O MISTÉRIO DO VELHO CASTELO - PARTE 7

Uma sombra espectral pairava no quarto. Mas não era um fantasma, e sim a imagem de Josh refletida assombradamente no chão de piso branco que ficava no quarto de Armand.

-Desculpe-me doutor, mas pode me dizer como vim parar aqui?

- O Sr. não sabe, Sr. Armand?

-Sinceramente, achei que eu estivesse morto. Depois daquele dia na casa de meus... – um nó na garganta se fez na voz de Armand, seus olhos encheram de lágrimas – Desculpe...

- Não precisa falar Sr. Armand. Sabemos o que aconteceu. Fique calmo, não pense no assunto. O Sr. sabe aonde está, que lugar é este?

- É um hospital?

- Na verdade chamamos de hospital, sim. Mas este é o Instituto Psiquiátrico Dr. Adolfo Bastos. O Sr. chegou aqui em 1922, dois anos após o ocorrido na casa de seus antigos patrões. Desde então, o Sr. está aqui. Na verdade, em 1960 o hospital foi transferido para cá, mas isso não faz muita diferença.

Armand não conseguia falar. A terrível sensação de que tinha perdido toda sua vida, todos esses anos no hospital não o assombrava, mas sim o fato de ele ter sido o único sobrevivente da tragédia na casa dos Monteiros. “Quisera-me ter morrido”. “Eu sei coisas que ele não sabe”. “Eu sei que aquela coisa.... vai voltar, aquela sombra maldita, o ser infernal”.

-Porque não morri? Porque eles e não eu? Eu devia...

-Desculpe, o Sr. está bem Sr. Armand?

-Dr. Eu sei por que lhe chamei hoje de manhã. Ela, aquela coisa, ela está aqui, ela vai vir, ela sabe que estou bem, ela me quer, não sei o que fazer, pelo amor de Deus, tem de me ajudar...

-Controle-se Sr. Armand, todos nós sabemos que...

-Não, NÃO!!!! –gritou -. O único jeito é eu estar morto, mas ela, aquela coisa, maldita não me deixou morrer... sinto que está aqui, não quer sair,por Deus, tem de me deixar em paz...

Josh sentiu uma ponta de desanimo. Realmente, achar que Armand estava são seria demais. O fato de ele falar depois de tantos anos podia significar um avanço, mas agora parecia não significar nada... Dirigiu-se até a saída quando um forte trovão ressoou lá fora, fazendo as luzes piscarem. Só então Josh reparou como estava escuro lá fora. As luzes do hospital iluminavam o feio jardim feito pelos pacientes, a lama se movendo com os pingos d’água que caíam tudo numa estranha e inconsciente sintonia...

-Já volto Sr. Armand – Josh iria até a enfermaria vestir seu avental e buscar uma dose de tranqüilizante. “O Velho mordomo vai precisar de uma boa hoje”, pensou – O Sr. precisa de alguma coisa?

-Por favor, Dr. Posso lhe assegurar que estou bem. Desculpe o meu desespero, mas prometo me comportar, caso o senhor me leve aonde quer que seja. Mas por favor, não me deixe aqui, não sente, não percebe? Se eu ficar sozinho, não estarei seguro, por favor, não me deixe aqui e então poderemos conversar. Há coisas que preciso saber, e há coisas que o senhor com certeza quer ouvir. Por favor, acredite em mim, não sou um maluco.

Josh refletiu por um instante. Se a questão era acalmar o “fedorento” a melhor coisa a fazer era deixar que ele o acompanhasse. Claro, ele não estava normal, ele precisaria conversar e deixá-lo num quarto em que ele passara os últimos 10 anos sem que ele soubesse sequer direito onde estava não parecia uma boa idéia.

-Tudo bem, pode vir comigo, mas Sr. Armand, prometa-me que qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, o senhor irá se comportar, está bem?

-Sim Dr. Obrigado. A propósito, pode me chamar de Armand, claro, se eu puder lhe chamar de Josh.

-Tudo bem Armand. Me chame de Josh então.

E em meio às luzes fracas do corredor, se dirigiram para a enfermaria. Um forte trovão ressoou novamente, e tudo ficou escuro. Em algum lugar, não muito distante o som de alguma coisa se arrastando, ou sendo arrastada se fez ouvir. Josh esperou gerador acender, mas isso não aconteceu.

Continua...

Bonilha
Enviado por Bonilha em 21/09/2011
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3233104
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