O túmulo

Praticamente todas as semanas ele visitava o cemitério. Era um cemitério bem antigo, com muitos túmulos abandonados.

Era uma rotina deixar flores no túmulo de sua esposa desde que ela o deixou de modo tão repentino.

Ele agora precisava ser pai e mãe ao mesmo tempo.

Mas ele dava conta do recado e criava de modo exemplar suas três filhas.

Na verdade ele nunca se conformara com a morte da esposa e muitas vezes se pegava chorando e falando com o retrato dela nas mãos.

Mas naquela tarde algo aconteceria que mudaria sua vida, ou pelo menos o restante que sobrava dela.

Como de costume ele comprou um ramalhete de flores e se dirigiu para o cemitério.

E sem saber o porque ele colocou as flores no vaso, mas não todas, ficou com duas na mão.

Ficou um tempo ali sentado, meditando e depois saiu, mas se sentiu sem rumo e acabou indo para uma parte do cemitério onde ele nunca tinha ido.

Eram um setor de túmulos bem anrigos e abandonados.

Parecia que há muitos anos ninguém visitava aquele setor.

Ele circulou por ali até que se viu parado em frente à um túmulo muito antigo, completamente abandonado.

A placa quase ilegível indicava a data de nascimento e falecimento.

Duas crianças, um casal, gêmeos.

Sobre o túmulo a estátua de dois anjos corroídos pelo tempo e pelas intempéries da natureza.

Automaticamente ele depositou ali as flores que carregava e que se contrastaram com o túmulo negro.

Ao fazer isso ele sentiu um arrepio e um vento gelado passou por seu corpo todo.

O que ele não notou foi o espectro de duas crianças sentadas uma de cada lado do túmulo, esboçando um sorriso enigmático, misturando ingenuidade com maldade.

Ele nem sabe como mas quando percebeu já estava dentro de sua casa, com uma sensação estranha e sem saber muito bem o que teria acontecido.

Tomou um banho, jantou com as filhas e foi dormir.

Na manhã seguinte, se levantou como de costume e foi para o trabalho.

Suas filhas ligaram várias vezes para ele dizendo que estavam com medo pois estavam ouvindo barulhos pela casa como se fossem crianças rindo e brincando.

Ele pediu para que elas fossem para a casa da avó e que ele voltaria mais cedo para resolver o problema.

Quando retornou para casa, ela estava vazia. Ele entrou normalmente e sentou-se no sofá por alguns instantes e pode ouvir claramente risos e vozes infantis. Teve medo.

Os sons pareciam vir do quarto, depois da cozinha e sacada. Era como se as "crianças" estivessem correndo pela casa toda. Imediatamente ele se lembrara da tarde anterior e aquele túmulo do casal de gêmeos veio à sua mente.

Mas não podia ser, isso era impossível e irreal.

Ele fechou os olhos tentando achar uma exploicação para aquilo que estava acontecendo e tentando se lembrar dos nomes que estavam escritos na lápide.

Ele continuava de olhos fechados até que se lembrou dos nomes. Ele não sabia que efeito poderia ter se ele os chamasse pelos nomes mas precisava arriscar apesar do medo que estava sentindo.

Ele precisava fazer isso. Criou coragem e as chamou pelos nomes.

- Diogo e Alice.

Continou de olhos fechados. Um silêncio absoluto e doentio tomou conta do ambiente.

Pareceu levar horas os minutos que se seguiram.

Ele sabia que elas estavam na sua frente. Ele podia sentir isso.

Respirou fundo e abriu os olhos e as viu.

Sim, duas crianças trajadas com roupas de outra época estavam na sua frente e olhando fixamente para ele.

O modo como o olhavam causou muito medo, não era um olhar infantil e muito menos infantil.

- O que vocês querem? O que fazem aqui? Indagou ele às crianças.

Ele tinha medo da resposta. E tinha razão.

O menino então contou que eles foram assassinados pelo próprio pai, depois que a mãe também foi assassinada por ele após ter sido pega em adultério no vilarejo onde viviam.

E antes que o pai se suicidasse os amaldiçoou para que ficassem vagando sem rumo até o dia que alguém depositasse duas flores sobre o túmulo deles.

E esse dia aconteceu. E eles agora viveriam ali com ele e sua família.

E quando falaram isso suas fisionomias se transformaram, deixando transparecer que não estavam brincando.

Deixaram se mostrar quem realmente eram.

Na verdade ele pode ver que eles de algum modo fizeram com o pai matasse a mãe e depois se suicidasse, só não imaginavam que seriam assassinados também.

Eles eram espítos maldosos e sem luz.

E passariam a viver com ele naquela casa. Seria a liberdade deles.

E ele era o responável por isso. E eles o chamavam de pai.

As crianças fciaram ali paradas. Ele ficou imóvel por um tempo.

Sabia que não adiantaria se mudar. Elas iriam junto.

Ele pegou o celular e ligou para as filhas. Disse que acontecesse o que acontecesse, que elas não voltassem para casa até que ele resolvesse o problema.

Já passava das 10 da noite, mas ele sabia o que precisava fazer.

Saiu correndo e foi até o cemitério e como conhecia o vigia noturno, consguiu entrar e com muito custo conseguiu achar o túmulo e lá estavam as flores que ele depositava na tarde anterior.

Elas já estavam murchas e quase se misturando com as cores cinzas do túmulo.

Imediatamente ele pegou as flores e jogou longe.

Ele sentiu que algo aconteceu nesse momento. Era como se algo o sufocasse. Ele sentiu muito medo.

Ele notou que as flores voltavam ter cores vivas equando voltou a olhar para o túmulo pode ver ali sentados duas crianças. A expressão delas era de ódio, de dor, de fracasso.

Voltou para casa onde passou a noite sozinho.

No dia seguinte as filhas retornaram e nunca mais se ouviu nada.

Mas por via das dúvidas eles se mudaram para outra casa no outro lado na cidade.

Nunca se sabe né.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 07/07/2011
Código do texto: T3081874
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