Fuga Maldita - Parte III

Quarenta minutos depois do ocorrido no banheiro. Netto estava deitado no colo de Dayanne.

Os quatro tenentes e os vários sargentos da companhia estavam em uma reunião. O capitão os convocara as pressas. Enquanto isso, os militares de patentes mais baixas estavam aprontando armas e munições.

Netto teve uma idéia.

- Dayanne, você fica aqui. Eu vou escondido com eles.

- Não...

- Sem conversa. – ele disse mudando o tom de voz e com o dedo em riste – Eu tenho que fazer isso. Eu prometi. Você não.

- Eu não vou permitir. – disse Dayanne.

- Desculpa, ta?

-Pelo que...

Netto deu um soco no rosto da namorada, bem no queixo. Ela caiu desmaiada. Ele deu um beijo nela e a deitou confortavelmente em uma cama de campanha.

- Eu vou voltar. – prometeu.

Netto rumou para o alojamento dos oficiais que estavam na reunião. Havia um soldado na porta. Barbosa, ele pode ler na farda.

- Ei, o sargento tava chamando o soldado Barbosa, é você né?

- Sim.

- É melhor você correr, pois ele tava furioso.

- Onde... Onde ele ta?

- Na ultima saída de veículos.

- É longe.

- Então, vai logo.

O soldado saiu correndo com seu fuzil dependurado pela bandoleira.

Netto, sorrateiramente, entrou no alojamento. Ele tinha reparado que um dos oficiais tinha a estatura parecida com a sua, logo, poderia pegar sua farda e vestir tranquilamente. Ele encontrou o armário do Ten. Fernando. Pegou a farda e a vestiu rapidamente, tendo um pouco de dificuldade para calçar os coturnos. Depois, colocou um gorro como o que alguns soldados usavam e rumou para a reserva de armamento, pois precisava de um fuzil.

Netto correu para a reserva de armamentos.

- Ei soldado! – gritou o cabo Pereira – Onde você pensa que vai?

- Pereira! – exclamou Netto.

- Netto? – surpreendeu-se Pereira – Que diabos?

Netto explicou-se.

- Olha garoto, eu posso ir pra corte marcial, mas eu vou te ajudar, afinal, família é família.

- Obrigado, Pereira.

- Rápido, pegue um fuzil na reserva.

Netto entrou na enorme sala do arsenal da companhia, havia alguns canhões, vários fuzis, baionetas, granadas, morteiros, AT-4, escopetas, pistolas e outras armas.

-Pega aquele fuzil. – disse o cabo apontando para uma arma.

Netto pegou a arma e colocou-a no ombro.

- Aqui é a trava de segurança, aqui você aperta e ele atira. Lembre-se de apoiar bem no ombro ta?

Netto meneou a cabeça.

-Quando você puxar aqui vai carregar e para trocar o carregador, aperta aqui e puxa isso. – explicou rapidamente o cabo enquanto demonstrava para o rapaz.

Netto aprendia rápido.

- Agora, trava essa porcaria e toma cuidado.

O cabo pegou um cinto com vários carregadores e com uma baioneta.

- Aqui se você ficar sem munição, usa a porcaria da baioneta.

-Mas, eu não... – balbuciou Netto.

- O que? – surpreendeu-se Pereira – Você tem medo do combate aproximado?

- Não! – respondeu Netto com falsa coragem.

O cabo entregou-lhe um capacete.

- Vou te colocar na minha esquadra. Assim você pode ficar mais a vontade. Mas, cuidado.

Netto pode ouvir homens gritando fora da sala.

- O que é isso Cabo? Os monstros? – perguntou Netto assustado.

Cabo Pereira riu do susto do rapaz.

- Isso, são nossas ordens para o combate.

Netto colocou a cabeça para fora pela porta. A reunião havia acabado e os tenentes e sargentos reuniam seus homens.

- Bora! – gritavam – Vamos para o pátio, ta todo mundo pronto já.

-Vamos Netto. – disse o cabo – Alias, coloca meu nome aqui na sua farda, pois assim você ta sem nome.

O cabo colocou uma sutache com o nome em letras garrafais “PEREIRA”.

- Muito bem, soldado Pereira. Agora, fica na minha cola.

Netto, agora Sd. Pereira e o cabo seguiram com seu equipamento para o lugar destinado ao seu pelotão.

- Quem é esse ai cabo? – perguntaram os outros soldados da esquadra.

- Esse menino vai com a gente. – explicou – Ele precisa encontrar os pais naquele inferno.

Os soldados concordaram.

- Não deixem ninguém ver ele. Ta?

- Pode deixar. – respondeu um dos soldados - Incorpora ai garoto.

Os quatro pelotões sobre o comando do capitão estavam em forma. O capitão começou a falar com voz firme:

- Hoje, nós temos uma missão...

Netto só pensava na rota que teria que fazer para chegar a sua casa.

-... Temos vidas para salvar, mas outras serão tiradas...

“Será que o velho J.J ainda estava vivo?”, perguntava-se Netto.

- Tivemos informações que um caminhão da Companhia Ydesa Ltda. Sofreu um acidente no centro da cidade. – começou a explicar o capitão – Dentro, havia tanques de contenção com uma arma biológica. Ela foi a responsável pelo incidente.

- Soubemos que a transmissão foi causada por algum tipo de vírus, ele contamina a saliva e o sangue das pessoas. – falou o Ten. Médico da companhia – Por isso todo cuidado para mordidas e arranhões.

- Grupamento, o primeiro pelotão vai fazer uma patrulha na cidade, para reconhecimento da situação. – explicou o capitão – Depois todo o resto da companhia vai para apoiar, limpar e recolher tudo. Entendido?

- Sim, Senhor! – bradaram todos os soldados juntos.

- Companhia, atenção! – ordenou o capitão – Companhia fora de forma. Marche!

De maneira uniforme todos os soldados deram um passo para frente e bradaram:

- Avante!

O primeiro pelotão, o pelotão que Netto estava infiltrado, correu para um caminhão. Todos os soldados sentaram-se com os fuzis para fora da carroceria. Dois soldados com metralhadoras automáticas foram posicionados na traseira da bulé do caminhão, tendo total linha de tiro na frente, onde o automóvel passaria.

- Netto, se cuida. – disse o cabo Pereira.

Netto meneou a cabeça positivamente. Agora, ele tinha que cumprir sua promessa.

O caminhão rumou de volta para a cidade. Os soldados estavam nervosos, mas animados, pois iam combater. Ansiosos, seria esse o sentimento mais correto para definir o que eles sentiam. Todos, menos Netto que estava, literalmente, tremendo de medo.

O veiculo entrou na cidade. O velocímetro marcava oitenta quilômetros por hora. O cabo motorista gritou para o tenente, que estava ao seu lado:

- Para onde, senhor?

- Vira a esquerda e pega a avenida principal! – berrou o tenente.

O cabo virou o volante para o lado ordenado e seguiu na avenida principal da cidade. O tenente deu uma tapa no teto da capota, um sargento que estava próximo colocou o ouvido na janela. O tenente gritou para ele:

- Preparar para desembarque. Na próxima rua.

- Monstros! – gritou o motorista enquanto parava o caminhão.

Uma gota de suor desceu na face do tenente. Ele arregalou os olhos para ver a cena.

Na calçada, dois homens ensangüentados rasgavam o cadáver de um terceiro. Suas tripas eram devoradas com voracidade, o sangue e conteúdo dos intestinos sujavam a boca e as mãos dos devoradores que se banqueteavam com a carne da vitima.

- Metralhadoras, abram fogo! – gritou um sargento em cima do caminhão.

Uma rajada de tiros atingiu os dois desgraçados na calçada. Eles tombaram inertes. Mas, o som dos tiros ecoou por toda a avenida e enquanto o caminhão avançava mais e mais o cabo motorista e o tenente viam monstros saindo de ruas paralelas.

- Tenente? – gritou o cabo.

O Tenente passou a mão na testa suada. Não sabia mais o que fazer, aquilo era muito pior do que imaginava, não fora treinado para isso. O instinto de sobrevivência falou mais alto.

- Porra, não para pra nada. – gritou – Passa por cima... Sargento, preparar para atirar.

Do alto da carroceria o sargento deu a ordem para que todos carregassem suas armas.

Netto carregou o fuzil e o apoiou no ombro, já não estava mais tremendo tanto.

- Fogo, à vontade! – bradou o sargento.

Os soldados começaram a disparar e monstros começaram a cair, mas quanto mais monstros caiam mais apareciam e mais tiros eram disparados. De repente, uma freiada brusca e os soldados levaram pancadas na lateral do caminhão.

- Segue pela lateral, cabo! – gritou o tenente.

Na frente do caminhão, toda a avenida estava tomada por infectados, era impossível passar por ali.

O cabo arrancou com o caminhão entrando em uma rua lateral, ele escutou o tenente falando no rádio.

- Precisamos de reforços agora! Situação critica impossível controlar!

- Entendido! – respondeu a voz do outro lado do rádio.

- Acelera! – gritou o tenente.

Todos os soldados tentavam se segurar no caminhão de alguma maneira, mas quando o caminhão partiu para a rua lateral dois soldados caíram no chão, um quebrou a perna e o outro caiu rolando. Dois outros pularam para tentar ajudar os amigos, mas acabaram sendo cercados e atacados pelos monstros, não tiveram chances contra uns cinqüenta zumbis que surgiram.

Netto não acreditava no que via, ele iria morrer.

Quando o caminhão entrou em uma avenida secundaria, o motorista viu que essa também estava tomada pelos monstros. Em uma ultima medida desesperada, ele tentou freiar, mas o peso do caminhão e a força centrípeta da curva fizeram a enorme viatura tombar.

Netto gritou quando o cabo Pereira caiu por sobre seu corpo. Ele estava machucado, Netto apagou quando sua cabeça bateu em um dos bancos da viatura.

Os monstros escutaram o enorme estrondo e o som da borracha queimando na pista, logo o lugar estaria repleto de mortos-vivos sedentos por mais carne.

João Murillo e Netto Andrade
Enviado por João Murillo em 01/08/2011
Código do texto: T3133221
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