Março incoercível
Ele não sabia mais o que fazer.
Descia pela passarela flagelado por funestos pensamentos. Aqule ar inodoro que rasgava seus pulmões o enchia de dor, dor. Mais dor. Preso a um azorrague impiedoso. Só podia pensar que um dia a visitante detestável viria para dar seu “oi” também. “Um dia, quem sabe, eu a veja novamente” Ele pensava. Mas no fundo não acreditava. Ele não a veria novamente. “Ela me deixou. Ela não tinha o direito de fazer isso”. Uma lagrima pontuda e inexorável surgia de supetão no canto de seus olhos. Seu duto lacrimal o traira. Porém, ele já havia chorado demais na véspera. Pensou noutros dias que não era verdade. Sabe aquela sensação de que é mentira? Que pode mudar? Pois bem. Foi o que ele sentiu.
Sua cabeça lategou. “Ela me traiu”. Sentiu o escárnio de si próprio. Antes que alguém pudesse ver seu pranto, ele o escondeu; mesmo que estivesse só naquele momento. Ao sair da passarela viu algumas pessoas esperando os seus respectivos ônibus, enquanto ele seguia seu caminho vázio. E quando eu falo “vázio”, entenda tanto conotativa quanto denotativamente. Eram seis horas de manhã e estava tão longe de casa com uma bolsa nas costas. Queria sumir. Todas as quartas e sextas-feiras seu pai o levará à escola muito cedo. Era quarta. Viu o nome da escola borrado. Suas lágrimas o sapecavam novamente.
Se sentiu podre. Esgotado. Inacessível. Obscuro. Torpe. Morto. Morto. Morto.
Sua vó estava morta. E ele se sentia morto. Mas logo o tempo passaria. E ele só lembraria dela em alguns momentos vagos, em que se alumiaria os sentidos e coçaria os olhos pelos formigamentos da vontade de chorar.
“Ela me prometeu que iria me ver casar”. Não viu.
Não chorou mais.