com um choque que tudo se revelara. Lembrava-se agora que à época da mudança Pedro lhe pedira para passar uns dias com sua mãe, pois desejava fazer algumas reformas na casa. Ela aceitara, mas após voltar, notou que pouco havia mudado. Com excessão de Pedro, que tornara-se taciturno e frio. Agora, tudo se esclarecia. Lá estavam, cinco cabeças de homens... Os cinco homens que um dia amara... E o que mais lhe doía, agora que a vida se desvanecia do seu corpo, era observar que Pedro respeitara o sexto espaço que ela deixara para si...


A Desgraça do Vampiro
http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/3248004

F W
Enviado por F W em 26/09/2011
Reeditado em 01/10/2011
Código do texto: T3241756
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.