o Mistério da Pedra da Cascata

Nunca ouvira nada do tipo.

"poctipoctipoctipocti". Era um ritmo acelerado, um galope normal se não fosse o relincho que gelava a alma... ele se misturava com um grito desesperado de ódio. Era o demônio... diziam as freiras mais velhas! "aquilo" sempre se juntam pra pegar quem algum pobre infeliz.

o que fazia lá afinal de contas? Era meu trabalho:respondo.

Isso me ocorreu já faz três meses. Conto-lhes que faço parte de um grupo de sacerdotes que investigam casos paranormais... e de fato já estava de saco cheio com imagens sacras em vidros, pães e regiões que vocês nem podem imaginar... O ser humano parece se apegar a qualquer faceta para se sentir protegido... mas parecem estar afoitos pelo carneiro de ouro que acabam se perdendo em seus devaneios...

Voltando ao acontecido haviam me convocado para investigar sumiços de mulheres e crianças do sexo feminino. De fato era algo a ser investigado.

O nome da cidade era Pedra da Cascata. O lugar era muito afastado da cidade...quase em um lugar deserto. Lá tinha sua própria igreja, seu próprio colégio, armazéns, a cachoeira e etc. Até então só o padre Leon estava lá. Era alto, magro, com aparência de um mago(por perdão da palavra). Um homem de hábitos gentís e brincalhão que logo me inspirou tremenda confiança. Ao conversar com o padre que já estava muito doente, de cama, este me contara que uma sucessão de desaparecimentos aconteceram na cidade. A polícia local já havia procurado pelos corpos das mulheres e das crianças mas nada haviam encontrado. Era só aquilo que eu precisava ouvir, e o que eu podia também, ele precisava descansar.

Resolvi colher mais depoimentos. As autoridades locais resolveram não se pronunciar, por algum motivo sentiram forte antipatia a minha pessoa... ou queriam esconder algo. Então fui a casa dos familiares das vítimas.

A primeira casa cheirava a alho com algumas ervas medicinais. Era a casa de dona Setembrina (rezadeira do local). Logo percebi que fui levado ao local certo para procurar informação. O sol já se punha, o lampeão enferrujado pintava as paredes rebocadas de vermelho mas ainda sim via-se o caminho para a sala. De longe ouvi um canto religioso que me arrepiava como se estivesse submerso em mares polares. O canto vinha enrrolado em lençóis de choro e soluço,como quando você entra em um enterro.

"Benção sinhô padre". Me falou uma voz tremula e gasta de gritos sofridos, era Setembrina. Como um arvoredo de carvalho ainda mantinha uma postura forte para inspirar suas companheiras. "Sabe".Ela disse. "Dói mais quando você não sabe donde tá o corpo porque você ainda se sente devedor ". Ela falava de sua filha Sebastiana que sumira quando fora pegar água na fonte da cascata. Então eu pedi pra que me contasse caso por caso, ela já me dissera que sabia de có de tanto ouvir lamentos.

"Não sei como dizer pro sinhô num me achar velha louca, talvez eu nem me importe mais". Falou-me sentando-se numa cadeira plástica." Primeiro foi cumadi Gracinha. Essa que grita alto de dor e desespero...tivemos que amarrar ela na cama pra num fazer um arti. Acho que foi o pior também. Sabe seu padre... Ela era mãe de trigêmeas, moça jovem, ainda lambia as crias de seis anos. Quando na festa de Cosme e Damião que agente sempre faz todo mundo ouviu um clarão que gritava e o fogo cumeçô a engolí as árvori. Todo mundo correu pra apagar o fogo e depois demos conta da falta das mininas. Com a minha foi diferente, ela já havia sumido antes e ainda nem tinha casado padre...era moça direita....ia na igreja todo dia seu padre. Cum todo o resto aconteceu parecido. Te digo seu padre. Essa coisa é do cabrunhão e se num fizer nada eu não sei." Daí a conversa acabou.

Então resolvi quando fui dormir observei que todos da cidade fechavam as portas exatamente às sete horas. Perguntei ao dono do armazém o porquê. Ele me disse: "é pra fugir do mal senhor, e eu não indico ao senhor ficar de bobeira por aí." As portas tinham marcas de arranhões e pancadas. Tínha que saber o que era exatamente. Fui para a casa de recepção e descobri que padre Leon tinha saído em viagem. "Mas assim sem mais nem menos?". Me perguntei. Fui ao seu quarto e tudo tinha sido retirado, não era uma viagem era uma fuga... mas do quê? antes que saísse reparei que tinha algo debaixo da cama...Um papel... Não! Era algo grotesco.... fotos de coisas grotescas!...

Em trôpegos peguei o carro na esperança de alcançar-lo. Por sorte o encontrei... Mas era estranho. Tínham, a primeira vista, Tochas gigantes atrapalhando sua passagem... Então me aproximei mais para ouvir a conversa que tínham.Saí do carro e me coloquei atrás da árvore... Então ouví vozes que pareciam coro de judeus torturados!

"Você não pode ir assim! Não sem pagar! Não sem pagar pelos seus pecados". Diziam.

"Mas o que eu fiz a vocês?...Deus me ajude!". Dizia o padre desesperado.

"Não blasfeme padre...seu Deus não gosta de mentirosos e assassinos... Você ainda se sente um conquistador não é padre?"

Então tudo se encaixou. A figura que antes eu achava que eram tochas eram transmorfos amaldiçoados mais conhecidos por aqui como "mulas-sem-cabeça" e na lenda elas ganham essa forma por serem violadas por seminaristas... O papel que eu achei debaixo da cama do padre eram fotos de mulheres e meninas nuas em posições constrangedoras, traziam em seus rostos tristeza e vergonha. O que vocês não sabem é que para se consagrar um transmorfo amaldiçoado é preciso um ritual de magia negra com ervas e alho( o mesmo cheiro que eu encotrara na casa da rezadeira).... Setembrina conjurou a maldição para limpar a honra de sua filha que foi a primeira a ser estrupada, talvez por honra...mas vender a própria filha...

"Não culpe a minha mãe padre". Falou uma das criaturas a mim com se lera o meu pensamento."eu mesma me oferecí de sacrifício e oferecí a vingança para todas que tiveram sua alma assassinada por esse cretino".

"Você não precisa disso! você sabe o preço que vai pagar por isso?" então ela disse. "Sim, estarei sujeita a danação eterna... o moço de capa preta me explicou tudo. E estou disposta."

"Estamos dispostas". Disseram o resto da orda de criaturas nefastas que iluminavam a estrada.

"E suas famílias como ficam? Seus filhos, pais, mães, maridos, amigos?...Vocês também querem fazê-los sofrer". Foi como se eu as nolcautea-se. Então uma delas gritou:

"Claro que não! Não somos más... não vê que somos vítimas... queremos vingança... queremos sangue!"

"Não queremos que eles sofram, os amamos muito!". Disse outra.

Então falei:"mas é isso que estão fazendo, e farão com todo o resto.... Seus pais estão desesperados por vocês fazendo vigília e rezando por suas almas.... Vocês ainda podem ser livres!"

Então uma desatou no choro:"Eu sei... depois de fazer a jura do mal eu e minhas irmãs fomos ver minha mãe na festa mas na mesma já havia anoitecido e nossas chamas queimaram as matas ao redor. Quero muito voltar para minha mãe...já estou cansada".Eram as trigêmeas filhas de Dasdores que foram na festa de Cosme e Damião, logo depois do ocorrido encontraram filha de Setembrina ainda em sua forma humana e aceitaram o pacto.

"Então arrependam-se... o Pai estar pronto para aceitar seu filho pródigo... e as acolherá em festa". Disse.

"aceitamos".Disseram, menos filha de Setembrina que assistia em silêncio.

Então retirei do minha batina agulhas e água benta."Elevem seus pensamentos ao pai e mentalizem todo o seu arrependimento...fale com ele e ele se arrependerá". Para desconjurá a maldição é preciso rasgar um pouco da pele da criatura enquanto transmórfica com agulha benzida para abrir contato com o meio. Então fiz. E uma por uma foram se apagando como quem apaga velas de aniversário... Seus corpos enfraquecidos caíam no chão envoltos em cinzas e pele morta.

Perguntei a filha de Setembrina: "E você minha filha?... não vai querer se salvar também...pois te digo a vingança não vai te devolver o que seu malfeitor vos tirou"

"eu...". Sentí que a conquistara de pouco em pouco...quando sentí falta do padre.... Reparamos que seu carro já seguia ao longe mas ainda o vira. Então a voz da criatura mudou:"sinto muito padre... ainda que a vingança não me devolva o que ele tirou não conseguiria conviver comigo mesma sem ela". Então cobriu-se por manto de foto e como um cometa correu em direção ao carro e explodiu!

Uma bola de fogo subiu ao céu. De fato o padre não sobrevivera lá. Mulas-sem-cabeça são ótimas rastreadoras e só não o pegara antes por estar numa casa benzida. Como estava em campo livre era presa fácil.

No céu as cinzas que subiam fizeram chover... Eram lágrimas da vingança!