Fuga Maldita - Parte II

A luz incandescente ofuscava levemente o brilho da lua. Ela parecia vir de dentro do chão, mas Netto entendeu que vinha de algum lugar abaixo da rodovia. Ele pensou esperançosamente que seria algum tipo de sinal de luz, mas não passava de um carro, que havia batido e capotado.

- Pode ter gente ferida lá.

— Amor, eu estou com medo. — Dayanne apertou o braço de Netto.

— Escuta amor, eu vou lá checar, trave as portas e só abra se eu voltar.

— Não fala assim. — Dayanne suava frio.

— É sério! Se eu não voltar em vinte minutos, ligue o carro e pegue a estrada. — ordenou com o dedo em riste.

Netto abraçou Dayanne e deu-lhe um beijo demorado, pois nenhum deles queria perder o outro.

— Eu te amo, não importa o que aconteça. Fique atenta!

Netto saiu do carro-forte e Dayanne fez o que lhe foi designado, travou as portas e ficou atenta a qualquer sinal de monstros, o suor escorria-lhe pela testa.

Netto se sentia despido, não tinha proteção nenhuma, era um alvo fácil do lado de fora do carro-forte que lhe dava total proteção. Seguiu a luz tampando a claridade com a mão. Seu coração dava saltos, que só foram apaziguados quando notou que o carro era fruto de um acidente, teria capotado da rodovia até ao campo ao lado onde agora, Netto gritava:

— Dayanne!

Nervosa, a garota correu até o amado e viu por que ele gritava, havia dois homens dentro do carro capotado. Um consciente, o outro podia estar morto. Ao chegar às ferragens, Netto verificou que o homem inconsciente tinha em seu braço o que parecia uma fratura exposta.

— Vamos retirá-lo com calma. No três: um dois... Três!

Conseguiram tirar o primeiro homem inconsciente, ele era pesado, branco loiro, tinha traços europeus.

— Agora você; Como se chama? — perguntou Netto.

— Diego. — respondeu.

— OK. Vamos lá. Um, dois... Três!

Eles puxaram o segundo homem que gritou um pouco, as ferragens o arranharam, mas depois de sair, ele conseguiu ficar de pé.

Colocaram o ferido no banco de trás junto com Diego, Netto rasgou a manga de sua camisa e estancou o ferimento do outro. Seguiram viagem sem rumo certo, esperavam apenas encontrar alguma ajuda. Rodaram por cerca de dez ou quinze minutos sem saber o que encontrariam pela frente.

Foram surpreendidos por uma blitz, pois havia barreiras, luzes e por trás de um blindado do exército, soldados fortemente armados apareceram de todos os lados, mas pareciam entender que se tratava de humanos e não daqueles monstros.

—Vocês têm dez segundos para se identificar. — um militar falou no megafone.

Dayanne não hesitou em abrir a porta do carro e sair com as mãos para o alto, apesar do medo e do nervosismo, ela sorria, aliviada.

— Temos dois homens feridos... — gritou com dificuldade.

— O que houve com vocês? — perguntou o soldado desconfiado.

— A cidade está infestada de... De monstros, não sabemos como isso aconteceu, mas estamos fugindo. Vocês têm que ir lá, ajudar aquelas pessoas, os pais do meu namorado ainda estão na cidade, precisamos de ajuda, remédio, comida, segurança. Qualquer coisa! — contou.

— Senhora, fique calma. Nós somos a ajuda, ok? Vocês desçam do carro. O soldado Guilherme levará o carro forte e vocês virão no nosso caminhão. — explicou.

Quarenta minutos mais tarde chegaram ao quartel local do exército, havia algumas pessoas que conseguiram escapar da cidade e muitos soldados preocupados com suas famílias. Pelo menos, tinham comida, segurança e remédios.

O homem ferido acordou atordoado, era irmão de Diego e se chamava Djalma. Ele estava estranho, sua pele com um aspecto pálido, as veias estavam saltadas, mas devia ser por conta do susto.

Na sala improvisada, todos relaxaram, pois estavam salvos. Agora, o exercito ia cuidar de tudo e tudo ia ficar bem. Netto só pensava em voltar e abraçar novamente seus pais, se é que ainda estavam vivos.

O relógio marcava cinco horas da manhã, mas não havia sinal de claridade. Se esses monstros fossem vampiros ou fantasmas, pelo menos não andariam pelo dia.

— Quero ir ao banheiro, onde fica? — perguntou o Djalma.

— Eu também vou. Te mostro o caminho. — disse Netto, indo à frente – Já volto, amor.

Os dois seguiram para o banheiro.

- Obrigado mais uma vez por ter nos ajudado, Netto. – agradeceu Djalma – Se não fosse por vocês, talvez, eu tivesse morrido.

- Sua fratura foi foda mesmo. – respondeu – Você deve ter desmaiado pela dor, no acidente, né.

- Na verdade, isso não foi uma fratura. – revelou o homem – Uma daquelas coisas me mordeu, mas meu irmão apareceu com uma barra de ferro e jogou a coisa longe.

- Nossa então você foi mordido? – perguntou Netto.

O homem balançou a cabeça afirmativamente.

- Acho que eles pensaram que você era o jantar. – e começaram a rir juntos.

De repente, Djalma ficou serio.

- Netto, eu estou enjoado. – disse o homem pondo a mão na boca – vou...

E saiu correndo para a privada.

Netto já estava no mictório quando ouviu Djalma vomitando alucinadamente.

- Eita, seu Djalma que vossa senhoria está mal hein.

Djalma não respondeu.

- Djalma?

Silencio.

- Ei Djalma, para de brincadeira, você ta bem?

Netto foi caminhando até a cabine do banheiro que o homem estava. Ele ficou assombrado, colocou a mão na boca de tão assustado. Por baixo da porta do banheiro uma poça de sangue aumentava a cada segundo.

- Djalma! – gritou Netto.

Abrindo a porta o rapaz viu uma cena horrível. O corpo de Djalma estava caído por sobre a privada, com a cabeça pendida para o lado esquerdo. O chão estava todo sujo de sangue, a porcelana do vaso estava vermelha.

- Meu Deus. – e começando a gritar – Alguém, Alguém ajuda aqui, um médico, rápido.

Os gritos de Netto foram ouvidos do Hall.

- Ei, alguém está com problemas. – gritou o cabo Pereira – Vamos lá, rápido.

Um grupo de três soldados e o cabo correu para o banheiro. Ao chegarem à porta, o grupo ouviu um urro estridente e os gritos de Netto. O cabo Pereira levantou a mão com o punho fechado.

- Gouveia, entra lá e informe a situação.

O soldado Gouveia entrou na ponta dos pés, mas nem todo o seu tempo de caserna o prepararia para o que ele veria ali.

Netto estava caído com um Djalma ensandecido e todo sujo de sangue tentando morder desesperadamente o seu pescoço. Os urros do monstro eram horríveis. Netto viu o soldado ali parado, sem acreditar no que estava vendo.

- Me ajuda aqui! – gritou Netto.

O soldado estava estático, mas o cabo entrou no banheiro com uma pistola em punho.

- Afasta ai Gouveia. – disse enquanto dava um empurrão no soldado medroso.

O soldado caiu no chão e soltou o fuzil, então o cabo fechou o olho esquerdo e fez a linha de mira na cabeça do monstro. Um tiro certeiro foi disparado e no segundo seguinte, Djalma estava morto e Netto estava respirando descompasadamente, estava aliviado.

- Ele te feriu? – perguntou Pereira.

- Não. – respondeu Netto assustado.

Dayanne entrou correndo pela porta e foi abraçar Netto.

- Garoto me conta o que aconteceu aqui! – disse uma voz grave.

Netto olhou na direção da voz. Era um homem com a farda do exercito, uma boina vermelha e divisas de capitão. Na vista do rapaz, aquele homem parecia ter dois metros e meio de altura, seu rosto sisudo transmitia uma sensação de crueldade e confiança.

- Parece que ele foi mordido por um dos monstros. – começou a explicar Netto – Ai, ele passou mal, vomitou sangue e quando fui olhar ele virou uma daquelas criaturas.

O capitão colocou a mão no queixo. Ficou pensativo.

- Anda Netto, levanta. – disse Dayanne.

O Cabo ajudou o rapaz a levantar. Netto estava todo sujo de sangue do Djalma morto-vivo.

- Chamem o Pel. Com. – ordenou o capitão - Eles tem que contatar o comando e pedir reforços.

Um soldado saiu correndo para cumprir a ordem do capitão.

- Pereira, chame os oficiais e os sargentos. – rosnou, novamente – Reunião na sala cinco em meia hora.

- Vamos para o combate aproximado, senhor?

- Vamos para o combate.

O cabo deu uma risadinha e saiu correndo e gritando:

- Muito bom!

CONTINUA...

João Murillo e Netto Andrade
Enviado por João Murillo em 08/07/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T3082950
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