Microconto " O Lunático"
Dedico esse conto ao amigo Donnefar Skedar... Grande escritor paulista, terei em breve a honra de dividir com ele e mais dois amigos (Julio Dosan e a Faby Cristall) o E-BOOK Contos Macabros III, uma coletania com alguns contos nossos.
#EVILTOTAL
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Fernando amarrou o sapato, apagou o cigarro que fumava e vestiu o velho alforje de caçador do seu avô. Pegou a espingarda cartucheira e saiu apressado.
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Dona Maria das Graças desceu no terminal rodoviário, com sua bíblia debaixo do braço. Estava vestida com uma grande saia verde e uma blusa xadrez, era seu uniforme básico. Dona Maria abriu à bíblia e começou a pregar:
- Meus irmãos, Jesus está voltando. Preparai-vos para o retorno do mestre.
As pessoas passavam por ela, mas, apenas, queriam seguir viagem, não davam atenção para o que ela falava.
- E, no dia do juízo. Os mortos, sim, os mortos voltarão à vida. E, todos serão julgados pelo criador, pois, Deus de nada esquece.
Um homem estava sentado em um banco próximo e comentou com o amigo ao seu lado:
- Mais uma crente filha da puta. Eu detesto esses pregadores de rua, eles, sim, é que vão pretos para o inferno.
- Verdade! A bíblia diz que devemos orar em nossos quartos. Não em praça pública. – comentou o outro.
- É, pois, eu quero é que você diga.
A mulher continuava pregando:
- E, o senhor Jesus, aleluia! Irá levar as boas almas...
***
Fernando ajeitou a espingarda nas mãos, passou a mão pelo cano e pensou o porquê de ele fazer aquilo?
- Por que, meu deus, por quê?
Não entendia como aquilo funcionava, mas tinha que fazer o que lhe era destinado.
Caminhando, calmamente, ele armou a espingarda. Era interessante como nenhuma pessoa se assustava com um homem armado. Ele escutou as palavras de uma senhora.
- No fim dos tempos, o homem sofrerá. Os mortos caminharão como os vivos. – ela pregava.
Fernando, sem pestanejar, apontou a espingarda para o peito da mulher e deu dois tiros que ecoaram por todo o terminal.
Algumas pessoas começaram a correr e outras a chorar. Dois homens que conversavam em um banco próximo, correram para tentar desarmar o lunático que disparava.
O corpo da mulher caiu sem vida com um forte baque no chão. Logo, uma pequena poça de sangue formou-se. Uma moça gritou:
- Meu Deus, ela está morta.
Os homens tomaram a arma de Fernando e o derrubaram no chão. Um policial apareceu e algemou o assassino. Algumas pessoas gritavam:
- Meu Deus, meu Deus.
A poça de sangue aumentava a cada segundo. A bíblia da mulher ficou completamente ensopada e as paginas tomaram um tom carmim. Uma pequena multidão se alvoroçou ao redor da cena fúnebre. De repente, alguém gritou:
- Ela se mexeu.
- Ela está morta, seu idiota. – respondeu um amigo da pessoa que gritou.
O cadáver sem vida de dona Maria começou a tremer e a golfar uma substancia verde amarelada. Em um instante de paz, ela parou e um segundo depois, os olhos do cadáver abriram-se e estavam avermelhados, então, ela soltou um urro e pôs-se de pé. A defunta deu um salto e caiu, novamente, mas dessa vez estava com os dentes cravados no pescoço do policial que algemara Fernando.
- É o começo do apocalipse. – gritou um dos homens que tinha agarrado Fernando - Salvem-se quem puder.
E, a multidão saiu correndo, todos assombrados, com o acontecimento. Alguns, foram pisoteados, outros ficaram inconscientes, uma mulher teve o seu crânio amassado.
Fernando olhou para a mulher que ele acabara de assassinar. Ela levantou-se, depois de comer o pescoço do policial. Finalmente, ele entendera a sua missão. E, em uma gargalhada ensandecida, ele esperou pela mulher que avançava com a boca cheia de uma espuma vermelha.