O energúmeno - Capítulo 9

Canela, 1968

Com Joaquim morto, o número de assassinatos começou a crescer, chegou a dois por mês. Alguns eram atribuídos a Demétrio, e outros permaneciam um mistério, apesar de que todos tivessem certeza de que o assassino era o menino. Demétrio era o procurado número 1 da polícia.

Demétrio não se lembrava de ter matado ninguém, não apenas isso, mas tinha certeza de que não matou ninguém, mas, só porque tinha certeza tinha que ser verdade? Não sabia de fato se era verdade ou não, mas tinha receio de que fosse. Ele tinha conciência de que era mau, e que agia discrepantemente, mas jamais aceitaria a ideia de ser um assassino.

Ninguém, a não ser o falecido Joaquim, vira o pequeno filho do demônio até o dia em que, pela primeira vez, uma vítima sua saiu viva. Na delegacia, descreveu-o como um menino muito magro, que possuía uma cicatriz de queimadura no rosto, exatamente a descrição do falecido policial. Depois desse incidente, as buscas pelo menino foram intensificadas, agora que tinha pelo menos uma descrição física do moleque.

Não tardou até que prendessem o menino, magro, com uma cicatriz no rosto. O indiano, vítima que escapara das garras do menino, confirmou que era mesmo ele, o menino foi preso e passou uma noite inquieta na cadeia, gritando desesperadamente e balançando as grades. Os guardas não conseguiram relaxar durante a noite, por causa do menino, mas, por uma felicidade ou infelicidade do destino, o menino amanheceu morto, por causas inexplicáveis. O seu enterro aconteceu no mesmo dia, mas ninguém compareceu, ninguém sentiria falta do assassino de metade da cidade.

Mais um assassinato inexplicável aconteceu, e as autoridades acharam isso estranho, será que não era o menino, ou que não era apenas ele? Mas, para sanar essas dúvidas, o coveiro apareceu na delegacia e disse que a cova do menino estava vazia, e que havia marcas de socos e arranhões no lado de dentro do caixão.

Demétrio se escondia num beco, comendo restos que estavam jogados num lixo ao lado dele, e não entendia porque diziam que ele havia morrido e ressussitado, da noite pro dia, enquanto ele apenas dormira. Isso começou a lhe soar estranho. Por que essas coisas só aconteciam à noite, quando ele estava dormindo? Suspeito, muito suspeito.

O menino passava os dias sem fome, por causa da preocupação de ser ou não o assassino, e sabia onde poderia encontrar as respostas para a sua pergunta. No circo, com o dono do circo, se é que ele ainda estava lá, mas não poderia procurá-lo na polícia.

Por sorte, o circo passava pela cidade nestes dias, e, numa noite escura, Demétrio foi lá, e gritou, perto dos trailers:

-Maestro!!!

Um homem saiu de um dos trailers, e falou:

-Meu pai não está mais aqui há muito tempo, o que você quer?

-Eu só queria perguntar-lhe umas coisas.

-Sobre o que?

-Sobre a minha vida.

-Então, como já disse, sinto lhe informar, mas meu pai não está mais aqui.

-Eu sei onde ele está.

-Entre, por favor.

Demétrio contou tudo que Maestro lhe fizera, e que agora era policial, só não contou que estava morto, pois desconhecia esse fato, mas Fausto descobriria isso mais tarde, e também descobriria que o menino que foi naquela noite em sua casa era o principal suspeito do assassinato.