NECRO ART.

O silêncio só não era total porque vez por outra o bisturi elétrico encontrava resistência de alguns tendões... A sala revestida de azulejos brancos ignorava a escuridão da noite. Elcio, com a paciência de ourives, ia mutilando o corpo de mais uma de suas vitimas.

Mais uma putinha capturada pelas imediações do centro velho.

A Carne tenra e o sangue ralo exalavam a fragrância dos hormônios... Elcio se deleitava com aquele cheiro de morte recente. O fato de ver sua vitima nua lhe provocava uma sensação de prazer que o inspirava. Mas não era a nudez formal, a quem os homens comuns definiam como ausência de roupas. Elcio encantava com o corpo despido de vida. Era sua fonte de inspiração. E ali no ateliê improvisado de sua cozinha, Elcio, ia preparando a matéria prima para mais uma de suas criações.

Primeiro o retalhamento do corpo. A pele esticada numa moldura ossos era a tela. Da dissecação dos órgãos conseguia as tintas. Cores manhosas, que iam se transformando ao longo do tempo...

Elcio criara um novo estilo: a necro-arte e em sua teoria, a morte podia tornar-se viva quando transformada em arte. Seus quadros eram pintados com sangue, bílis, insulina, sucos gástricos, urina e fezes.

Segundo Elcio, cada ser humano tinha um matiz diferente. A forma de vida, a alimentação, a bebida, o cigarro ou qualquer outra droga tinham intima relação com o resultado da obra. Elcio percebeu também que os quadros mudavam de cor ao longo do tempo... Daí a idéia de batizar seus trabalhos como necro-art.

Sua arte transcorreu sem problemas durante quase cinco anos... E como um artista obcecado por seu trabalho e obstinado em atingir a perfeição, Elcio, criara neste período mais de 30 quadros...

Numa madrugada, ao dar a ultima pincelada de sangue num de seus quadros, maravilhou-se com o que criara. A imagem embora abstrata sugeria a sombra de uma mulher cabisbaixa. Entorpecido pela emoção de ter atingido o seu ponto máximo, Elcio imitou o gesto de Michelangelo diante da escultura de Moisés. Ajoelhou-se e disse:

- Fala...

A Imagem não falou, mas levantou a cabeça e saltou da tela, enfiando as presas na garganta de Elcio que ainda teve tempo de ver suas telas transformando-se em seres bestiais que o retalharam a dentadas...

Dias depois, quando os bombeiros arrobaram a porta de seu apartamento encontraram na sala o seu cadáver que embora destruindo , sustentava o sorriso da Monalisa. Mas os bombeiros não viram o que acontecia no invisível: Elcio sendo pintado por Hitler usando cinzas como base.

DEHOLAMBRA
Enviado por DEHOLAMBRA em 11/08/2011
Reeditado em 11/08/2011
Código do texto: T3154727
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