Pena de Morte - capitulo VII - O mutilado
- Onde eles estão seu idiota? – O brutamonte disse-lhe atingindo um soco no rosto. - Você vai morrer hoje e não será da forma que você havia previsto.
Seus olhos estavam inchados e repletos de sangue, estava irreconhecível. Ele olhava fazendo força até para abrir seus olhos, o supercílio inchado, lábios cortados, sangue escorrendo pela sua boca. Mas estranhamente ele se mantinha firme.
- Não sei onde estão. Já disse! Mate-me logo seu monte de merda! – Disse João enquanto recebia outro soco, agora na barriga. Uma saraivada de sangue saiu pela sua boca enquanto o agente era segurado por outros dois soldados. Havia apanhado tanto que mal conseguia manter-se de pé, seus olhos estavam voltados para o chão, o sangue deslizando pelo seu queixo e de lá se perdendo no ar e encontrando o piso úmido e fétido daquele cômodo.
- Vocês todos vão morrer seu imbecil. Vocês acham mesmo que estão lutando do lado certo? Nem imaginam no que estão se metendo. Diga logo pra onde eles foram? – Disse o soldado enquanto dava outro soco no agente.
- Maldito! – Queixou-se cuspindo mais um jato de sangue. - Eu não sei do que está falando. O lunático que vocês deviam estar perseguindo é outro. Ele vai matar todos os membros do estado!
- O clone é apenas um peão no tabuleiro. Você não sabe de nada mesmo! –Disse o outro soldado. - Devíamos ter te deixado de comida para os nanoinfectos. Vamos matá-lo e depois mataremos todos os outros.
- Me digam! Quem são vocês afinal? Por que não perseguem logo o clone? – O agente parecia confuso.
- Somos o futuro. Sua raça será extinta logo e aí teremos total poder. Mas não se preocupe com isso. Para um futuro defunto você está curioso demais.
- Como assim? Quem são vocês? Foi quando os soldados olharam uns para os outros e sorriram. Sorrisos frios, seus olhos se tornaram sombrios, todo o semblante deles havia alterado de uma forma assustadora, mas o agente não demonstrou medo em momento algum.
- Mostre pra ele quem somos nós. – Disse Camilo que acabara de entrar. Naquele momento o soldado acenou com a cabeça e fechou seus olhos por um instante, após segundos os abriu, seus olhos estavam perdidos em uma cor assustadora, a íris estava completamente avermelhada.
- O que vocês são? – Perguntou João revelando-se surpreso com a aparência monstruosa dos soldados.
- Somos o futuro e você é o passado agente. – Disse o soldado dando um sorriso largo mostrando quatro dentes maiores do que o normal. – Nós... nós somos a evolução.
- Vocês são vampiros? – Ele balbuciou.
- Não. Vampiros não existem. Mas sim, talvez seja o mais perto que sua mente possa imaginar. Somos a criação de um novo Deus, e este novo mestre tem um propósito maior para este mundo. O criador tem um propósito maior pra você também. Fomos criados a partir deste incidente chamado nanoinfectos. A evolução deles de certa forma fez com que nós pudéssemos existir.
- Evolução? – O agente riu sinicamente. - Maldito! Você é uma aberração!
- E você vai morrer agente. – O soldado caminhou na direção dele, seus olhos avermelhados o fitando, ele passou a língua pelos seus dentes pontiagudos, abriu sua boca, e sentiu pela primeira vez o medo nos olhos do agente, aquilo o fez sorrir. João se debatia tentando se livrar dos dois que o seguravam, a luz que penetrava pela janela anunciava o sol que nascia do lado de fora. A força dos soldados era algo fora do normal. Aquilo o fez lembrar de quando eles o salvaram dos nanoinfectos.
Ele havia acabado de fechar a escotilha, os nanoinfectos estavam chegando, dava para ouvir os gritos dos soldados. Disparos, cada vez mais próximos, os sons pareciam vir de todas as direções. O pânico chegou primeiro e ele então decidiu se afastar da escotilha. Correu na direção oposta á que tinha vindo, na tentativa de fugir dali, mas os nanoinfectos estavam próximos demais e o cercaram. João atirava desesperado, derrubava alguns, mas eles o jogaram ao chão em cerca de segundos. Sentiu as garras penetrando em sua pele, ele tentava atirar, mas suas mãos estavam presas, as balas ricocheteavam nas paredes do túnel, sua mão esquerda desfaleceu quando uma das criaturas cravou seus dentes em seu braço, o Agente levantou sua outra mão e deu um tiro na cabeça da mesma que caiu morta, era a ultima bala, ele então soltou as armas, era como se suas mãos estivessem anestesiadas, a dor era algo indescritível. Eram cerca de cinco nanoinfectos investindo contra ele, foi quando a saliva da criatura que estava sobre seu corpo caiu sobre sua boca, A face deformada e avermelhada tal como um pedaço de carne mal passada estava à centímetros dele. “Estou morto”. Ele pensou. Foi quando sentiu os dentes de outra das criaturas perfurarem a sua pele mais uma vez.
- Minha perna! Meu Deus! – De repente disparos. Eles voltaram! Mas não, não era Daniel, viu sobre a cabeça da criatura os soldados, os nanoinfectos caíram um a um, muito rápido, mas ele estava quase que inconsciente, por fim ele viu o soldado Camilo.
- Não o matem! – Ele disse. - Ele pode ser útil. – Naquele momento seus olhos se fecharam até que João acordou naquele local. Agora ele não podia fazer nada a não ser esperar seu fim. O soldado cravou seus dentes no pescoço dele que gritou naquele momento.
- Malditoooooooo!!! – E algo de repente aconteceu. Uma força descomunal saiu de seu interior e ele cravou seus dentes na orelha do soldado que o mordia, em seguida puxou os dois soldados que o seguravam que bateram suas cabeças. Os soldados caíram aturdidos no chão. Camilo se levantou abruptamente. Levou suas mãos a cabeça do soldado que ainda o mordia. O afastou de si, sentindo parte de sua pele ser arrancada de seu pescoço, mas a dor parecia não lhe incomodar tanto como deveria. Ele olhou para o soldado, viu que os olhos estavam avermelhados, e girou o pescoço da criatura com desdém o jogando contra o soldado Camilo que caiu sobre a cadeira onde ele estava sentado. Depois ele saltou pela janela e correu pelos escombros, os raios de sol queimando sua pele. Olhou para trás.
- Maldito! – Engoliu algo e continuou correndo.
- O que aconteceu? – Perguntou um soldado que entrou correndo na sala.
- O prisioneiro fugiu seu idiota! Não está vendo!
- Quer que o sigamos senhor?
- Não. Ele não sobreviverá sozinho lá fora, ainda mais sem fator para protegê-lo. Temos que encontrar logo o Daniel e a Mara. Eles sim são prioridade. – Camilo virou-se para os soldados caídos e balançou a cabeça negativamente.
- Idiotas, levantem-se logo e procurem a passagem, tem que haver uma! –
Ordenou Camilo para os dois soldados que logo se reergueram e saíram em busca de uma passagem.
...
- Venham comigo logo! – Disse Felix. - Vamos fazer um turismo pelo prédio. – Eles seguiram pelo corredor central, Mara abraçada á Felix que estava com um sorriso bobo no rosto. – Daniel os acompanhava.
- Você disse que iríamos reabastecer?
- Disse, e vamos Daniel. Aqui tenho um estoque de fator 3001, precisaremos também de munição extra, além disso também quero lhes mostrar algo.
- Nos mostrar? – Perguntou Mara.
- Lembra que lhes disse que eles estavam se reproduzindo. Pois bem. Há cientistas aqui os estudando, pensadores Daniel, pessoas que acreditam que há algo muito maior por trás dos nano infectos. Estamos os analisando há anos e neste tempo, baseado nas pesquisas verificamos que eles continuam a modificar-se, na verdade é uma espécie em constante evolução.
- Evolução? – Perguntarão Mara e Daniel ao mesmo tempo.
As fêmeas tem um ciclo menstrual normal, os machos sentem a mesma necessidade por sexo, e ambos continuam férteis, elas engravidam e durante o período da gestação tudo é muito normal. Isso até a nova criatura nascer. Aí as fêmeas matam o macho e a carne é usada para alimentar a nova criatura que é imune aos UVA. Ela o alimenta, mas quando a carne acaba tenta alimentá-lo com pedaços da pele de seu próprio corpo até que também não resiste á abstinência de comida e então elas matam a criatura...
- Por isso aqueles ossos de crianças nos antigos esgotos! – Interrompeu Daniel.
- Notaram como a pele deles é deformada? Eles fazem isso quando não encontram comida. Ao invés de matar uns aos outros, tentam saciar sua fome com sua própria carne. Isso demonstra algo que nós ainda não havíamos percebido, ou simplesmente ignorado.
- Eles não querem matar a sua espécie! – Disse Mara.
- É isso mesmo, mas o estranho é que eles apenas se matam para a alimentação da criança, já em relação a nós não carregam nenhuma estima. Somos para eles apenas alimento, como se fossemos seres inferiores. – Disse Felix caminhando naquele corredor, as paredes revelando o reboco trincado, as trincas de dilatação, o mofo, as paredes que á anos não recebiam uma gota de tinta sequer. Mas havia algo mais...
- Ou quem sabe eles sintam medo. – Disse Daniel.
- Medo? – Perguntou Felix.
- Sim. Medo que exterminemos a espécie deles. Nada mais que instinto de sobrevivência amigo. Subestimamos muito essas criaturas Felix, pelo que diz, eles ainda carregam a essência do sentimento com eles. Sentimento fraterno, o sentimento pela preservação de sua raça. E isso é o que os une, tanto na hora da caça, como na hora da corrida pela sobrevivência.
- Então eles continuam com o instinto fraterno? – Perguntou Mara.
- Sim filha, Daniel tem razão.
- Mas e essas novas criaturas então acabam não conseguindo sobreviver? – Indagou Daniel.
- Essa é a melhor parte. Escutem. O máximo que havíamos conseguido mantê-los vivo era por cerca de três anos. Aí encontramos ele, o projeto 66. Era como um milagre. O que nós fazemos agora é controlar a ansiedade e a fome dele. Estamos conseguindo isso. Ele é um ser incrível Daniel, é o nosso futuro, pense em não precisar mais do fator para sobreviver, de poder caminhar nas ruas em qualquer momento sem medo dos UVA. Tudo está em nossas mãos e o governo quer destruir essa oportunidade.
- Do que você está falando? – Perguntou Mara.
- Ou melhor, de quem? – Disse Daniel.
...
- Alô?
- Já está quase pronto, esta chegando a hora Sr.
- Não tolerarei imprevistos. – Disse a voz.
- Sim Senhor. Eles não haverão. O telefone de repente ficou mudo. O secretário suspirou. Aqueles imbecis! Tenho que matá-los logo antes que eles descubram tudo.
...
- Afinal estamos chegando ao fim. Logo vocês farão parte da história. Saibam que morrerão por uma causa justa. Os olhos dos membros estavam perturbados. E você... ele virou-se para o presidente... você mudará tudo... Você mudará tudo! – Ele repetia andando pelo ônibus, o som de seus passos pareciam agulhas perfurando os tímpanos dos membros. O presidente acompanhando cada passo.
- É uma questão de tempo para que o caos termine. Agora vamos ver quem é o sortudo que vai experimentar minha deliciosa ling – chi. – Ele ria enquanto falava. Os membros se encolhiam em seus bancos enquanto ele se aproximava.
- Eu posso sentir o medo de vocês. – Ele disse, olhando fixamente para um senhor de cabelos grisalhos que segurava um terço nas mãos.
- Deus está contigo? – Ele disse.
- Pai, tenha piedade de nós! O homem chorava, clamando por misericórdia enquanto o clone encarava-o de pé á centímetros dele.
- Ele teve piedade de você, você é um dos escolhidos dele para mudarem o mundo! Pense no que tudo isso representa Palhares, é um plano.
- Você está louco! Louco! O membro dizia com o terço entre os dedos.
- Sua hora chegou! Você vai se encontrar com ele! Faça sua ultima oração Sr. Marcos! – O homem juntou suas mãos e fechou seus olhos enquanto o clone deu o comando para que o ônibus pousasse.
...
- Você está falando do Matheus? – Perguntou Daniel.
- Matheus? – Surpreendeu-se Mara.
- Você hein Daniel, astuto como sempre. Como notou isto?
- O vi lutando contra três nanoinfectos, ele matou dois deles com uma agilidade incrível. Entendo que como ele é parte ciborg tenha ganhado força, mas em contra partida ele deveria ter perdido agilidade, e isso não faltou pra ele naquela luta. Ele pensa rápido demais. E para sobreviver sozinho num deserto destes, andar por aí, só mesmo um caçador e pra idade dele sinceramente duvido muito que sobreviveria sozinho se fosse um ser humano normal. – Mara ouvia tudo atentamente, Felix permanecia calado.
- Muito bem Daniel, realmente é difícil esconder algo de você amigo, o Mat é o nosso futuro. Ele está sobre meus cuidados, tenho orientado ele, treinado ele, e ele tem uma facilidade incrível de assimilar táticas de guerra, tanto ataque como defesa, ele é incansável, dedicado, obstinado... – Felix era obcecado pelo seu trabalho, Daniel sempre o admirou pela dedicação e empenho em cada caso, ele via nele um senso de liderança fora do comum. Era um bom homem, um excelente marido, poderia ter sido um ótimo pai. Naquele momento Daniel se lembrou de sua prisão; Ele estava sentado, sangue por todo seu corpo, mas não sangue dele e sim das vitimas que ele havia assassinado, eram quatro horas da madrugada, em uma de suas mãos uma garrafa de Wisk, na outra um cigarro e sobre a sua cintura uma de suas pt´s com apenas uma bala, ele olhava para o homem á sua frente. Ele estava amarrado á 96 metros de altura, seus punhos ensangüentados e seu sangue formando pequenas poças no vidro abaixo de seu corpo. O homem de cerca de 90 quilos estava preso á cordas de bacalhau pelas suas mãos e pés, á estas cordas havia sido aplicada uma mistura de cola e limalha de ferro, seus pés estavam amarrados um ao outro e as cordas se estendiam até as vigas, seus braços abertos deixavam o corpo em formato de cruz. Ele estava suspenso no ar a 40 cm do vidro, o suor pingando e misturando-se ao sangue.
- Não faça isso! Você já provou que estou errado.
- Não é o suficiente, você não pode viver! Nenhum de vocês pode! – Foi quando Felix chegou.
- Largue esta arma parceiro! – Disse Felix apontando a arma na direção de Daniel que estava de costas para ele, sentado sobre o teto de vidro. Felix olhou mais á frente e viu o presidente. Ele assustou-se com a cena, o teto era uma enorme cruz, eles estavam sobre a catedral de São Sebastião. O presidente estava suspenso no ar, as cordas que o seguravam haviam sido picadas em alguns pontos e conforme ele se movia elas iam arrebentando.
- Fique quieto Sr. Presidente! Não se mova! – Ele disse.
- Não posso deixá-lo vivo Felix. – Disse Daniel segurando seu cigarro. Você não entende, ela tinha razão. Tudo que ela disse irá acontecer, você precisa acreditar!
- Não seja tolo Daniel. Ainda há uma saída, amigo, Vamos te colocar em uma cela especial, lá você irá receber todos os cuidados necessários, é um momento de stress que está vivendo. Tudo isso vai passar! – Daniel balançou sua cabeça negativamente e uma lágrima caiu de seu queixo e se chocou ao vidro misturando-se ao sangue.
- Sinto muito amigo.
- Você está bêbado, Daniel. O que aconteceu com você amigo. Você não bebe, não fuma e principalmente não é um assassino. Eu vou contar até três e você vai levantar suas mãos bem devagar, ficar de pé e se virar para mim. Está entendendo. – Daniel então se levantou e se virou para Felix. Mas não levantou seus braços.
- Você não pode salva-lo. Ninguém pode! Não posso permitir isso. Ele levou o cigarro até sua boca e deu uma tragada, soltou a fumaça e fechou os olhos, Felix continuava apontando sua arma para ele, mas ele percebeu tarde demais.
- Meu Deus! Não faça isso Daniel. O cigarro deslizou pelos dedos de Daniel e caiu ao chão, o fogo se alastrou rapidamente até a corda que estava a meio metro dele, Felix pensou em correr na direção do presidente tentando impedir que o fogo chegasse até ele. Foi quando Daniel sacou sua arma.
- Nem pense nisso parceiro! Tenho apenas uma bala e ela não é para você!
- Droga Daniel! Que diabos está acontecendo com você amigo? Está louco! – Ele levantou novamente sua arma e apontou na direção de Daniel. O fogo havia tomado a corda que segurava o presidente que começou a gritar em meio ao seu desespero.
- Socorro! Salve-me por favor! Tire-me daqui! Meu Deus!
Felix partiu na direção do presidente devagar, pisando sobre o vidro.
- Não faça isso! – Disse Daniel. Mas Felix continuou andando. Daniel fechou os olhos e disparou.
- Seu louco! O que está fazendo? Mas a bala não foi na direção de Felix, foi na direção do presidente, mas não o acertou ela atingiu o vidro debaixo dele deixando aquele ponto onde ele estava mais frágil, quando o corpo dele caísse o vidro se trincaria e ele iria direto para a morte e se alguém tentasse o ajudar também não suportaria o peso dos dois.
- Me desculpe Felix, mas se ele viver será uma enorme tragédia.
- Você devia ter atirado em mim Daniel. – Disse Felix ao puxar o gatilho. A bala atravessou a pele de Daniel que caiu com o impacto. Felix caminhou na direção do presidente que gritava feito um louco. Fique calmo senhor, quanto mais se mexer mais rápido as cordas se arrebentarão. – Mas a dor dele era muito forte, seus pulsos e tornozelos estavam cortados, e o fogo queimando sua carne. A corda que prendia sua mão esquerda arrebentou-se e ele ficou vacilante no ar, mas por medo ou talvez por um momento de sobriedade ele ficou quieto.
- Me ajude logo! – Felix continuava caminhando, estava à um vão do quadrado de vidro que estava abaixo do presidente. Foi quando uma garrafa de Wiski bateu contra seu ombro e ele caiu para trás.
- Você atirou em mim? Você atirou em mim Felix? – Disse Daniel caminhando na direção de Felix, sangue escorrendo de seu pescoço, ele levou a mão e passou onde a bala o atingiu de raspão. Que loucura parceiro!
Felix levantou e pegou sua arma, mas Daniel deu um chute na mão de Felix e a arma caiu mais á frente.
- Não vou tomar outro tiro amigo! Isso dói demais. – Daniel deu um soco na face direita de Felix, mas ele manteve-se de pé e quando receberia outro soco esquivou-se, deixando o braço de Daniel acertar o ar. Neste momento segurou o braço de Daniel e girou-o para trás de seu corpo dando um típico e simples golpe de auto-defesa, imobilizando Daniel.
- Não vai me segurar assim por muito tempo, ou vai? Enquanto me segura o presidente morre Felix e se me soltar eu vou impedir você de salvá-lo. –
Felix olhou por cima do ombro de Daniel e viu o presidente preso as duas únicas cordas que o seguravam, ele sabia pela sua experiência que em segundos elas arrebentariam. O presidente permanecia atento acompanhando cada movimento dos dois.
- O que vai ser parceiro? – Felix perguntou.
- Você não me deixa outra escolha, Daniel. Eu vou salvar o presidente e você não vai me impedir. – Naquele momento Daniel sentiu algo frio tocar sua pele, logo percebeu o que estava havendo e sentiu seu pulso preso, mas não somente a mão de Felix.
- Droga! – Disse ele. - Por que você fez isso Felix? Você não entende amigo! – Felix então o empurrou e se livrou de Daniel que tentou segurar Felix com sua mão livre, mas Felix já estava fora do alcance dele que viu-se preso a uma coluna de aço, parte da armação do teto da catedral. Daniel sacudindo-se, tentando escapar dali, Felix caminhando na direção do presidente. O presidente o olhava atento, ele parecia estar orando, o medo da morte estava em seus olhos.
- Ajude-me soldado, por favor! – Felix agachou-se próximo ao presidente.
- Senhor estique a mão até a minha bem devagar. Daniel tentando se livrar da algema que o prendia, mas ele sabia que não iria conseguir e ajoelhou-se no chão derrotado.
- Droga!!! Felix pare!!! – Felix deitou-se e também esticou sua mão o máximo que podia.
- Balance para esse lado senhor, bem devagar. – Instruía Felix. O presidente balançando suspenso no ar, seu suor misturando-se ao sangue, a corda á fios de arrebentar, Felix sabia que ela não agüentaria aquele movimento. No três Senhor. Um... dois... trêsss! O presidente moveu-se na direção de Felix e a corda que ainda estava amarrada á mão dele não resistiu e arrebentou-se. Felix esticou-se ainda mais, lançou o corpo um pouco á frente e tentou agarrar a mão do presidente. Daniel torcendo para que o presidente caísse logo, olhava para o chão e imaginava logo o fim de tudo isso. Foi quando escutou o barulho do vidro quebrando-se e olhou na direção dos dois. A corda dos pés do presidente também arrebentou-se no momento exato que Felix conseguiu segurar a mão do presidente, ela não resistiu a tensão quando Felix segurou a mão dele. O presidente chocou-se com o vidro que não resistiu ao impacto. Ele ficou dependurado, Felix então o puxou para cima.
- Tudo bem Sr. Presidente, terminou. – Felix esperava que o presidente se sentasse, chora-se pelo trauma da situação que acabara de viver, mas ele apenas olhou os punhos, seus olhos estreitaram-se e ele seguiu na direção de Daniel, abaixou-se, pegou a arma de Felix que estava caída sobre o vidro e apontou para Daniel.
- Senhor? – Felix indagou surpreso.
- Você está acabado seu idiota. – Ele disse enquanto Daniel sorria.
- Mostre quem você realmente é seu monte de merda! – Daniel disse olhando para ele friamente. O presidente riu e atirou. Os projéteis atravessaram o alvo. Felix estava perplexo. Daniel olhou temeroso para o vidro e depois para o presidente, que disparou repetidas vezes no vidro que rachou. Daniel desceu abruptamente, o vidro indo na frente direto ao chão enquanto Daniel parou de repente como se fosse fisgado pelas algemas.Seu punho deslocou-se provocando uma dor intensa, quebrando-se na mesma hora devido ao tranco que levara. O aço das algemas cortando seus pulsos enquanto o sangue escorria seguindo as curvas de seu braço.
- Insolente! – Você acha mesmo que pode matar o presidente do Brasil? Você não sabe mesmo quem eu sou e do que posso ser capaz. – Disse ele apontando a arma na direção de Daniel. Foi quando o condenado despertou de seus pensamentos e viu-se em frente á Mara e Felix.
- Tudo bem Daniel? – Perguntou Mara ouvindo a respiração forte de Daniel. Ela parecia estar atenta a tudo o tempo todo, seus sentidos eram extremamente aguçados.
- Amigo, você está pálido. – Observou Felix.
...
- Acalme-se aí amigo! – Disse o clone. Aposto que da vontade de ir até a catedral orar um pouco não é? Tenho recordações daquele local. Mas de outra vida e não são boas. O clone sorria olhando na direção da igreja agora em ruínas. Isso aqui é enorme, 270 metros de comprimento, 17,6 metros de altura, o monumento possui 42 arcos duplos e óculos na parte superior, algo lindo não é mesmo? Sou um amante da arte Marcos, mas toda essa beleza aqui foi construída através de mão de obra escrava, indígenas e africanos. Pessoas como você faziam isso, utilizavam-se da igreja como atributo e depois domesticavam populações como cães, assim como você fez para eleger-se na política e se tornar um membro do novo estado. Odeio porcos como você, falsos pastores que intitulam-se santos. Quem vocês acham que são? – Dizia ele amarrando-o á um poste de iluminação desativado.
- Não faça isso! – Implorou Marcos Palhares que estava nu. Ele tremia e suava como um porco, as lágrimas descendo de seus olhos. O assassino ergueu uma faca com a mão, era uma faca comum, passou a ponta dela deslizando pelo pescoço da vitima, desceu até o peito e parou próximo ao mamilo, pressionou contra a pele e cortou cuidadosamente um enorme pedaço de pele do peito do homem arrancando-a sem piedade. O político gritou imerso em um misto de desespero e dor. O clone vendo a carne viva pulsando sob o coração da vitima.
- Acalme-se homem! Tenha fé e não sentirá dor. – Ele continuou deslizando a faca pelo corpo do membro agora nos músculos do braço, mais uma incisão, desta vez ele cortava a batata do músculo do braço dele sem pena alguma. Mais gritos de dor que para o clone pareciam música clássica, sangue escorrendo como a nascente de um rio. Ele continuou a cortá-lo, costas, nádegas, panturrilhas, coxas, sempre as partes mais carnudas, levando a amputação dos membros. Ele dava breves pausas e dialogava com o religioso. Antigamente Marcos eles davam ópio aos condenados para que eles não desmaiassem, mas hoje temos a adrenalina que é mais eficaz. Disse olhando para a seringa no chão. Chamavam este meio de execução por “Morte por mil cortes”, mesmo que não sejam mil, acho que valem por um milhão e você já levará o ultimo. – Ele avisou antes de enfiar a faca no coração da vitima. Marcos abriu a boca, ele teve uma crise de tosse e um jato de sangue saiu de sua boca atingindo a camisa do clone, após isso deu um ultimo suspiro e seus olhos vestiram-se de morte.
...
- Droga! Não me perguntem como, mas sei onde o clone está!
- Do que está falando Daniel? – Perguntou Felix.
- O clone está na catedral de São Sebastião! Tenho certeza que ele foi pra lá! – Ele disse.
- Com assim? – Perguntou Felix.
- Olhe, é estranho, mas a conexão entre nós está cada vez mais forte, tive uma visão do passado. Quase que real.
- E o que tem isso a ver? – Disse Mara. - Você está confuso Daniel.
- Veja por si mesma Mara. Mara levou as mãos aos olhos de Daniel e ambos entrarão em transe. E lá estavam eles de frente para o corpo. Algo realmente bizarro e grotesco. Marcos Palhares estava mutilado, repleto de sangue, parte de seus ossos á vista em meio á sua epiderme, cobertos por uma fina camada de carne, uma faca de açougueiro cravada em seu coração. O clone caminhou em direção ao ônibus, Mara reconheceu o local e mais á frente pôde ver a catedral. Neste momento ela tirou as mãos dos olhos de Daniel e ambos despertaram.
- E aí? – Perguntou Felix.
- Ele tem razão. Não me pergunte como, mas ele tem!
- Maldito! Vamos pega-lo! As armas estão logo á frente.
...
- Droga! Malditos! Como vou achá-los agora? – O agente lembrou-se de cada detalhe da fuga, mas o mais astuto foi ter esperado a hora certa. No momento que girou o pescoço do soldado ele viu o que precisava, segundos antes de jogá-lo contra Camilo, João pegou o fator 3001 que estava no bolso dele e pulou a janela. Agora ele precisava encontrar Daniel e Mara. Mas como? E o que realmente aconteceu com seu corpo. Que força é aquela que se manifestou nele? Ele continuou correndo pela rua deserta. Precisava se orientar e encontrar o caminho para o acampamento.
...
- Achamos a passagem secreta senhor,era um túnel lateral. – Disse o soldado eufórico.
- Muito bem! Destruam tudo! Matem todos! – Camilo ordenou ao levantar-se.
...
Continua...
Este é claro foi o capitulo VII do conto Pena de Morte. O titulo original é "Pena de Morte - O mutilado". Ja estamos chegando ao fim...
Entre quinta e sexta feira sai o próximo, e amanhã tem "A Rainha dos monstros" 4º capítulo.
Abraço a todos!