O energúmeno - Capítulo 7

Canela, 1966

Maestro, que deixara o circo aos cuidados do filho, Fausto, desde que foi preso, andava pelas ruas de Canela. O ex-dono do circo fora preso há pouco mais de um ano, sob a acusação de manter um menino em cativeiro, mas o soltaram por falta de provas, afinal o menino não estava lá, e não havia nenhuma evidência disso, como disse o advogado.

Seus quase dois metros de altura e seus músculos assustavam qualquer um que passasse por ele na rua, e seu bigode agora era apenas uma barba mal-feita. Suas roupas eram elegantes, porém velhas e desgastadas pelo uso. Andava segurando uma bengala, conquanto não fosse manco, e deveria usar óculos, mas a teimosia não lhe permitia isso.

O homem agora atendia pelo nome de José Maria da Silva Fernandes, como dizia a sua identidade falsa, e procurava algum emprego. Se apresentou na polícia e mostrou o seu enorme currículo, claro que não o verdadeiro, que só diria “dono de circo”, mas o de Joaquim, que dizia coisas como “promotor em São Bento”. São Bento era uma cidade perto de Canela, maior que ela apenas o suficiente para que todos não se conhecessem, e Joaquim pudesse dizer que trabalhou lá sem ninguém desmentir só de olhá-lo.

O homem era realmente muito inteligente, alguns diziam que ele pensava como os ladrões, e por isso conseguia achá-los, e revelar seus planos e artimanhas.

Não demorou muito para ser promovido, e para que ouvisse falar de um menino problemático, que tocou o terror em um orfanato, e agora tinha fugido, e Joaquim decidiu que ele mesmo deveria acabar com esse moleque, principalmente se fosse quem ele estava pensando, o menino que quase arruinou o seu circo, e que levou-o (Joaquim) para a cadeia.

Joaquim mandou viaturas atrás do menino e foi pessoalmente ao orfanato para ouvir o retrato falado do criminoso, sem dúvidas era Demétrio. Ao sair do orfanato, ele resolveu que só descansaria quando encontrasse o moleque. Procurou por dias, e depois de uma ou duas dúzias deles, finalmente o achou, em um beco escuro, onde o menino estava sentado num canto.

-Então no encontramos de novo. - falou Joaquim.

-Quem é você? - perguntou o menino, levantando assustado do seu canto.

-Hoje me chamam de Joaquim, mas em uma vida passada meu nome era Maestro.

-Maestro!!!

-Isso mesmo, mas hoje em dia eu não atendo mais por esse nome. E esse é o seu fim. - Joaquim puxou um revólver e, quando tentou dar o primeiro tiro, a arma simplesmente não reagiu, pois estava descarregada. O menino pulou de medo com o susto, mas agora fugia como se esta fosse a sua última chance, escalou o muro, e pulava de telhado em telhado, para fugir do policial.

Demétrio sabia que agora correria perigo se estabelecesse sua base num local fixo, então passou a morar em qualquer lugar que encontrasse para passar a noite, e não tinha mais pertence algum, os poucos que tinha, como uma única muda de roupa, um colchão esburacado, um travesseiro quase sem penas e um lençol, ficaram no beco, e, a essa altura, já foram apreendidos pela polícia.

Na mesma noite que Demétrio fugiu do policial no beco, morreu um homem nas ruas de canela, estrangulado com uma corda, e uma carteira com uma quantia significante de dinheiro fora levada do cadáver. Joaquim atribui abertamente esse acontecimento a Demétrio, e jurou com todas as suas forças que pegá-lo-ia.