O energúmeno - Capítulo 13 (Final)
Canela, 1994
Jonas, filho de Fausto, tinha 15 anos, era uma menino alegre e esperto. Era alto, magro, membros longos, cabelo castanho e olhos azuis.
Jonas vasculhava as gavetas do escritório do pai, procurando uma caneta, e achou um pequeno caderno intitulado “O filho do Diabo”. Jonas o abriu, e começou a lê-lo.
“Antes de começar com a história propriamente dita, julgo importante esclarecer algumas coisas sobre duas pessoas, coisas que descobri durante minha pesquisas para este manuscrito:
Demétrio era um menino perturbado. Ele realmente era agressivo, e tinha medo das pessoas, da sociedade. Foi maltratado por toda a vida, injustiçado, acusado de crimes que não tinha cometido. Alguns dos malfeitos que lhe foram atribuídos realmente eram obras suas, como a vez que estuprou a menina no orfanato, como relatou a madre superior quando eu lhe perguntei sobre a passagem de Demétrio por lá; ou quando furtava bens para conseguir dinheiro para comer, como relataram as vítimas, algumas que viram um vulto magricela, e isso realmente condiz com a personalidade do menino. Acredito que ele não fosse energúmeno, conquanto lhe fosse atribuído esse estado. Suas atitudes não são de uma pessoa controlada por um demônio, mas de um menino com problemas psicológicos, talvez até psiquiátricos. Mas uma coisa é certa: ele não é um assassino, nunca matou ninguém, e talvez morreu sem entender o porquê de terem lhe acusado pelos assassinatos, o real porquê.
Meu pai era um homem antipático, mas que sabia ser simpático quando lhe convinha. Era mau, sem sombra de dúvidas: não respeitava ninguém, não obedecia a nenhum limite, e nem atendia às regras. Para ele, os fins justificavam os meios, e perder sua alma para o diabo, arrancar um menino de sua mãe, maltratá-lo por anos, matar muitas pessoas inocentes, ser preso, subornar pessoas, e torturar outras era um pequeno preço a se pagar para atingir seu objetivo... vingança. Nunca ninguém discutiu a fundo sobre ele ser energúmeno, e ele realmente não o era; uma vez, porém, me disse que tinha feito um pacto com o demônio para alcançar sua vingança, que seria o único jeito de se realizar, isso é verossímil, e muito provável. Não duvido que ele fosse psicopata, ele realmente agia como um, não se importava em manipular as pessoas para alcançar o que almejava, tampouco em matar algumas. Eu não podia entregá-lo na época, pois, apesar de tudo que ele fez, era meu pai. Mas, depois de sua morte, contei tudo o que tinha descoberto e tudo o que ele me disse para a polícia, e ajudei nas investigações, e pesquisei sobre esse episódio singular na história da cidade de Canela. O resultado das minhas pesquisas é o que se segue nas páginas deste.”
Fausto entrou no escritório e viu o filho mexendo no seu caderno.
-Jonas!
-Que foi? - disse o jovem, tentando esconder o caderno atrás das costas.
-O que é isso que você está na mão?
Jonas mostrou o caderno, com medo de levar um bronca.
-Quanto você leu.
-Apenas o começo, que falava do menino e de seu pai.
-Apenas isso?
-Só.
-Então venha aqui para eu te contar o resto da história.
E saíram os dois pela porta, em direção à cozinha, para tomar um chocolate quente enquanto Fausto contava a história do “filho do diabo” para Jonas.