Sssssssssss

 
Quando caiu a tarde, Peter e sua namorada Lisa, sentados na varanda daquele rancho abandonado aonde vieram passar o fim de semana e poderiam ser vistos como duas pessoas normais, admirando o por do sol, mas se fosse olhado o que cada um tinha nas mãos não, o cigarro entorpecente e o litro de wiski, nas mãos deles falavam por si.
Entoavam mantras como dois hippies dos anos 60 dando tom ao silencioso das montanhas.
Depois do entardecer, o céu enegreceu com grossas nuvens e ao invés das esperadas estrelas, raios e chuva torrencial, que vertia aqui e ali na cobertura de palha da cabana antiga.
O vestido branco de Lisa espalhava-se em seu corpo esquálido, e ela ali dormindo em frente a uma precária lareira, curava o dia de bebedeira e drogas.
Era meia noite quando Peter despertou enfurecido num canto da cabana, o corpo em síndrome de abstinência pedia mais drogas, mais álcool, seus olhos faiscavam um ódio incomum, passou as duas mãos no rosto, enxugou na testa o suor abundante e gritou...
___Lisaaaaaaaaa...
___Onde está? Ondeeee...?
Quando ficou em pé, e não obteve resposta de Lisa, passou a mão em um cutelo em cima da pia, e dali do quarto rumou cambaleante para a sala, e na sua visão embaçada viu a mulher deitada no chão e pela cor branca se guiou, ate desferir o primeiro golpe, e outro e outro...
As suas vestes estavam vermelhas do viscoso sangue de Lisa que entorpecida, foi esquartejada e amontoada em um canto sobre o próprio sangue.
Em um rompante de desespero Peter caiu em si, e de joelhos chorou como um menino travesso, porém se acalmou e acendendo um cigarro de maconha, relaxou e ate riu diante dos restos de Lisa...
Era 2 horas da madrugada, quando Peter embriagado e louco pôs a mochila nas costas, o sangue espalhado no chão cheirava a um ocre ácido, semelhante a oxidação do ferro e enchia o ambiente, com aquele perfume de morte.
Saiu, entrou no carro e a escuridão e distancia da cidade faria aventurar-se em uma floresta de pântano antes de ver a luz da civilização.
Depois de 20 minutos rodados, a tempestade se fez forte e os limpadores não davam conta da água, foi quando ele parou num acostamento...
A perturbação mental do drogado começava a dar sinais de que a demência era severa, clara e repetitiva, e Peter por várias vezes durante o clarão dos raios, via alguém aproximar-se pelo retrovisor, em sua visão era uma massa disforme, corcunda coberta com uma capa preta e que no ínterim entre a escuridão e um novo clarão, causava arrepios delirantes em Peter, até que enterrou o pé no acelerador mesmo com o pára-brisa batendo forte na tempestade insana, parecia obra do diabo.
Aproximava-se às 3 horas e Peter, tinha pela frente uma intensa neblina, mas a chuva havia parado e cada vez que ele olhava no retrovisor um frio
 descia-lhe pelo abdômen e a vontade de urinar já lhe havia encharcado as calças umas 3 vezes, mesmo louco não cogitava em parar naquele recantos onde o diabo lhe esperava faminto...
Num leve declive em curva entre dois barrancos altos, Peter ouviu algo... Tssssssss, o suor gelado e abundante reclamou a parcela de dor do infeliz, olhava o retrovisor e tremia...
___Li... Li... Lisaaaa, meu Deus... Eu não queria, eu juro que não queria, foi ela, a bebida, perdão, perdãoooooooo...
E naquele misto de desespero e sofrimento desumano, ele estacionou o carro...
Desceu ganindo como um animal, e de joelhos com a cabeça entre as mãos, rente ao chão, ouviu o ultimo ar sair do pneu traseiro.
Assim ficou uns 15 minutos, depois lentamente, olhou por todos os lados, o breu da noite se fazia mais medonho por causa do triscar assustador do canto de alguma ave noturna, levantou, pegou o isqueiro no painel do carro, acendeu e olhou bem de perto o pneu vazio.
Entre lamentos e palavrões desconexos, pôs-se a trocar o pneu, com os olhos arregalados, esperando o pior, com a consciência pesada e a imagem de Lisa despedaçada no chão, tremia a cada sobressalto e chorava sua miserável desgraça.
Uma leve brisa gelada encheu a madrugada e o uivo de algum lobo fez o homem apressar o aperto dos parafusos, seus dedos tiritavam e encontravam dificuldade em segurar as pequeninas peças sextavadas, e quando o ultimo parafuso foi direcionado para o buraco na roda, no inicio do perto, a chave o jogou longe, no meio da pista...
Peter jogou a chave no chão mirou a silhueta do parafuso sob a luz do isqueiro e quando foi apanhar o parafuso, aquele som... Ssssssssssssss
Pensou um pouco balançou a cabeça, e apenas lamúrias saíram de sua boca fétida sem olhar para trás, e no momento em que inclinou o corpo, como surgido das trevas um bólido colheu o traste e o fez grudar no seu pára-brisa...
A cabeça esmagada de Peter no pára-brisa ainda viu nitidamente com um olhar demoníaco o rosto de Lisa...
___Vamos meu amor, vim te buscar...
 
Malgaxe

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 02/09/2011
Código do texto: T3197208
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