A Dança das Fadas

Lembrei-me recentemente de uma velha lenda que um amigo quando criança relatou a um pequeno grupo de garotos enquanto acampávamos em uma daquelas reuniões de jovens no meio do mato onde contávamos histórias de fantasmas sob uma fogueira, uma coisa muito comum para a juventude em plenos anos 90. De alguma forma a história que ouvi nunca saiu de minha cabeça e ainda assusta a todos nós muitos anos depois...

Havia uma velha floresta bem parecida com aquela onde estávamos naquela noite e foi nela onde nossa história começa ou bem próximo dali, em uma estrada. Era uma estrada bem isolada e raramente se via qualquer movimento nela e somente por isso era já era tachada como estranha pelas pessoas que viviam por aquela região. Mas em 18 de outubro de 1987, (nunca me esqueci desta data) tudo estava para mudar quando um automóvel conduzido por um senhor já bastante idoso ia passando vagarosamente pela estrada com todo o cuidado que somente a idade pode ensinar as pessoas, quando para sua surpresa avistou uma estranha luz que vinha da floresta, era uma luz dourada que parecia beirar o vermelho em alguns instantes como o sol no entardecer.

Este senhor chamava-se Crowen Redford, ele se sentiu inexplicavelmente atraído pela luz ou talvez pela curiosidade, mas embora os motivos não fossem genuinamente definidos, sua atitude foi de abandonar o carro e adentrar a floresta para decifrar o enigma que se embrenhava cada vez mais a cada passo que dava auxiliado apenas de sua rústica bengala. O medo era algo que não seria facilmente lido em sua face, já que as marcas da idade tinham a muito consumido tal expressão. Mas ele conseguiu ver a origem das misteriosas luzes e ficou espantado com tal descoberta.

No meio das monstruosas árvores que pareciam emergir como gigantes do solo, ele as viu bem ali, animadas, dançando no ar como somente os pássaros poderiam fazer, embora aquelas criaturas tivessem uma graça infinitamente superior, como se uma aura de grandeza irradiasse dos pequenos seres. Não havia duvida alguma em sua mente de que se tratavam de fadas. Fadas de verdade, com seu corpos diminutos completamente nus, com asas luminosas que saiam de suas costas, muito parecidas com as asas de uma borboleta embora elas fossem a origem de todo aquele efeito de luzes que atraiu o Sr. Redford para ali. Ainda possuíam as orelhas pontiagudas, uma aparência muito diferente de tudo que ele já vira, mas mesmo assim dotado de uma beleza que ainda não pode ser descrita com meras palavras. As fadas eram umas cinco ou seis, não mais do que isso, mas ninguém sabe ao certo, pois contá-las foi a ultima coisa que passou pela cabeça dele durante tal experiência. O fato era que elas não apenas dançavam, mas quando o homem prestou mais atenção à cena pode perceber que tais criaturas também estavam a beber e a cantar, uma cantoria leve e envolvente que parecia aquecer o corpo dele durante a noite fria que envolvia a toda a cidade.

O Sr. Redford ficou petrificado com tudo o que acontecia bem a sua frente, embora não fosse o medo que lhe tivesse feito aquilo, mas fosse obra da beleza que parecia transbordar das atitudes das pequenas criaturas aladas, mesmo assim a sensação de impotência que a imobilidade lhe causava fez com que com muito esforço de sua parte conseguisse fugir daquele estranho encanto que o envolvia, embora para isso, tornou-se notado por todas as criaturas que pararam com seu ritual de maneira quase que imediata e ficaram a encarar o homem por alguns segundos sob o som do silêncio. O tempo pareceu parar por horas, embora talvez só tivessem passados poucos segundos até que algo acontecesse novamente.

Uma das fadas que estava a beber de uma pequena taça se aproximou voando e lhe estendeu a mão com um sorriso singelo nos lábios como se estivesse a convidá-lo a participar da cerimônia que ali acontecia e para a sua própria surpresa o Sr. Redford aceitou o convite sem dizer palavra alguma. Naquela noite ele pode dançar como nunca dançou antes, sentia sua perna estar perfeita e ousou abandonar a bengala e para sua surpresa não parecia precisar dela novamente. As fadas o envolveram como se a elas ele não fosse diferente e ao seu redor cantaram e dançaram enquanto bebiam e lhe davam de beber. Mas não era somente as criaturas que lhe acolheram, como também a felicidade, que estranhamente lhe acalentou naquele momento como nunca pensaria em sentir novamente, já que suas noites de trabalho no velho museu da cidade eram muitas vezes monótonas pra não dizer deprimentes, muito diferente do prazer indescritível que a presença dos pequenos seres lhe proporcionou, tudo parecia um sonho muito bom e completamente isento de qualquer sensação de realidade.

O Sr. Redford dançou ao som da cantoria das fadas até não poder mais se agüentar em pé e quando pensou por um instante em parar e tomar fôlego novamente se deu por conta que estava flutuando o tempo todo e talvez por isso sentisse que não precisava da bengala e sorriu-lhe a estranha idéia que ali poderia permanecer para sempre se assim desejasse. A dança das fadas tornou-se mais rápida e luminosa como um ultimo raio de sol antes de uma explosão e foi algo próximo a isso que houve naquela noite na floresta, onde um som grandioso foi ouvido por toda a cidade juntamente com um clarão que ofuscou a própria noite durante um segundo, mas tempo suficiente para marcar a história da cidade para todo o sempre.

A floresta permaneceu lá com marcas visíveis no solo, embora o silêncio fosse quebrado apenas minutos depois com a chegada de viaturas da policia durante a madrugada ao som estridente de suas violentas sirenes, quando os oficiais de policia somente encontraram o veículo abandonado do Sr. Redford, um personagem que jamais seria visto outra vez por olhos de homem algum.

Esta velha história eu contarei a meus filhos e meus filhos contaram aos filhos deles, pois a nossa cidade já a considera uma triste herança.

FIM

Giomar Rodrigues
Enviado por Giomar Rodrigues em 20/08/2011
Código do texto: T3172310
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