Para o inferno
Todas as noites ela acordava desesperado e suando frio.
Aquele sonho o acompanhava.
Ele a via flutuando e vindo para seu quarto no vigésimo quinto andar.
Seu rosto todo machucado, na verdade destroçado e ensanguentado.
Sua roupa rasgada e suja, uma sujeira mesclada com manchas de sangue seco.
Ela o encarava e sorria para ele e dizia que o amava ainda. Ainda.
Ele sabia o que o sonho signifcava e isso o apavorava ainda mais.
Tinha medo.
Sua vida virou um inferno. Ele evitava dormir à noite, pois sabia que ela viria.
Mas uma noite foi diferente.
Ele sonhou e acordou. Apavorado como de costume se sentou na cama.
E como se algo o levasse a fazer isso, se levantou e foi para a sacada.
Era madrugada. Acendeu um cigarro.
Ficou ali por alguns minutos.
Quando se virou para entrar sentiu um vento gelado. Era ela e ele sabia.
E não estava sonhando agora. Ela estava lá. Flutuando.
Não te amo mais. Ele ouviu ela dizer.
Eu me livrei de você. Ela continuou.
O que você você quer??? Ele gritou apavorado.
Justiça. Ela disse.
Ele criou coragem e se virou.
Lá estava ela. Como nos pesadelos. Deformada. Ensanguentada.
Você foi a culpada. Foi você.
Não. Nãooo. Você me jogou.
E não vamos nos encontrar.
Sabe porque? Porque eu fui assassinada. Eu queria viver.
Eu fui ao purgatório pagar meus pecados.
E você? Seu covarde. Você vai para o inferno.
Para onde vão os assassinos e suicidas.
E foi se aproximando dele.
Sua roupa foi ficando branca e seus ferimentos foram desaparecendo.
Ele foi se aproximando da sacada.
Os olhos dela foram mudando de cor. Estavam agora vermelhos.
O ódio estampado no rosto.
Ele estava acuado e apavorado.
Sem saída se jogou do décimo quinto andar.
Seu corpo ficou estedido no chão por algumas horas, mas sua alma já estava perdida nas trevas exteriores, onde havia prantos e ranger de dentes.
Para onde vão os assassinos e suicidas.
Da sacada do décimo quinto andar um vulto branco observava.
Imóvel e com um sorriso de vingança nos lábios.