Desaparecida!

Além de tudo louca!

Estava voltando das férias da faculdade.

“Luíza isso não é pra meninas, este é mau, é boto”. Sempre imaginou que isso era conversa pra boi dormir. Luíza já velha tinha família muito conservadora e em sua cidade chegara homem bem trajado, tão quente que esquentava as cochas das moças só com o olhar. Sua mãe já comentava com as outras que era o boto, que saía dos rios para pegar moças e levar com ele pra dentro do lago. Mas Luíza não aceitava, nem acreditava, se achava forte em não relutar! Pode?

Era festa. Toda emperiquitada Luíza vai a festa de salto alto, vestido branco e batom vermelho. Na festa tocava xaxado e baião, a sanfona chorava as alturas enquanto o povo em balanço selvático obedecia as notas do sanfoneiro. Luíza bailava também. Até perceber que alguém a olhava, era o moço, o boto, o rapaz! Luíza sorriu faceira e de pouco em pouco já estavam a dançar. E de pouco em pouco já estavam a namorar. E de pouco em pouco já estavam a ir tomar banho no rio quando sua mãe grita. “Já pra casa Luíza! Se não eu quebro tudo aqui e não duvide da sua mãe!”

Emburrada Luíza vai pra casa. Emburrada não dá beijo de boa noite a mãe. Emburrada bate a porta do quarto. E emburrada empurra a cabeça no travesseiro e dorme. Quando:

“Luíza, Luíza!”. Era o boto. Luíza sabia, mas pra ter certeza foi de ponta de pé olhar através da frestinha da janela. E sim. De ponta de pé ela pega o casaco. De ponta de pé ela pula a janela. De ponta de pé ela vai ao seu amado e fogem para a floresta.

Depois de ter chegado lá Luíza diz:” só vou ficar sentada, no rio não sento não”. Depois de ter chegado lá Luíza diz:” só vou colocar o pé na água, mas molhada eu não fico não”. Depois de ter chegado lá Luíza diz:” SOCORRO ELE TÁ ME PUXANDO PRO FUNDO”.

Depois de ter chegado lá Luíza não falou. Nem sequer foi vista. Não era mais Luíza. Era desaparecida!