O MISTÉRIO DO VELHO CASTELO - PARTE 2

Uma garoa fina caia no Instituo Psiquiátrico Dr. Adolfo Bastos quando Armand acordou. O vento frio e a neblina que sopravam lá fora contribuíam para deixar ainda mais gelados os corredores sombrios do antigo hospital. Quem trabalhava ali sabia o drama que os pacientes viviam. Poucas foram as pessoas que se curaram, e, apesar de todos os avanços da medicina mental, não era possível dizer que de fato havia um progresso.

Ah... aquele quarto. Era ali que Armand havia passado os últimos 10 anos de sua vida. A rotina era sempre a mesma, um banho logo pela manhã, o café e o remédio no refeitório e o restante do dia livre no pátio com os outros pacientes. Sempre que chovia eles ficavam no saguão principal ouvindo música. As terças-feiras haviam visitas, e não era raro ver que aos poucos, um a um, eles eram esquecidos pelos seus. Durante a tarde podiam comer pão com manteiga e geléia de goiaba com suco de laranja ou de limão até as 15 horas. As 18 horas eram servidos mais remédios seguidos do jantar, um arroz mais branco que as paredes do lugar, feijão, carne moída e as vezes purê de batatas.

Após a última refeição, todos eram encaminhados para seus quartos para dormir. Durante a noite, todas as luzes eram apagadas. O dia começava cedo. E a noite também. Armand sempre demorava para pegar no sono. Aquele lugar o perturbava. Era sempre possível ouvir os gritos horripilantes de pacientes com alucinações, e freqüentemente escutava passos no corredor. Não sabia se eram enfermeiros indo e vindo, mas aquele som era infernal, e, por mais que tentasse, não se lembrava quem era e o porque estava ali. Mas havia sempre aquele medo, não conseguia ficar em lugares escuros e desatava a gritar sempre que alguém apagava sua luz por engano.

Quando pegava no sono, geralmente tinha pesadelos horríveis, dos quais apenas ficava uma amarga sensação de terror quando acordava. Era sempre a mesma coisa, mas não naquele dia.

Estava olhando calmamente pela janela quando um turbilhão de lembranças lhe veio a mente. Sons confusos de gritos desesperados e um flash de uma pessoa rolando pelas escadas de uma suntuosa construção lhe passaram rapidamente pela cabeça. De repente ele se lembrara. O médico, os policiais a cama, tudo lhe viera a mente. Sentiu-se tonto, caiu no chão e começou a gritar o único nome que lhe viera a cabeça naquele momento.

-Dr. Josh!!!!!!! Me ajude!!!! Socorro!!!!!!!!!!!!

A enfermeira Maria Gertrudes, mais conhecida como Trude tinha acabado de chegar ao trabalho quando ouviu os gritos. Vindo da ala C, ela nunca escutara aquela voz. Não era possível que um paciente novo desse entrada sem que ela soubesse. Com 45 anos de idade, 20 dos quais dedicou ao seu trabalho, ela era a pessoa responsável por esse tipo de coisa. Foi por isso que estranhou tantos gritos altos. Deu de ombros. Estava se dirigindo para seu escritório quando Sam , um dos enfermeiros que estava correndo em direção aos quartos dos pacientes mudou de curso e parou em sua frente ofegante:

-Trude, você precisa ver isso – ele estava com um arranhão feio no rosto, a marca vermelha, o que devia estar doendo bastante.

-Quem fez isso no seu rosto Sam?

-Ah, você não faz idéia... faz muito tempo que não temos algo desse tipo por aqui – o arranhão o incomodava, mas dava para ver que a surpresa nas suas palavras e nos seus olhos ofuscavam completamente a dor.

-Olha, com esses gritos histéricos curada é que a pessoa não ficou.

-Não Drª, mas se conheço o paciente, é um avanço e tanto.

-Estamos falando de quem Sam?

-Vamos, venha ver com os seus olhos.

Trude não tinha muito jeito para conversa, de modo que aceitou logo o que seu colega lhe sugerira. A medida em que os som dos gritos aumentava, seu espanto ficava mais evidente. Deixou de caminhar e saiu em disparada em direção ao quarto de Armand. Empurrando os outros enfermeiros ao redor deparou-se com uma cena que jamais havia visto antes.

-Dr. Josh, me ajude!!! Socorro!!!! Me ajude!!!!

-Demos um calmante pra ele, mais uns cinco minutos e fica melhor.

-Qual a situação? O que aconteceu? – perguntou Trude.

Um médico de meia idade com uma prancheta nas mãos se aproximou. Baixinho e com uns quilos mais, sua face era corada, e seus cabelos ralos e brancos lhe davam uma aparência muito mais velha do que realmente ele era. Ele era o vice-diretor e o psiquiatra responsável pela administração da ala C, Dr. Fischer.

-Não sabemos. Quando o encontramos ele estava no chão tentando se esconder. Nos disse que tinha se lembrado do que aconteceu com os Monteiros e desde então está gritando pelo nome do Josh.

-Muito cedo pra chamar a polícia não concorda? – Trude se dirigiu a porta, os gritos do mordomo Fedorento já estavam deixando ela irritada.

Fischer concordou.

-Sim, ele está em estado de choque. Se ele se recuperou total ou parcialmente não ainda não temos como saber. Logo ele estará dormindo, quando acordar ele vai estar mais calmo e o Josh já vai ter chegado, mandei que ligassem pra ele.

-Ótimo, a propósito, faz tempo que não temos um avanço aqui dentro... – foram interrompidos por gritos diferentes, de um desespero muito maior, a princípio altos, e aos poucos diminuindo de volume até desaparecerem:

-Tire suas mãos de mim!!!!! Não quero, eu não quero, eu não fiz nada... me ajude Deus, eu não fiz nada... me ajude... me ajude... me aju...

O velho mordomo fedorento tinha pegado no sono. Se ele voltaria a falar, dali a duas horas eles saberiam.

Bonilha
Enviado por Bonilha em 01/07/2011
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3068799
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