O Dia que Marta Surtou, ou o Consolo Estapafúrdio ( O horror da vida real)
O dia que Marta surtou, ou o consolo estapafúrdio
Por Ramon Bacelar
Débora tinha acabado de cochilar quando o fone tocou.
-Alô... Marta?
-Débora, que bom que te encontrei.
-Estou de férias querida.
-Você não sabe o que aconteceu.
-Como?
-Venha aqui, agora.
–De novo amiga? - “Deve estar naqueles dias”, pensou. – Eu falei que o Murilo não servia para¬ você.
-Não é isso, venha logo; pelo cel não dá. É ver para crer!
Débora não entendeu, mas positivou antes de trocar de roupa.
***
-Que bom que você veio!
-Sim, qual o problema desta vez maluquete. – A voz de Débora exalou como uma cacofonia de tédio.
-Não está notando nada de diferente?
Ponderou antes de responder.
-Não... Você continua a mesminha de sempre. - Asfixiou um sorriso.
-Não, não, não... Não me venha de novo com suas brincadeiras e gracinhas irônicas querida. O negócio é sério.
-Tão sério quanto eu. – Explodiu em gargalhadas.
- Débora!
-Desculpe amiga, mas sinceramente não vejo motivo pra tanto drama. Aliás, não vejo nadinha de nada. Só porque fiquei uns dias sem te ver, não...
-Vamos pro meu quarto!
-Quê?
Marta subiu as escadas como uma rã paranóica fugindo de uma assombração.
***
-Entre e feche a porta amiga.
-Pra quê, você mora sozinha!
-Se alguém me ver deste jeito eu morro!
-Andou fumando o quê querida?
-O baseado do auto-engano e agora... A ressaca da verdade!
- O que você está falando? – “Agora surtou de vez”, pensou – O que... Que está fazendo?!
Marta se despiu.
-Toque em meu rosto.
-Que?
-Toque!
Preferiu não discutir.
-Agora nos braços... Não assim não, apalpe, massageie e “sinta”, assim...
-Marta...
-Continue. Cintura... Agora as coxas ... Em minhas nádegas! – A voz saiu pastosa.
-Chega maluca! – Explodiu e suspirou. - Marta, eu gosto de homens... Com H! Porque não me falou antes? Depois de tanto tempo só agora você sai do guarda roupa!
-Débora, você está morrendo de saber... - Pausou como se engasgasse com as palavras. - ...não me venha com suas desculpas, nem tente me consolar . – Suspirou - Você falou guarda roupa! Claro que você sabe!!
-Sei o que pelamordedeus ?!!
Futucou as prateleiras e vestiu uma calça.
-Agora não têm escapatória queridinha. Eu comprei está calça com vo-cê!
-Marta...
-Falo eu! – Girava o pescoço de olhos virados como a Joelma do Calipso possuída pelo capeta do exorcista - Olhe para a aderência do jeans, a marca na cintura, o zíper torto...
-Você me chamou aqui para me mostrar...
-Sim!!! Eu estou gorda, g-ô-gôr-dê-a-dá, Gordinha da Silva, GOR-DA!!
Débora espumava como um pitbull raivoso, mas não respondeu.
-Gordíssima querida... Tão gorda que... – Olhou para baixo. - Meu Deus!!! Tão gorda que o botão vai saltar para fora !!!
Débora suspirou e olhou a amiga nos olhos.
-Você está completamente obsessiva e paranóica, não é de hoje que te conheço querida... Você deveria consultar um psicólogo... Ou psiquiatra!! – Tocou a testa da amiga em tom apaziguador. – Amiga tire isso da cabeça, você... Você não engordou não... Sua calça que emagreceu!!
Foi a última coisa que falou, antes do “plic” “plic” do botão no piso azulejado denunciar a perda de mais algumas gramas.
FIM