O médico de plantão - Mais um conto macabro de dia dos pais
Era dia dos pais. Caio chegou mais cedo do trabalho naquela noite fatídica. Ele acabara de dar plantão no hospital, era um famoso cirurgião, havia conseguido tudo em sua vida com muito trabalho e horas de dedicação. Levou uma de suas mãos ao bolso à procura da chave da porta, mas quando encostou sua mão direita a mesma rangeu e se revelou aberta. Ele logo soube que havia algo errado e lembrou-se de seu filho e sua esposa. Entrou sorrateiramente e encontrou uma sala totalmente desorganizada, a mesa de vidro estava quebrada, cacos esparramados pelo chão, seus livros, cd´s, dvd´s, todos jogados. Estava tudo revirado. Seus olhos percorreram aquele cômodo minuciosamente, ele então dirigiu-se para cozinha e abriu as gavetas cautelosamente, procurou alguma faca, mas não havia nenhuma ali. Quem quer que estivesse ali, ou estivesse estado ali fez questão de esconde-las. Aquilo o deixou em pânico. Ele tinha que achar algo para se defender, foi então que ele viu aquela taboa de cortar carne que seu pai havia lhe dado de presente, ela devia ter 50 a 60 cm de comprimento, ele lembrou-se de á quanto tempo não reunia a família. Há quanto tempo ele e seu pai já não se falavam. Há quanto tempo ele e seu filho não tinham uma verdadeira conversa entre pai e filho ou até mesmo uma tarde livre juntos. Então um barulho despertou-o de suas lembranças e ele seguiu de encontro a ele, viu o corredor que levava aos quartos, a taboa empunhada na altura de seus ombros, suas mãos tremendo ligeiramente. Ele estava chegando próximo ao quarto de seu filho quando viu um quadro quebrado mais a frente na parede em frente ao seu quarto, sangue escorrendo pela parede, a porta entreaberta e uma mão aparecendo inerte no chão, em suas unhas davam para notar o tom rosa do esmalte que ela adorava usar. Ele então não se conteve, sentiu seu coração acelerado e correu até ela. A imagem á sua frente o fez dar um passo à atrás.
Sua mulher estava morta, ela havia sido assassinada brutalmente. Seu corpo jazia ao lado de uma tigela de vidro cheia sangue. Suas orelhas haviam sido cortadas, assim como seu Nariz que estava completamente deformado, as narinas rasgadas, um pedaço de ferro atravessava sua face de um lado ao outro, sua boca aberta bisonhamente mostrava seus dentes que ainda restavam em meio ao sangue, ele então viu a outra mão dela ou o que restara, seus ossos estavam esmagados, era como se alguém tivesse batido repetidas vezes com um martelo sobre seus punhos e dedos, ele não resistiu e sentiu uma vertigem e logo vomitou pelo chão, seus olhos então viram o que havia na vasilha que estava repleta de sangue, as orelhas, dedos e dentes estavam ali. Suas mãos apoiaram-se no chão sob um misto de seu vômito e o sangue de sua esposa. Suas lágrimas saltaram de seus olhos como um vulcão que desperta subitamente, ele agarrou firme a taboa com sua mão direita e foi à procura de seu filho, suas lágrimas ainda percorrendo seu rosto e despencando em queda livre ao chão. Ele estava confuso. O que ele teria feito? Por que alguém faria aquilo com sua Cláudia? Maldito! Vou matar o culpado por isso. Ele então voltou pelo corredor, a ira o havia tomado por completo. Ele então parou de frente ao quarto de seu filho, o som vinha de lá. Ele levou a mão até a maçaneta e abriu-a lentamente evitando o barulho. Logo ele viu seu filho deitado no chão inerte, estava repleto de sangue, seus olhos fechados, mais á frente sobre a mesa do computador uma carreira de pó branco como talco e uma espécie de canudo. Ele caminhando a passos lentos, era como se o mundo estivesse girando ao seu redor, ele então olhava para as paredes do quarto de seu filho, a morte parecia ter rondado aquelas paredes o tempo todo, pichações, desenhos de demônios, lembrou-se do não perturbe que ficava na frente da porta, seu computador ligado, uma mensagem chamou sua atenção piscando na tela do monitor como proteção de tela, ele abaixou-se até ela e leu.
Papai, onde você estava? Aperte o Enter!
A mensagem passava sob um fundo escuro e estava escrita num vermelho sangue, ele sentiu sua cabeça rodar e enfim pressionou a tecla, a mensagem saiu de cena e ele pode ver o que a câm estava filmando, ele estava de pé, as paredes pichadas, o sangue na roupa de seu filho que agora estava à centímetros dele. Uma tesoura em uma das mãos, na outra uma faca, ele virou-se e deixou a tabua cair no chão. Seus olhos melancólicos encontraram um olhar de desprezo do filho que enfiou a tesoura em sua barriga.
- Por que Henrique? Ele perguntou colocando a mão sobre a ferida. Henrique passou por ele e cheirou um pouco daquele pó utilizando aquela espécie de canudo.
- Você sabe quem eu sou papai? Perguntou ele
- Claro que sim! Você é meu filho. Você não pode ter feito aquilo com sua mãe! Não você...
- Ah papai! Você não sabe quem eu sou... disse ele enfiando a tesoura na coxa de seu pai que ajoelhou-se sentindo enorme dor, as lágrimas continuando a brotar. A mamãe nunca prestou atenção em mim, assim como você. Preocupava-se mais com a vida irreal dela naquelas novelinhas chatas. Todas às vezes que eu chegava até ela querendo um pouco de carinho ela me dizia, to vendo a novela menino! To fazendo isso! To ocupada! Vá brincar lá fora com seus brinquedos, você tem tantos! Disse ele em tom mais austero.
- Mas filho... disse ele imerso em dor. Por que isso tudo.
- Minha vida é um inferno por sua culpa! Sua ganância. Brinquei de operar meus bonecos diversas vezes, mas eles sempre estragavam quando eu os abria. Meu quarto era um mundo estranho papai... as vozes na minha cabeça... uso drogas desde os treze anos e vocês não perceberam nenhuma alteração em mim. O que eu sou para vocês? Disse ele empurrando seu pai no chão, seu olhar era irreconhecível.
- Quem é você? Disse Caio. O que fizemos com você Henrique?
- Meu sonho era ser como você papai, poder cortar as pessoas sem matá-las, mas eu não sirvo pra isso mesmo. Tentei com a mamãe, mas ela não resistiu. Ele então abriu uma maleta e tirou um bisturi e uma injeção. Eu tentei anestesiá-la papai, mas não deu certo. Vamos ver se você tem sorte.
- Não faça isso! Disse Caio sentindo a agulha penetrar em sua pele. Ele sentiu um leve formigamento no local, mas sabia que não seria o bastante para anestesiar a dor. Henrique então pegou o bisturi e iniciou sua brincadeira...
- Não se preocupe papai... hoje estou te plantão!
A todos que me lêem um forte abraço e que Deus lhes abençoe e ilumine sempre!