Fuga Maldita - Parte IV
O capitão deu a ordem para os caminhões da companhia avançarem, o mais rápido possível.
- Comandantes de pelotão, preparem-se para tudo! – gritou no rádio – Preparem as Metralhadoras.
Olhou para o tenente ao seu lado na boleia e disse:
- Vamos chegar arregaçando mesmo.
O homem limitou-se a sorrir e confirmar com a cabeça. Ele achava o capitão agressivo e corajoso o suficiente para desdobrar qualquer coisa, mas achava que às vezes, faltava coração nele.
Os caminhões da companhia rasgaram o asfalto. Entraram na cidade em pouco tempo e rumaram em direção ao local do acidente do primeiro pelotão. Avançavam rápido, mas cautelosamente. Os soldados estavam preparados para tudo, mas o medo era o principal inimigo deles.
- Capitão! – gritou o motorista.
O capitão e o tenente olharam rapidamente para onde o cabo apontava.
Uma menina de no máximo seis anos com um vestido rendado rósea estava de costas, ajoelhada na rua, onde o caminhão ia passar.
- Para! – disse o tenente – eu vou lá olhar.
O tenente desceu do caminhão e foi caminhando calmamente até a menina.
- Ei, menininha! – disse o tenente e colocou a mão no ombro dela.
A pequena virou-se e o tenente caiu para trás, pois tamanho foi o seu susto.
O rosto da pequena era todo carcomido de carne podre e sangue escorria do nariz. Seu lábio superior havia sido arrancado e ela tinha um sorriso macabro no rosto, seus lindos olhos azuis estavam cercados por pequenas veias vermelhas e a franja de sua cabeleira estava toda suja de sangue seco. Uma visão assustadora. Ela deu um grunhido, depois um grito e partiu para cima do tenente.
Antes que a pequena amaldiçoada pudesse tocar o tenente, um tiro certeiro acertou-a bem no meio da testa dela. O tenente olhou para o caminhão com a cara assustada e viu o capitão guardando sua pistola no coldre preto.
- Obrigado. – balbuciou o tenente.
- Ora, não agradeça! – bradou o capitão – Entre logo no caminhão e se prepare para os monstros que estão escondidos em cada ruela dessa cidade amaldiçoada.
Mal o capitão acabou de falar, ele escutou o sargento em cima do caminhão dando a ordem para que as metralhadoras atirassem. Ele olhou para frente e viu uma multidão de mortos-vivos a pouco mais de cem metros do caminhão.
- Posição de ataque com as M.A.Gs! - rugiu no rádio.
Trinta segundos depois os outros dois caminhões estavam posicionados lado a lado de forma que os soldados com as metralhadoras em cima da boleia do caminhão tinham total liberdade para atirar na turba macabra.
- Fogo! – gritou no rádio.
A primeira metralhadora cuspiu tiros ensurdecedores. Foi seguida das outras que também começaram a atirar.
- Formação em frente! – modulou o capitão – Preparem-se todos os soldados!
Os tenentes passaram a ordem para os sargentos nas carrocerias. O som de soldados carregando fuzis se destacaria se não fosse encoberto pelo rugido bravo das metralhadoras.
- Avançar!
Os caminhões começaram a avançar lado a lado, com as suas seis metralhadoras disparando cadenciadamente na turba, os monstros caiam como se fossem frutas podres.
- Segundo pelotão, coloque seus Snipers naquele ponto de comandamento, rápido. – rosnou o capitão ao rádio, pois ele tivera uma idéia – Mande-os levar o morteiro.
Uma imensa torre comercial surgiu. Ela era a mais alta do bairro, toda revestida de janelas espelhadas. A cobertura era o local perfeito para o plano do capitão de abrir passagem pelos mortos-vivos.
Três homens desceram da viatura: um com um rifle de precisão e uma placa base, outro com um tipo de monóculo especial e o cano do morteiro nas mãos e o terceiro levava o suporte do morteiro e um fuzil, todos levavam grandes mochilas nas costas. Ambos correram para a entrada do prédio. Alguns zumbis surgiram na frente deles, mas não foram problemas, pois o cabo com o monóculo puxou sua pistola e estourou os miolos deles.
Poucos segundos depois os homens estavam entrando no prédio.
- Quanto tempo até eu ter aqueles homens lá em cima? – perguntou o capitão para o comandante do segundo pelotão.
- Considerando que eles vão subir tudo de escada, de cinco a dez minutos, meu capitão.
- Mande-os apressar-se.
O capitão fez um sinal com a mão para que o motorista maneirasse na aceleração.
- Tiros de AT-4, agora! – gritou no rádio.
Os sargentos na carroceria de cada caminhão chamaram seus soldados com bazucas a tiracolo.
- Fique ao lado do caminhão e atire neles. – foi a ordem dada.
Os homens fizeram a pontaria e disparou as três munições, uma de cada caminhão
O estrondo foi tamanho, as bombas acertaram em cheio o centro da turba, fazendo com que vários monstros saíssem voando aos pedaços.
- Volta pra cá, porra. – gritavam os demais soldados para os companheiros que haviam ido atirar com as bazucas.
Os soldados jogaram as carcaças dos AT-4 e voltaram correndo para cima do caminhão.
- Pare o caminhão. – disse o capitão.
Os três caminhões pararam ao mesmo tempo. O capitão desceu pela porta e fez um sinal com a mão para os tenentes o acompanhassem.
Por sobre as ruas na noite escura, os homens podiam ouvir os gemidos demoníacos dos mortos-vivos. Logo, eles estariam ali e a batalha entre vivos e mortos iria começar. Alguns pensavam se aquilo era o começo do apocalipse, o fim do mundo.
- Muito bem. – falou o capitão – Nós vamos avançar em posição de ataque, cuidado com as ruas secundarias. Mande alguns homens irem mais recuados para poderem proteger nossa retaguarda. O segundo pelotão deve ser dividido nos dois flancos. Entendido?
- Sim senhor!
- Vamos lá!
Os soldados desceram dos caminhões e começaram a entrar em formação. Todos os homens da companhia eram bem adestrados e sabiam exatamente onde deveriam ficar e como se posicionar. O capitão entrou na boleia do caminhão, pegou um megafone no banco e subiu no teto do caminhão.
- Companhia, nós vamos avançar!
Os homens ao ouvirem a voz do capitão ficaram entusiasmados, pois era hora do combate.
- Peça de morteiro preparada. – o radio berrou.
- Fogo! – modulou o capitão.
Poucos segundos depois uma enorme explosão foi ouvida, alguns segundos depois, outra e mais outra e assim sucessivamente. Com pouco tempo metade da turba de mortos vivos que começava a avançar em direção a companhia foi dizimada por tiros de morteiro, armamento pesado de guerra.
- Eles estão chegando! – gritou um sargento que estava na linha de frente - preparem-se.
- Fogo! – gritou o tenente do pelotão da linha de frente.
Os mortos corriam em direção aos soldados com sedenta fome. Os militares responderam com tiros, que arrasavam a turba furiosa de zumbis, mas era inútil. A linha de frente foi atacada, soldados foram destroçados com sangue e tripas jorrando de suas fardas verde oliva. O tenente do pelotão não teve outra opção, teve que recuar seus homens ainda vivos. Diante dessa situação o capitão não teve alternativa: mandou as metralhadoras cuspirem fogo nos soldados que foram contaminados. Em alguns minutos os zumbis estavam quase todos mortos, alguns ainda tentavam avançar, mas eram dizimados pelos soldados que se espalhavam.
- Vamos atrás do caminhão perdido! – ordenou o capitão.
Eles avançaram a pé e alguns sobre o caminhão. Algumas ruas depois, eles encontraram o caminhão acidentado. Restos de corpos e alguns zumbis caminhavam lentamente pela rua, esses foram exterminados com tiros na testa.
- Algum sobrevivente? – perguntou o capitão.
- Ninguém senhor. – respondeu um soldado que voltava do reconhecimento do perímetro.
- Merda! – gritou o capitão.
De cima do caminhão, ele pode ver que dois soldados entraravam em uma das ruas secundarias e correram na direção de um bairro residencial.