A cruz e o canino - Capítulo 1: O caçador de vampiros
O homem andava pela ruela com seu sobre-tudo marrom e seu chapéu. Seus sapatos estavam tão lustrados que reluziriam se não estivessem absortos na escuridão, e uma fumaça saía do cigarro em sua boca. Quem olhasse para essa figura sob a luz, veria um homem de meia-idade, cabelos começando a esbranquiçar, olhos cansados, maus-hábitos – denunciados pelas olheiras. -, boca fina e nariz comprido num rosto ossudo e anguloso. Ao cansaço se adicionava a tristeza em seu semblante, e não tinha cara de muitos amigos.
A figura caminhava pelas sombras, seu olhar congelaria até a alma do mais perigoso, inescrupuloso e indomável psicopata. A rua estava vazia, mas ele olhava para frente como se estivesse encarando alguém, ameaçando-o de morte.
Quando virou a esquina, viu um homem de preto: calça, camisa e sapatos. Não era muito alto, nem muito forte... mediano. Tinha por volta de trinta anos, e seus cabelos castanhos balançavam com o vento, conquanto fosse curto. Seus olhos, também castanhos, eram expressivos, brilhantes, e seu olhar traduzia a calma e a serenidade de sua alma. Andava a passos tranquilos em direção ao homem de sobre-tudo e, quando estava a uma distância suficientemente próxima, sentiu um frio na espinha a olhar aquele se sombrio, que retribuiu o olhar, que mudou de sombrio para maníaco ou faminto ao olhar a cruz no seu pescoço. Os dentes do homem sinistro cresceram, e suas pupilas dilataram.
O vampiro pulou em cima do homem como um leão pula em cima da presa, mas o homem parecia já estar preparado para o ataque, e desviu subita e facilmente. O vampiro caiu no chão e rolou pelo asfalto, mas logo se levantou e tirou o pó da roupa, apenas o tempo suficiente para sua pele se regenerar das feridas da queda. No tempo em que o vampiro fê-lo, o homem tirou uma estaca do bolso e levantou-a em direção ao peito do vampiro, mas nada fez, senão esperar. O vampiro vacilou ao ver a estaca, aquele obejto sagrado, que representa a cruz de Jesus, mas logo retornou ao ataque, pulando novamente sobre o homem e segurando sua mão. O vampiro agora se aproximava do homem com a boca aberta, deixando à mostra aqueles enormes caninos, chegava cada vez mais perto, e abria cada vez mais a boca, até que o homem puxou umas cápsulas do bolso e jogou na boca do vampiro, que caiu de dor no chão.
-Água benta, demônio.
O homem puxou a estaca e fincou-a no coração do vampiro, que agonizou e, enfim, o espírito mau deixou o corpo.
O homem rezou pelo morto que cedeu seu cadáver para o demônio, pegou o cadáver que jazia no chão e o levou para ser enterrado.
O homem era padre, um caçador de vampiros. Já havia sido ordenado há alguns anos e já tinha matado um número considerável de vampiros, e, há cada vampiro morto, tinha que lembrar que são apenas demônios em cadáveres. Não hé nenhuma humanidade nos vampiros. Uma pessoa deu-se de corpo e alma ao diabo antes de morrer e, quando isso aconteceu, ele levou-lhe a alma, e tomou seu corpo. A alma da pessoa já estava onde devia permanecer, mas o padre rezava por elas assim como os homens rezam pelos mortos.
Os demônios sempre tinham alguma intenção ao tomar um corpo: influenciar as pessoas para levá-las para o mal; ferir ou matar pessoas devotas a Deus, como sacerdotes e religiosos; ou apenas proliferar o Inferno na Terra. É o pecado afastando os homens de Deus, e conduzindo-os para o Diabo, e era dever do padre, uma vez que fosse caçador de vampiros, acabar com tais demônios, e aproxiar a humanidade do reino de Deus.
O padre pegou o cadáver e o levou para que fosse enterrado dignamente, para a alma enfim descansar em paz.