Ódio

Ele estava sentado, com os pulsos serrados de ódio, sua testa fervia. Faltava pouco. Sentiu uma pontada nas têmporas, então parou, tentou respirar fundo, mas o outro recomeçou. Um olhar cínico foi o suficiente, foi o fim da picada, o calor do ódio lhe percorreu as veias tomando conta do corpo levantando-o do sofá, de uma só vez, por impulso, ele percebe que perdeu o controle, não pode fazer nada a respeito disso, então como uma ordem imposta não se sabe de onde, ele avança contra aquele “outro”, grita, esmurra, sacode, esbofeteia,aperta-lhe o pescoço com uma força quase sobrenatural, ele está cego, digo cego e surdo, foi tomado por aquilo que é mais forte que ele, estão perdidos em uma luta cega, entre corpos que se debatem um contra o outro, como animais, é surpreendido com um soco no queixo, para, olha aquilo, está tremendo, olha como outro olharia, vê a imagem diante de si, com uma mão limpa o sangue do queixo, enquanto a outra se esfrega pelo chão do cenário destruído a procura de um caco de vidro, lembra-se por acaso de um canivete que traz consigo por motivos de segurança, encontra, o outro está a se lamentar, entre soluços decide chorar de uma forma bem á toa, então ele, esse homem, que guarda entre os dedos um objeto cortante, mais uma vez avança, primeiro é nas costas, depois no abdômen, cobre-lhe a boca para abafar os gritos, de repente para, fixa o olhar no vazio da parede branca, percebe o que acabou de fazer, está perplexo, sua mão continua a cravar a faca contra o corpo, de uma forma maquinal, repetitiva, até se cansar, o homem que olha além da parede sente escorrer entre os dedos o liquido quente e viscoso que vasa do corpo, está encharcado, roupas, chão, tudo, quando olha se assusta, está em suas mãos, então ele grita, chora, alto,entre berros, um choro pesado, como seria o de uma criança, ele se afasta, se encolhe contra a parede, volta a ser criança, criança apavorada.

WsCaldas
Enviado por WsCaldas em 08/07/2011
Reeditado em 08/07/2011
Código do texto: T3083208