A Viagem

Alguns documentos falsos, novos nomes, e um caixão de um tio morto, retornariam a Italia. Trevor ficou engraçado, trajado com um terno comprado em um brechó. Jonatham o observou por alguns minutos, e disse-lhe que era o morto mais perfeitamente morto que já vira na vida. Usava um óculos de armação grossa, deixou a barba alourada crescer, penteou os cabelos com gel, e trajava uma roupa pouco suspeita. Já, Laura, usando um vestido que lhe conferia uma aparência normal, distante da jovem caçadora trajando o negro costumeiro. Os cabelos estavam presos em uma trança, que descia através das suas costas. Ele imaginou como seria o dia perfeito, a caminhar de mãos dadas com ela, a beira do lago no parque o Ibirapuera, vislumbrando o fim do dia, com o por do sol.

Afastou os sonhos pueris, e observou o céu além das nuvens, os olhos pesavam e o sons do mundo tornaram-se distantes.

Sentiu um frio intenso, as pedras úmidas repletas de limbo, iluminadas por uma vela tímida. Um lobo uivou em alguns lugar, da janela de pedra, protegida por barras de ferro, podia-se ver o reflexo da lua entre as nuvens espessas e acinzentadas. Um monge, escrevia em um pergaminho, traçando linhas leves e negras, notou um leve tremor em suas mãos, e o suor que salpicava a sua testa. Nos olhos uma expressão de medo e tormento.

- Eu preciso terminar antes do sol nascer, preciso terminar... – os lábios fremiam úmidos e pálidos, algo lhe dizia que aquele homem estava para morrer – eu prometi, minha vida em troca minha vida... – olhou para a mesa, onde parcas páginas que já haviam sido escritas, descansavam – é pouco, muito pouco, vinte apenas... meu Deus, o que farei. Irei morrer quando o dia nascer...

A porta de ferro maciço se abriu, e um outro monge surgiu, lhe trazendo um pão duro e um copo de água. Olhou-o com pesar, quando viu as poucas paginas que o outro havia produzido.

- Falta pouco para o dia nascer Antonio... somente um milagre pode salva-lo – sabia bem disso, somente o milagre poderia livrar o pescoço daquele monge de uma forca ou de ser emparedado vivo. O seu crime contra Deus, fora tão hediondo, que pouco se falou sobre isto no monastério. Os outros se resignaram ao silêncio, a espera de que a promessa que havia sido feita, fosse cumprida pela manhã.

- Deixe-me, saia! – gritou com o jovem monge, que não aparentava mais do que quinze anos de idade. Que saiu assustado, tropeçando descuidado em sua própria indumentária.

Sua promessa fora feita a um sumo-sacerdote, na presença de muitas outras testemunhas. Iria escrever o maior livro, já escrito, que exalta-se o nome de deus, isso em apenas uma única noite. Aceitaram a sua oferta de redenção, um livro, pela sua vida, mesmo ciente de que seria um feito impossível.

O céu pálido o separava das poucas horas do amanhecer, e seu trabalho penoso lhe havia rendido apenas vinte páginas, o desespero nos olhos vermelhos e lacrimosos do monge estava mais visível, era o medo da morte. Transtornado, por uma promessa falha, ajoelhou-se, suplicando a deus ou a quem o estivesse ouvindo. Mas o silêncio o tragava para mais perto do seu destino.

Súbito uma voz sussurrou em seus ouvidos, um vulto surgiu próximo á janela a contemplar o monge em seu desespero, saboriando cada momento de terror estampado naqueles tristes olhos. Por alguns minutos, o monge piscou incrédulo para o par de asas sombrias que se dispersaram quase imperceptíveis no ar.

- Estou ficando louco... – murmurou.

- Não, não esta, monge – disse a voz suave de um homem do qual não se podia ver o rosto – ouvi a suas preces, e vim em seu auxilio.

- Um anjo? – disse o débil monge.

- Em outras eras talvez, hoje estou longe disso. O que importa é que eu tenho uma oferta a lhe fazer, uma que irá salvar a sua pele, monge.

- você é o diabo que veio me tentar! - afastou-se o monge – veio roubar a minha alma em troca de favores.

- Ora, monge, conheço a sua natureza. Não se faça de bom moço, isso não lhe cai bem. Vi o seu pecado, como enfiou essas mãos gordurentas nos seios daquela camponesa, antes de invadir a sua frescura virginal. – notou a expressão culposa do monge – quem iria controlar os seus instintos com aquela menina deliciosa. É compreensível, afinal vocês monges, tem hábitos tão estranhos, usam roupas repletas de pulgas e se auto-flagelam. Sei bem o que é controlar os instintos, monge. O fato é que ainda ouço os gritos dela ecoando em algum lugar... – riscou a parede com as unhas, criando faíscas – Não se preocupe, sua alma tem um lugar reservado nos mares de lava, irá arder eternamente... a não ser que...

- A não ser que? – perguntou ao repetir as palavras do demônio.

- Que você faça um livro em meu nome. Posso lhe dar poder, irá terminar o seu intento esta noite e salvar o seu pescoço seboso, o que me diz?

- eu... eu... - as palavras vacilaram. Estava condenado, e o único a ouvir as suas preces estava diante dele, com uma salvação em suas mãos. Não havia muita opção – eu aceito.

Mesmos nas sombras, notou um sorriso luminoso, um bafo de enxofre soprou fazendo os olhos do monge arderem. Sentiu uma estranha força a dominar seus músculos, uma força que não lhe pertencia, fazendo escrever tão rápido quanto qualquer humano. O medo, a fome, a dor haviam abandonado seu corpo. E assim quando o sol nasceu timidamente entre as colinas, o homem havia terminado o livro maldito. Incrédulos com tal feito, os monges e o sumo sacerdote constataram que aquele livro era obra do próprio demônio. Ao invés de ser emparedado vivo, como havia sido sua sentença anterior. O monge foi condenado a queimar na fogueira, para que sua alma fosse purificada.

Mas na manhã de sua execução, as chamas da pira não o queimaram, dançavam como cavalos de fogo ao redor do seu corpo, queimando suas roupas, deixando-o completamente nu, a sorrir e gargalhar, enquanto as colunas de chamas lambiam suas cochas e aqueciam o seu rosto.

- Vocês não podem me matar, ele não ira deixar! – gritava o monge – Deus não ouviu a minhas preces, então ele veio me salvar! – a saliva borbulhava em seus lábios loucos, pelos olhos injetados do monge, a loucura o tinha dominado.

- Você jamais pertenceu a Deus, tentamos salvar a sua alma, mas você tem o pecado imbuído na carne! – gritou o sumo sacerdote. - se o fogo não pode mata-lo, então a espada de Deus, pode! - e assim quando as chamas se extinguiram, ordenou que o capitão lhe arranca-se a cabeça, eternizando o sorriso louco nos lábios do monge.

A boca do morto retorceu-se, os olhos viraram oleosos em sua direção, fitando-o.

- Voce não é um herói, Jon. – a saliva vermelha escorreu pelos lábios – Nunca será, o que havia de ser feito, esta feito. Sua rainha caiu. E o fim esta próximo... – a cabeça tornou-se imóvel, revirando os olhos nas órbitas macabras

Acordou com um murro no braço, e Laura com aquela inconfundível face irada.

- você tava falando sozinho, de novo. Mais um pesadelo?

- Sim, obrigado por perguntar – secou o suor com o braço do casaco.

- Você falou sobre a bíblia do Diabo, tem ideia do que isso significa?

- Tenho, é um livro de encantos e feitiços macabros. Mas não compreendo ainda porque eu ando sonhando com estas coisas... – desde que Margot o marcara com o seu sangue, nada parecia ser normal. Os sonhos, as sensações, nada fazia sentido. Era como se estivesse gradativamente deixando de ser humano.

- Temos de descobrir, Jon. Alguns caçadores dizem que essa bíblia amaldiçoada contém os segredos do inferno, e que pode abrir os seus portões. Outros dizem que é a produção de trinta anos de escrita de um monge maluco. Uma vez vi que ela esta guardada em uma biblioteca da Suécia.

- Não esta. – disse.

- Como sabe? – Laura franziu a testa, revelando algumas pequenas rugas.

- Aquela não é a verdadeira. Não me pergunte como eu sei disso, pois não tenho a mínima ideia...

Olá, leitor. Esse conto na verdade é um trecho do livro que estou produzindo. Para que não fique meio perdido na leitura, irei descrever abaixo os personagens que ai estão. Saiba que é muito importante a sua opinião, então nao guarde para si, compartilhe comigo, seja ela uma crítica ou sugestão, registre nos comentários. Ok

Laura; uma caçadora, meio humana ( ela consome sangue de vampiro para prolongar sua vida ) na verdade tem mais de oitenta anos mas com cara de trinta. O sangue de vampiro, é uma droga que vicia.

Jonathan; tornou-se caçador a pouco tempo, foi treinado por Laura e descobriu atráves de Trevor ( seu ancestral e caçador ) sua origem como caçador. Isso por que no inicio do livro, ele é apenas um assistente de um pesquisador.

Trevor; um caçador que foi condenado a imortalidade. um ancestral de Jonatham.

Margot ; a Rainha escolhida pelo proprio Cain para reinar sob os outros pequenos reinos vampiricos na terra.

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 29/07/2011
Reeditado em 30/07/2011
Código do texto: T3125627
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