Será que sonhei?

Era um bicho muito esquisito, de quatro pernas e quatro braços.

Em cada braço tinha quatro mãos com oito dedos.

Em cada perna tinha quatro pés com oito dedos e unhas cumpridas e sujas. Sua cabeça era pequena, porém, suas quatro orelhas eram enormes e pontudas em direção ao céu que estava escuro e sombrio naquela noite sem estrelas.

Seus quatro olhos, dois azuis e dois verdes centralizavam em sua face negra, os quais pareciam quatro bolas de fogo vindas das profundezas do inferno.

Tive medo do seu olhar, mas, tive mais ainda da sua boca faminta que mastigava algo parecido com feno, e seus dentes eram pontiagudos e afiados como navalha os quais poderiam ser vistos mesmo quando ele fechava a sua grande e vermelha boca.

Quando ele se irritava saía fumaça de suas quatro narinas peludas ao rolar ao vento, que de tão cumpridas se confundiam com seus bigodes feitos em trança que pareciam aqueles indianos antigos.

Uma de suas pernas era manca e por isso ao caminhar ele cambaleava de passo em passo. Ainda bem, porque isso o tornava lento e assim seus perseguidos às vezes conseguiam fugir de seu instinto diabólico. Todavia, se o pobre cordeiro fosse apanhado, sua carne e seus ossos eram triturados em segundos sem sequer uma chance de sobrevivência. Tudo isso porque seu humor não era dos melhores, qualquer barulho ofendia sua audição perfeita, e quando isso acontecia ele acordava de seu sono de dezoito horas diárias e começava a caçada incansável para saciar sua fome e sede que parecia ser insaciável aos meus olhos medonhos.

Para vencê-lo é necessário acreditar no impossível, no insensato, no inadequado, no inoportuno, no impiedoso, no inacreditável, no indestrutível, no intolerante, no inescrupuloso, no invariável, na injustiça e lutar com unhas e dentes, olho por olho, e impor sua força e seus desejos.

Depois dessa noite, nunca mais fui ao Congresso Nacional.

Edilson Biol
Enviado por Edilson Biol em 03/07/2011
Reeditado em 03/07/2011
Código do texto: T3071997
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